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Colômbia: a 4 meses da eleição, Uribe atua como candidato

A campanha presidencial na Colômbia começou oficialmente na última sexta-feira (29). Na prática, porém, o cenário continua o mesmo: o presidente Álvaro Uribe ainda não pode anunciar que concorrerá à reeleição e os demais candidatos já estão em campanha há vários meses. A eleição está marcada para 30 de maio de 2010.

O clima no país, entretanto, é de incerteza. A candidatura de Uribe está nas mãos do Tribunal Constitucional, que precisa deliberar sobre a realização do referendo que pode alterar a Constituição para permitir que um presidente concorra ao terceiro mandato.

Se o Tribunal declarar o referendo viável, o problema será a falta de tempo. Em 12 de março se encerra o prazo para registro das candidaturas e a decisão do Tribunal pode levar até 90 dias para ser tomada. Com isso, advogados próximos ao governo pediram ao Tribunal para que o prazo seja prolongado, para permitir a inscrição do presidente e dos candidatos uribistas, que condicionaram suas candidaturas ao resultado do referendo.

Por enquanto, o único dos governistas que parece estar em campanha é o próprio presidente – apesar de negar a candidatura.

“A agenda de Uribe faria inveja a qualquer candidato, se não fosse paga inteiramente pelos contribuintes”, afirmou ao Opera Mundi o político Iván Cepeda, que concorrerá pelo partido oposicionista Pólo Democrático a uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Exemplo disso é que Uribe promoveu em uma semana quatro debates considerados políticos, mas que oficialmente foram denominados de conselhos comunitários, segundo Cepeda. Em 23 de janeiro, promoveu um conselho em São José de Guaviare. No dia seguinte, outro em Soacha. E na segunda-feira (25), criou um conselho de segurança em Barranquilla.

No dia seguinte, o mesmo aconteceu em Medellín, onde participou da inauguração de uma feira. “Todos, independentemente de como são chamados, são encontros públicos, com convidados, perguntas e respostas longas, em que ele faz um balanço dos oito anos do governo”, afirma Cepeda.

O presidente se deixou entrevistar nos últimos dias por quase 10 emissoras de rádios locais e, para as quais, dedicou pelo menos uma hora, atendendo a perguntas dos ouvintes e fazendo campanha política de fato. Mesmo que o secretário de imprensa da presidência diga que os eventos são normais, a reportagem pôde averiguar que não houve outras entrevistas a emissoras locais ou regionais do presidente nos últimos três anos.

“Aproveitando a incerteza sobre sua candidatura,” explica ao Opera Mundi o candidato à presidência do Polo Democrático, Gustavo Petro, “Uribe não está respeitando a lei de garantias de 2005, que foi criada para permitir uma competência leal entre o candidato do governo e os outros. De fato, em nossa campanha, assumimos que Uribe é um dos candidatos. Na Colômbia, não há garantias eleitorais”.

Já os uribistas alegam que a vontade de quem firmou o abaixo-assinado para convocação do referendo deve ser respeitada. Leia mais.

Pesquisas

As últimas pesquisas da consultoria Datexto indicam que a maioria dos colombianos não gosta da ideia de um referendo (47%), mas caso Uribe se lance como candidato, levaria 46% dos votos. Em segundo lugar está o ex-prefeito de Medellín, Sergio Fajardo, com 8% e o liberal Rafael Pardo, com 7,9%.

Atrás estão outros candidatos uribistas, como os ex-ministros Juan Manuel Santos e Andrés Felipe Arias, que não podem fazer campanha abertamente, pois esperam a decisão do presidente. De fato, a primeira na lista é a conservadora Noemi Sanín, que se considera uribista, mas não reelecionista.

A novidade é que uma força de oposição moderada bastante consistente está se consolidando pela primeira vez. Se somados os votos de Pardo, Fajardo, os três ex-prefeitos de Bogotá e Vargas Lleras de Cambio Radical, todos pertencentes a mesma linha liberal, tem-se quase 30%.

Contudo, se Uribe não fosse candidato, a situação seria mais complicada, pois o candidato que reuniria mais consenso é Fajardo. Mas com apenas 13%, muito pouco para ser considerado favorito

Fonte: Opera Mundi