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FGV: Nova "classe média" é o "Pelé" do crescimento brasileiro

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que houve um "empate técnico" entre a economia brasileira e a crise econômica mundial que estourou em setembro de 2008.

Segundo o Chefe do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação, Marcelo Neri, o aumento da nova "classe média" — que engloba as rendas A, B e C — foi um dos motores do crescimento entre 2003 e 2008 e também durante a crise financeira — um desempenho comparável ao maior craque do futebol nacional.

"A expectativa para 2010 é de retomada de crescimento. Alguns cenários que projetamos até 2014 mostram que as "classes" A, B e C, que representam o topo da distribuição de renda no Brasil, pode incorporar até 36 milhões de pessoas a mais. Isso é quase meia França. Somados aos 32 milhões incorporados antes da crise, dá uma França inteira. Isto significa quase 66 milhões de pessoas incorporadas ao mercado consumidor do Brasil de 2003 a 2014", explicou o economista.

Durante a "Pequena Grande Década", o Brasil apresentava um cenário em que as "classes" mais baixas (D e E) apresentavam queda percentual enquanto as mais altas (A, B e C) indicavam expressivo aumento. De dezembro de 2008 a janeiro de 2009, entretanto, os impactos da crise foram sentidos. As "classes" A, B e C diminuíram enquanto as classes D e E cresceram.

Entretanto, de janeiro de 2009 a setembro de 2009 as "classes" A, B e C (nova "classe média") cresceram separadamente para chegar a um total de crescimento de 1% da classe ABC, chamada de "nova classe média". Já de outubro de 2009 a dezembro de 2009, o crescimento das "classes" A, B e C foi de 0,8%.

O grande destaque a esta altura foi para as "classes" A e B, cujo percentual elevado de crescimento no período de janeiro a setembro de 2009 (5,3%), foi suficiente para levantar o percentual de crescimento das "classes" A, B e C, com potencial de compra. De outubro a dezembro de 2009, o aumento percentual das classes ABC (0,8%) diminuiu bastante, assim como da classe AB (0,7%).

"Essa nova classe média foi o nosso Pelé. Apesar dele ter se contundido, parece estar novamente em forma para fazer o Brasil voltar a crescer a boas taxas. O crescimento dessa nova classe média é o destaque do Brasil", comentou Neri.

Em relação a sustentabilidade desse crescimento da nova "classe média", o Neri acredita tratar-se de algo aparente. "Não houve retrocesso. De 2010 em diante acho que os dados vão seguir mostrando aumento de escolaridade e aumento de emprego formal. Esse fatores estruturais mostram que esse crescimento do potencial de compra do brasileiro é sim sustentável ao longo do tempo. A diferença é que em 2008 o vento internacional estava a favor, agora já não está mais assim", disse.

Sobre a diminuição da pobreza e da desigualdade, Neri explicou que a pobreza não caiu em 2009, mas sim em 2008. "Vinha caindo em 2008, mas do fim de 2008 (quando apresentava queda percentual de 1,2%) até o início de 2009 cresceu. Ao longo de 2009 teve nova queda (-4,1%, de janeiro a setembro de 2009) e terminou o ano com uma queda percentual mais ou menos igual a que apresentava em 2008 (1,1%). Marcou uma quebra nesta pequena grande década (de 2003 a 2008). Em relação às grandes flutuações para cima o ano terminou empatado. A crise afetou mais o núcleo do capitalismo. Teve um efeito menor na periferia do que na capital".

Para Marcelo Neri, o pior já passou e a tendência é de melhoria no cenário econômico. "Os dados indicam que a crise acabou e que talvez estejamos entrando em um novo ciclo de expansão de classe C e redução de pobreza e desigualdade".