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Luis Nassif: A crise é do dólar

A crise é do dólar ou do euro? Para o consultor Igor Cornelsen, experiente investidor em mercados internacionais, a atual crise de confiança no Euro tem algo a ver com as previsões de Milton Friedman, para quem a moeda europeia desapareceria na primeira recessão.

Por Luis Nassif, no Último Segundo

Seus discípulos passaram a repetir a previsão como um mantra. A irresponsabilidade fiscal da Grécia e a crise econômica só vieram a dar mais um argumento a esta escola de economia. Mas a crise de pânico é dela própria, pois a liberalização dos mercados financeiros foi um fracasso, e resultou na maior crise econômica desde a Grande Depressão, diz ele.

Onde não houve desregulamentação financeira, não houve crise bancária. Exemplos claros são o Canadá e Austrália – esta, nem recessão sofreu. A crise pegou fundo onde mais

radicalmente se desregulamentou o sistema financeiro. Foram os casos da Islândia, Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos – que sofreu a crise bancária mais séria.

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Para que este fracasso não seja devidamente estudado, diz Cornelsen, jogam uma cortina de fumaça falando de uma crise de pequenas proporções na periferia da zona do Euro.

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Em 2010 na região do Euro, o deficit fiscal será de 5 % do PIB. Se consolidado (juntando todos os países), não existe déficit em conta corrente na região do Euro. Isto é não consomem mais importados do que exportam. A desvalorização do Euro só vai aumentar a competitividade da indústria da região e atrair turistas.

Nenhum líder Europeu está preocupado com a desvalorização do Euro, pelo contrário será parte da solução dos problemas de sua periferia, diz ele.

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Quando se entra na região do dólar, o jogo é outro.

O déficit fiscal dos EUA – sem considerar o deficit dos estados e municípios, será de mais de 10 % do PIB neste ano fiscal. O orçamento americano não cortou um centavo da máquina militar, e o governo Obama ainda luta para aprovar o aumento dos gastos com saúde, diz ele.

O déficit em conta corrente dos EUA deve ser de 4 % do PIB. Para ser financiado, depende da boa vontade do maior comprador de títulos públicos, a China – que já tem 2,4 trilhões de reservas, 70 % delas em títulos do tesouro dos EUA.

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Já Grécia ,Portugal e Espanha, ou farão ajuste sendo financiados pela economia da União Europeia ou pelo FMI, sem maiores traumas. No caso da Grécia, a ajuda seria de meros US$ 20 bilhões, pequeno perto do Brasil e do México na década passada.

Se resolverem não negociar nem com o FMI nem com a União Europeia, poderão recorrer ao calote, como a Argentina em 2001 ou a Rússia em 1998 e fazerem o ajuste fiscal na marra, por falta de caixa. Nesse caso, explica Cornelsen, o empobrecimento duraria o tempo de se acertarem com os credores e receberem novos investimentos.

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Os Estados Unidos emitem a moeda global. Seu déficit fiscal e o excesso de consumo em relação ao que produz é a verdadeira bomba relógio.

A crise europeia é só uma oportunidade para especuladores, conclui ele. A crise fiscal americana deve mudar a estrutura de poder político e militar do mundo nos próximos anos.