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Investimentos da União e das estatais ganham espaço no PIB

Os investimentos da União e das estatais federais cresceram a um ritmo considerável no ano passado, respondendo por quase 20% do total investido no país na construção civil e em máquinas e equipamentos – em 2008, esse percentual ficou próximo a 14%, segundo levantamento da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda.

Por Sergio Lamucci, no jornal Valor Econômico

O aumento da fatia das inversões federais no total ocorreu porque, ao mesmo tempo em que União e estatais (Petrobras, principalmente) gastaram mais na ampliação da capacidade produtiva, o setor privado gastou menos, sob o impacto da crise global.

Em 2008, os investimentos federais totalizaram R$ 77 bilhões, ou 13,7% do total de R$ 561 bilhões (18,7% do PIB) destinados à construção e à compra de máquinas no país – a chamada formação bruta de capital fixo (FBCF). Já no ano passado, as inversões da União e das estatais pularam para R$ 100,5 bilhões, enquanto o investimento total caiu para R$ 517 bilhões (16,5% do PIB), estima a SPE. Com isso, a fatia das inversões federais no total ficou em 19,5%, considerando nessa conta que cerca de 95% das despesas de capital da Petrobras são feitas dentro do país.

A estatal do petróleo, aliás, respondeu pela maior parte do investimento, superando em quase duas vezes os gastos da União. As inversões da Petrobras subiram de R$ 46,9 bilhões em 2008 para R$ 62,9 bilhões no ano passado – o equivalente a 2,01% do PIB (incluindo os cerca de 5% feitos no exterior). Já as despesas da União com capital fixo cresceram de R$ 26,1 bilhões para R$ 32,2 bilhões, ou 1,03% do PIB. Somadas às despesas das outras estatais, como a Eletrobrás, os investimentos públicos federais chegaram a 3,31% do PIB em 2009, mais que os 2,64% do PIB de 2008 estima a SPE.

Para o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, os números de 2009 deixam clara a recuperação do investimento do setor público nos últimos anos. “É uma tendência de aumento mais forte que persiste desde 2006 e que fez diferença perceptível do ponto de vista macroeconômico no ano passado.” A trajetória ganhou mais força em 2007, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo ele.

Barbosa diz que os investimentos da União tiveram mais impacto sobre a economia em 2009 porque o volume de recursos já é mais significativo – em 2003, um ano de forte ajuste fiscal, eles somaram apenas R$ 5,2 bilhões, número que pulou para os já mencionados R$ 32,2 bilhões em 2009. Nos dados levantados pela SPE, estão contabilizados apenas os investimentos em capital fixo. O resultado do Tesouro do ano passado mostra um total de R$ 34,136 bilhões investidos pela União, mas esse valor inclui algumas modalidades de inversões financeiras.

Barbosa destaca ainda que os investimentos da União e da Petrobras aumentaram em um momento de queda da demanda do setor privado. O movimento amorteceu a desaceleração da atividade econômica, produzindo um efeito claramente anticíclico.

O secretário de Política Econômica diz que os gastos da Petrobras com investimentos estão para o Brasil como os gastos militares estão para os EUA. Segundo ele, são despesas autônomas, que não seguem a dinâmica do ciclo econômico. As condições do mercado de petróleo e novas descobertas regem o comportamento da empresa, que elevou fortemente o investimento mesmo em um ano de crise. Com a perspectiva de exploração da camada do pré-sal, a Petrobras deve continuar a investir com força ao longo dos próximos anos, afirma Barbosa.

O economista Carlos Eduardo Gonçalves, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), diz que a trajetória do investimento federal é um movimento na direção correta, mas ressalta que a participação das inversões ainda é pequena diante do tamanho do orçamento federal. As despesas correntes (pessoal, aposentadorias, custeio da máquina) da União, por exemplo, totalizaram R$$ 538,2 bilhões em 2009, um valor superior a 17% do PIB, enquanto os investimentos em ativos fixos ficaram em 1,03% do PIB.

Gonçalves observa que o investimento público é crucial para induzir o investimento privado. “Gastos públicos com infraestrutura levam o setor privado a investir mais”, afirma ele, para quem será fundamental elevar a participação das inversões no total de despesas da União nos próximos anos.

O economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz considerar bastante positiva a notícia do aumento do investimento público em 2009 Ele ressalta, contudo, a necessidade de o país elevar muito mais as despesas em infraestrutura, tanto por parte do setor público quanto do privado, e em setores mais dinâmicos, de maior intensidade tecnológica, para sustentar o crescimento no longo prazo. “O investimento da União e da Petrobras é bem vindo, mas é parcial.”