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Ameaça do Copom: professor de  Cambridge contesta  alta da Selic

Na avaliação de Chang, em função dos juros altos e do câmbio apreciado o Brasil não tem crescido o suficiente para ficar próximo do desempenho alcançado por outras nações em desenvolvimento. Acadêmico contesta aparente consenso de analistas sobre sistema de metas de inflação adotado pelo Brasil.

O aparente consenso de analistas do mercado financeiro de que será inevitável o Copom iniciar um novo ciclo de aperto monetário até junho, ou no máximo no terceiro trimestre, para conter de forma preventiva uma alta da inflação é visto como uma avaliação tendenciosa pelo professor de Cambridge Ha-Joon Chang, um dos principais acadêmicos de origem asiática que criticam o pensamento econômico neoliberal.

Para ele, o regime de metas de inflação é bom para as instituições financeiras, pois viabiliza a adoção de juros altos e câmbio apreciado. "Essas pessoas falam que os juros têm de subir, pois defendem o ponto de vista do mercado financeiro. Mas isso é bom para o resto da economia?", questionou, ao conversar com um grupo de jornalistas no seminário internacional Laporde 2010, realizado nesta segunda-feira, 11, em São Paulo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

De acordo com o Banco Central, o país deve ter atingido uma expansão de 0,2% em 2009. De acordo com o HSBC, no ano passado os países emergentes devem ter apresentado uma expansão média de 1,5% – destaque para a China, com incremento de 8,5% do PIB, e Índia, que deve ter apurado um avanço de 6,9%. Para 2010, o HSBC projeta uma alta média de 6,2% para os emergentes, mas o Brasil registraria um aumento de 5,6% do PIB. A China deve exibir uma alta de 9,5%, enquanto a Índia pode obter uma alta de 7,8%.

Segundo o professor de Cambridge, o Brasil precisa deixar de guiar a política econômica de acordo com "os interesses do mercado financeiro", fato que, para ele, já ocorre há 15 anos. Em 1994, o Plano Real foi implementado para acabar com a hiperinflação, mas o governo na época adotou um regime de câmbio semifixo que dependia em grande parte do ingresso de capitais para valorizar a cotação da moeda nacional ante a norte-americana e, com isso, reduzir o custo dos produtos importados.

Chang concorda com o prêmio Nobel Paul Krugman, que afirmou, em recente visita a São Paulo, que o câmbio valorizado é um problema sério para o País. De acordo com o Banco Central, a cotação da moeda brasileira perante uma cesta de 15 divisas registra uma apreciação próxima a 20%, como consta de apresentação do último Relatório de Inflação pelo diretor de Política Econômica, Mário Mesquita.

Segundo o professor de Cambridge, o Brasil já começou a atacar este problema com a implementação do IOF de 2% sobre o ingresso de capitais estrangeiros direcionados à renda fixa e à renda variável. "Não sou favorável ao controle de capitais que ficou consagrado nos anos 60 e 70", afirmou, ponderando, no entanto, ser favorável ao aumento do IOF adotado pelo Ministério da Fazenda e que poderia ser complementado eventualmente por outras ações, como nova alta da alíquota de IOF ou a adoção de períodos mínimos de presença do capital no país.

Selic

Para o acadêmico sul-coreano, a adoção de um novo movimento de alta da Selic não é necessário, pois a inflação a 4,5% ao ano no País não causaria problemas e não existiria risco iminente de descontrole dos índices de preços. "Elevar os juros hoje é um exagero", comentou, acrescentando que tal fato pode ser comparado ao excesso de zelo adotado por alguém que teme a chegada do inverno no hemisfério norte, mas decide elevar a temperatura da sua casa em agosto, no pico do verão.

Para Chang, um aumento da Selic é extemporâneo também porque as taxas de juros nominais estão num patamar muito baixo nos EUA, Japão, Zona do Euro e Reino Unido. Nesse contexto, investidores captam recursos com baixo custo nesses centros financeiros e aplicam os capitais no Brasil para lucrar com a arbitragem de juros – o que é conhecido no mercado financeiro como carry trade – e isso agrava a tendência de valorização do câmbio. "Este país não tem crescido o suficiente. É tolice deixar essa oportunidade desaparecer com a elevação dos juros. Por favor, esperem que as taxas de juros subam em outros países para que vocês considerem a necessidade de elevá-la aqui", disse.

O acadêmico fez comentários que deixariam assustados economistas que defendem índices de preços baixos e são favoráveis ao sistema de metas de inflação. Segundo ele, o Brasil mostrou por tempo suficiente a "obsessão" por custo de vida baixo, o que provocou taxas baixas de crescimento do nível de atividade por vários anos. Ele mencionou que até alguns acadêmicos ortodoxos, como o norte-americano Robert Barro, apontam que taxas de inflação até 10% ao ano não provocam prejuízos para o incremento do nível de atividade dos países. "A Coreia do Sul foi uma das nações que mais cresceram nos anos 1970 e atingiu uma inflação ao redor de 20% ao ano", disse.

Contudo, Chang reconheceu que seu país de origem não viveu por 14 anos com problemas de hiperinflação como ocorreu no Brasil. No último relatório de inflação divulgado pelo Banco Central no dia 22 de dezembro, é destacado que os índices de preços têm resistência maior a cair no País do que em outras nações. Tal fato possivelmente está relacionado ao histórico nacional de longo período de alta dos preços, o que era perpetuado pela inércia inflacionária e falta de confiança dos agentes econômicos sobre os programas oficiais de combate à inflação.

A informação é da agência Estado