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Anistia: Grevistas que desafiaram a ditadura serão homenageados

O ministro da Justiça, Tarso Genro, participa nesta quinta-feira (4), em São Paulo, de sua última edição da Caravana da Anistia à frente da pasta. O projeto da Comissão de Anistia do MJ, que está em sua 33ª etapa, promoverá uma série de julgamentos, homenagens na Sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi da Cruzes.

O ponto central da Caravana será a homenagem aos trabalhadores grevistas que desafiaram a ditadura. Nessa edição, haverá uma sessão de memória e a formação de quatro turmas de julgamento para a apreciação de mais de 80 pedidos de anistia de metalúrgicos e militantes políticos que foram perseguidos pelo regime militar (1964-1985) em São Paulo e região.

Desde abril de 2008, a Caravana já passou por 17 estados e julgou mais de 700 pedidos de anistia nos locais onde ocorreram as perseguições. Todas as regiões do país já foram visitadas pelo projeto, que já esteve na capital paulista em duas outras ocasiões ocasiões.

Nas Caravanas da Anistia é que o Estado brasileiro formulou pedidos de desculpas oficiais a muitos de seus mais ilustres cidadãos e suas famílias, como o ex-presidente João Goulart, o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, o ambientalista Chico Mendes e o educador Paulo Freire, entre tantos outros opositores ao regime.

Preste a completar dois anos em atividade, a Caravana da Anistia aproveitará esta edição para realizar uma comemoração dos resultados obtidos nas 32 edições anteriores, com a presença de inúmeros perseguidos políticos históricos e de seus familiares, entre eles Clara Charf (viúva de Carlos Mariguella), Daniel Souza (filho de Betinho), Nita Freira (viúva de Paulo Freire), Jair Krishke (Movimento Nacional Justiça e Cidadania), João Vicente Goulart (filho do Presidente Jango) e Lúcia Alencar (irmã de Frei Tito).

A cerimônia terá como mestre de cerimônia a atriz Zezé Mota e conta ainda com a participação do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Também estarão presentes diversos representantes da sociedade civil, entre eles o presidente da Força Sindical, Paulinho Pereira; o Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Miguel Torres; o Secretário-Executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Daniel Seidal; o representante da Associação Brasileira de Imprensa, Rodolfo Konder; e o Procurador da República Marlon Weichert;

Serviço: 33ª Caravana da Anistia
Data: 4 de fevereiro
Horário: 9h30
Local: Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi da Cruzes
(Rua Galvão Bueno, 872, Liberdade)

Conheça alguns dos casos que serão apreciados em São Paulo:

Mário Covas – Foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), seccional São Paulo, deputado federal constituinte, senador, prefeito e governador de São Paulo por 2 mandatos, além de um dos fundadores do MDB, partido de oposição ao regime militar. Preso em função de sua militância política e indiciado em inquérito parlamentar, teve o mandato de deputado federal cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos em 1969. Voltou a se dedicar à política em 1979, com a anistia. Em 1988, candidatou-se a Presidência da República em 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente após o regime militar. Faleceu em 2001 em São Paulo.

Oswaldo Francisco Ramos o Anistiando foi detido pelo DOPS/SP diversas vezes. Uma vez em 1969, outra em 30/10/1979 e novamente preso, em 04/06/1984, “em flagrante por policiais militares, juntamente com outros metalúrgicos militantes do PCdoB, pichando um muro na cidade de São Paulo com frases injuriosas ao regime vigente”.

Cícero Luiz dos Santos O Requerente era operário e militante da Ação Popular quando foi preso 07 de fevereiro de 1969 pelo DOPS por desenvolver atividades subversivas no Município de Osasco/SP, e depois encaminhado para o Presídio do Hipódromo de São Paulo. Permaneceu em cárcere por, aproximadamente, 94 (noventa e quatro) dias, e neste período foi submetido a interrogatórios e a torturas de ordem física e moral.

Fábio Cândido da Silva em 01/02/1985 foi preso e afastado do cargo de Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados de Franca. Foi anistiado pelo Ministério do Trabalho em 18/03/1985.

