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Jornalista do Globo não aceita avanço da política cultural no Rio  

O laboratório nada asséptico chamado história nos mostra que grandes transformações sempre foram vistas com preconceito por aqueles que antes detinham o poder de dirigir o processo. É o que parece ter acontecido com a elite cultural carioca representada por Artur Xexéo.

Por Theófilo Rodrigues*

Desde o início do ano passado, quando Jandira Feghali assumiu a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, o cronista do jornal O Globo vem atacando semanalmente as ações da pasta. O motivo: A radical inflexão da política cultural do município.

De fato, dentro de seus limites orçamentários, as ações da secretaria têm trazido de volta a cidade maravilhosa ao posto de capital cultural.

O primeiro passo se deu com uma ousada e necessária mudança na gestão da Rede Municipal de Teatros. Os chamados "feudos", aonde o próprio gestor produzia e encenava suas obras sem qualquer preocupação com a difusão artística, acabaram. A reação da elite cultural/feudal foi violenta. O próprio Xexéo jamais viria a perdoar Jandira por isso.

A gritaria foi imensa, mas a realidade é que hoje a Rede Municipal de Teatros não é mais gerida de acordo com os interesses pessoais de seus gestores, mas de acordo com os interesses reais da sociedade. O Teatro Carlos Gomes, por exemplo, passou a apresentar o projeto "7 em Ponto" que oferece grandes atrações musicais a preços populares para os trabalhadores do centro da cidade que querem fugir do costumeiro trânsito pós-trabalho.

Outra grande novidade da Secretaria Municipal de Cultura foi o Viradão Cultural, que no ano passado trouxe uma maratona de 48 horas ininterruptas de atrações culturais por todas as regiões da cidade. De forma inédita no Rio de Janeiro, artistas de todos os estilos musicais se apresentaram da Zona Oeste à Zona Sul, passando pela Zona Norte e pelo Centro, acabando com a lógica dos grandes shows apenas na Praia de Copacabana. Sucesso de público, o Viradão Cultural já prepara sua segunda edição para o próximo mês.

Mas não foi só o acesso popular aos bens culturais que foi ampliado. Ampliou-se também o acesso à produção cultural através dos Pontos de Cultura e o acesso ao processo decisório através da I Conferência Municipal de Cultura e da criação do Conselho Municipal de Cultura. Agora, a população carioca não só tem amplo acesso à cultura, como também produz e participa da produção das políticas públicas de cultura no município. Não é à toa que a secretária Jandira Feghali tem sido tão elogiada no cenário artístico.

Claro que tantas transformações não viriam sem provocar uma grande reação por parte da elite encastelada na zona sul do Rio de Janeiro. Acostumada a acumular por tanto tempo o capital cultural da cidade apenas para ela, a elite cultural do Rio de Janeiro agora chia ao ver esse capital cultural ser redistribuído. Explica-se assim o ódio de classe de Artur Xexéo contra a cultura popular.

*Theófilo Rodrigues é Bacharel em Ciências Sociais pela PUC-Rio. Mestrando em Ciência Política na UFF. Membro da Direção Estadual da UJS-RJ e mantém o blog Fatos Sociais