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Será possível suportar o peso da dívida pública sem inflação?

Será que neste 2010 a recuperação das economias se esforçará para conseguir bases mais sólidas? Esta é uma das perguntas dos mercados que diz respeito à capacidade dos governos e dos bancos centrais de suportarem o peso da dívida pública sem disparar o gatilho da inflação.

Por Laura Britt, no Monitor Mercantil

O risco de inflação provém sempre de três fontes, avalia a Black Rock. Primeiro, de um provável aumento dos custos das commodities. Segundo, de determinados mercados emergentes, onde o grau de valorização do dinamismo produtivo é maior.

Terceiro, da preocupação em torno da questão de até que ponto a política dos grandes bancos centrais poderá financiar os grandes déficits dos orçamentos estatais, sinaliza uma prática, particularmente, inflacionária.

Hoje, contudo, uma grande parcela de adicional liquidez tem permanecido dentro dos inconfessáveis porões do sistema bancário e não tem sido até agora repassada à disposição da economia maior, enquanto os bancos mantêm-se hesitantes.

Emprestar ou não emprestar – é algo que não torna provável uma grande evolução, um grande aumento no consumo privado. Paralelamente, é praticamente impossível ter hoje uma alta inflação estável sem prolongada alta do mais importante denominador estrutural, que são os salários.

Sindicatos perderam força

Na década de 1970 e nos primeiros anos da década de 1980, períodos durante os quais a alta inflação deixou impagáveis rastros, a corrente de salários e preços ocorreu no âmbito de sindicatos fortes e de um dinamismo trabalhista de jovens (baby boomers), os quais tinham tendência de não consumirem, mas, também, de saber fazer greve.

Hoje, os sindicatos perderam grande parcela de sua força, enquanto, os trabalhadores se tornaram muito mais individualistas. Assim, a força de negociação tem sido transferida das mãos dos trabalhadores às mãos dos empregadores, os quais concentram sua atenção no corte de custos, enquanto as economias ocidentais registram gigantesco percentual de denominadores superavitários de produção e população envelhecendo, dois fenômenos, por natureza, anti-inflacionários.

Além disso, a crise mundial deixou restos de dinamismo produtivo consideravelmente superior àquele que existia como, por exemplo, após a profunda crise da economia mundial no início da década de 1980.

Assim, sustenta-se amplamente que seria extremamente incomum verificar que a inflação aumenta rapidamente, enquanto estará mantido um tão elevado superávit de recursos produtivos, a não ser que o crescimento, o qual espera-se que será forte nas economias emergentes na próxima década, surpreenda registrando grande alta, também, no mundo desenvolvido.