Maurício Valente Souto de Castro
foi ativista político, tanto do movimento estudantil, como do movimento bancário, sendo dirigente de mobilizações do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, foi detido pela polícia várias vezes, frisando o período de organização da tendência estudantil Alicerce, em 1982. À época dos fatos laborava no Banco Bamerindus, atual HSBC, e que foi demitido em 06/12/1982 em virtude de suas atividades políticas e sindicais.

Yone Sano – secretária, era militante do PCB quando foi presa em 1972. Perdeu o emprego em decorrência da perseguição política.

Albergio José Maia de Farias – Estudante, foi preso em 1964. Acusado de pertencer à Sociedade Cultural Brasil-União Soviética, onde era difundida a doutrina marxista, foi indiciado em inquérito policial militar em 1965.

Dora Augusta Rodrigues Mukudai: filha do 2º sargento do Exército Darcy Rodrigues, que desertou da corporação juntamente com o capitão Carlos Lamarca, em 1969, em Osasco. Dora teve que ir para o exílio em Cuba com a mãe no mesmo ano, em função da perseguição das autoridades. Preso, seu pai se juntou à família após ser trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, seqüestrado pela guerrilha em 1970. Dora voltou ao Brasil apenas em 1980.

Antônio Campoamor do Nascimento: cearense, Nascimento emigrou para São Paulo nos anos 1960. Militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) esteve preso no Dops e no Presídio Tiradentes. Demitido do trabalho em função da militância, sobrevive atualmente em precária situação financeira.

Caio Boucinhas: atuou nos movimentos estudantis, popular e operário em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São Paulo. Indiciado em inquérito policial-militar, teve que entrar na clandestinidade em 1969, quando foi obrigado a abandonar o emprego e a cidade em que vivia (Belo Horizonte).

Ilda Tarzia: foi presa e indiciada na Lei de Segurança. Julgada e condenada na Justiça Militar, informa ter sofrido coação moral por parte dos agentes da Polícia Federal. Ilda era acusada pelo regime de pertencer ao Partido Comunista.

José Augusto Pereira: professor, foi preso em 1973, quando sofreu lesões corporais. Era considerado pelo regime como um dos “principais agitadores” da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI).

Euclides Garcia Paes de Almeida: perseguido politicamente, fugiu para o Uruguai, onde foi preso em 1969. Colocado em liberdade pelas autoridades de Montevidéu, após o suicídio de um colega de cela, continuou sendo vigiado no Brasil após voltar ao país, em 1971.

Carlos Alberto de Almeida Normanha: assinou a lista pela legalização do PCB em 1962 e participou dos congressos da UNE e da União Estadual dos Estudantes (UEE) de SP em 1963. Foi preso em 1969.

Vilma Amaro: jornalista, pertencia ao Partido Operário Revolucionário. Foi presa no Congresso da UNE em Ibiúna, em 1968. Entrou para a clandestinidade entre 1970 e 1975, quando passou por Chile, Uruguai, Colômbia e Venezuela.

Domingos Fernandes: militante de esquerda, foi trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, seqüestrado em 1970. Banido do Brasil, retornou apenas em 1979, com a promulgação da Lei de Anistia (6683/79). Alega que teve sua profissão de decorador interrompida em função do banimento.

Walter Joly: militou na União da Juventude Comunista (UJC) em Jundiaí e na Aliança Libertadora Nacional (ALN), na capital. Em 1972, foi preso e barbaramente torturado no DOI-CODI durante a operação Bandeirante (OBAN) – centro de informações, investigações e de torturas montado pelo Exército em 1969. O local coordenava e integrava as ações dos órgãos de repressão às organizações de esquerda que combatiam o regime.

Eva Teresa Skazufka: foi presa em abril de 1970, grávida de três meses. Após a saída da prisão, em novembro do mesmo ano, era obrigada a comparecer semanalmente à Auditoria Militar para assinar a liberdade condicional. Foi presa ainda mais três vezes entre 1973 e 1974.

Lúcia Maria Salvia Coelho: foi perseguida, presa e torturada em 1971. Ficou detida no Presídio Tiradentes. É esposa de Ruy Galvão de Andrada Coelho, que também terá seu processo julgado nesta edição da Caravana. Ruy Galvão sofreu perseguição política até 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal. Foi torturado e preso em 1971 no mesmo presídio.