Obama: Um ano na Casa Branca sem comemorações
Barack Obama tomou posse há exatamente um ano como um super-herói negro e pacifista. Os Estados Unidos passavam por uma das maiores crises de sua história: a economia ia mal, havia duas guerras em andamento e a popularidade do país na comunidade internacional estava no chão. Mas a euforia em torno do 44º presidente norte-americano durou pouco, o tempo de se perceber que só mesmo com super-poderes Obama conseguiria cumprir tantas promessas.
Publicado 20/01/2010 13:07
Uma pequena parte do passivo deixado por George W. Bush foi sanada, mas nem o decreto que previa o fim da prisão de Guantánamo, assinado dois dias depois da posse, pôde ser cumprido. O governo Obama completa o primeiro aniversário sem festa, até porque está empenhado na ajuda humanitária ao Haiti.
A prioridade número 1 era aplacar a pior crise financeira das últimas oito décadas. Numa difícil queda de braço com a oposição republicana, Obama conseguiu aprovar o primeiro pacote logo no início do mandato – 787 bilhões de dólares foram injetados para estimular a economia.
Outros pacotes e medidas foram criados para diminuir o caos nos setores mais atingidos pela crise: habitacional, bancário e automobilístico. Deu certo em parte: o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 3,5% no terceiro trimestre de 2009. Mas, ao norte do Equador, as pessoas não costumam acreditar em milagre. A taxa de desemprego continua alta (10%) e o país enfrenta o maior endividamento público de sua história, mais de 12 trilhões de dólares, 2 trilhões a mais do que no fim do governo Bush.
Há três meses, Obama viveu um dos melhores momentos de seu governo, ao ganhar o Prêmio Nobel da Paz. As Guerras do Iraque e Afeganistão, no entanto, não terminaram. Ele planeja diminuir as tropas no Iraque de 120 mil para 50 mil até agosto e dar um fim ao conflito em 2011. Os soldados que deixam o território iraquiano já têm destino certo: o Afeganistão. Cerca 30 mil chegaram às bases norte-americanas da região no fim de 2009, quando a guerra completou oito anos.
Até julho de 2011, a retirada de tropas deve começar, prometeu o presidente que, ao receber o Nobel, defendeu a "guerra justa" e a "intervenção militar necessária". Sua escolha surpreendeu inimigos, aliados e até ele mesmo. "Para ser honesto, não sinto que mereça estar na companhia de tantas figuras transformadoras que foram homenageadas com esse prêmio", disse na ocasião.
Entre as promessas ainda não cumpridas, Guantánamo foi a mais notória. Dois dias depois da posse, Obama assinou um decreto que previa o fechamento da prisão em um ano. Dos 272 presos, 44 foram libertados ou transferidos. Mas os demais continuam na penitenciária e ninguém consegue enxergar qualquer luz no fim do túnel.
Nos EUA de Obama, terrorismo ainda está longe de ser assunto encerrado. No Natal, o episódio do avião que quase explodiu entre Amsterdã e Detroit não provocou nenhum morto ou ferido, mas acendeu o alerta.
Comunidade internacional
Pouco mudou na relação com a América Latina. Na crise de Honduras, em junho do ano passado, Obama num primeiro momento condenou o golpe, mas em seguida reconheceu as eleições presidenciais, realizadas sob um regime ilegítimo, em meio a protestos de quase todos os vizinhos latino-americanos e da Europa, que não aceitavam a deposição de Manuel Zelaya. Por causa de divergências partidárias, os EUA demoraram a agir. Ao apoiar a eleição, Obama garantiu o uso da base aérea de Palmerola pelas tropas norte-americanas.
Os EUA já não são tão impopulares na comunidade internacional. Mas a participação de Obama na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, no mês passado em Copenhague, não rendeu os frutos esperados.
A diminuição de restrições a Cuba também foi pouca para um presidente que tinha mudança como mote. Além do episódio hondurenho, a relação com o Brasil teve outros momentos polêmicos.
A ideia de expandir a presença militar na Colômbia foi mal recebida pelo governo Lula, enquanto a visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a Brasília foi criticada por Obama. Lula, por sua vez, durante visita oficial à Alemanha, disse que países como EUA e Rússia deveriam acabar com seus arsenais nucleares antes de fazer cobranças ao Irã.
Entre os norte-americanos, uma nova pesquisa do instituto Gallup mostra que Obama tem hoje uma aprovação de 50%. A queda foi de 18% em um ano. Para piorar, os democratas perderam ontem a vaga que era de Ted Kennedy no Senado norte-americano. A Casa Branca informou que não haverá nenhum festa para o primeiro ano do mandato. O porta-voz Robert Gibbs informou que nada especial foi planejado, sem dar explicações.
Fonte: Opera Mundi