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Samba, frevo, axé e irreverência agitam carnavais do país

Democrático e popular, o Carnaval do Brasil mais uma vez invadiu ruas e avenidas promovendo um show de criatividade e alegria. Estados com maior tradição de folia, Rio, São Paulo, Bahia e Pernambuco foram palco de manifestações culturais de todos os tipos. Teve samba, frevo, afoxé, maracatu, axé, ciranda… 

Após um jejum de títulos desde 1936, a Unidos da Tijuca foi eleita a escola de samba campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. Completando este ano 80 carnavais, a escola adentrou o Sambódromo com um show de ilusionismo, para abordar o tema É segredo!, sobre grandes mistérios da humanidade.

O assunto foi escolhido pelo carnavalesco Paulo Barros após sugestão vinda através de um internauta no Orkut. E, para fazer justiça a ele, a maior parte do desfile da Unidos da Tijuca começou a ser revelado só no sambódromo. Característica de Paulo Barros, a inventividade reinou. A comissão de frente foi destaque e concentrou a maior parte das atenções deste carnaval carioca. Usando de ilusionismo, seus integrantes mudavam de figurino como em um passe de mágica.

O restante do desfile não se deixou ofuscar e conquistou o público com carros alegóricos chamativos e coreografias bem ensaiadas. O enredo, por sua vez, permitiu bastante diversidade na avenida, que viu passar personagens da história antiga, super-heróis, ídolos eternos – como foi o caso de Michael Jackson – e até o símbolo da escola, o pavão, formado pela coreografia de dezenas de participantes.

A vice-campeã do carnaval do Rio foi a Grande Rio, com o enredo "Um Grande Rio de emoção na apoteose do seu coração". Em terceiro lugar ficou a Beija-Flor, que homenageou os 50 anos de Brasília. Em seguida, vieram Vila Isabel – que falou sobre Noel Rosa -, Salgueiro – retratando os diferentes paraísos – e Mangueira – que contou a história da música brasileira. A Viradouro, com enredo sobre o México, caiu para o Grupo de Acesso.

São Paulo

Já em São Paulo, a escola de samba Rosas de Ouro foi a campeã. A agremiação, que não conquistava títulos há 16 anos, venceu com o enredo "Cacau: um grão precioso que virou chocolate". No sambódromo, a escola falou da história do cacau desde povos antes de Cristo até a fábula de Willy Wonka, retratado no filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (Mel Stuart, 1971).

Os ritmistas, por sinal, usavam fantasias inspiradas no personagem, e a modelo e atriz Ellen Rocche, madrinha de bateria, fazia o papel de rainha da fábrica. A escola conseguiu desbancar a Mocidade Alegre – que desfilou com o enredo dobre o espelho -, com a qual estava empatada até o último quesito, Comissão de Frente.

Em terceiro lugar ficou a Vai-Vai, que fez um balanço dos 80 anos de sua trajetória. Na outra ponta, as escolas Imperador do Ipiranga e Leandro de Itaquera foram rebaixadas para o Grupo de Acesso. Durante a apuração, integrantes da Gaviões da Fiel, revoltados com uma nota baixa, provocaram tumulto na arquibancada e chegaram a arremessar cadeiras. A escola levou à avenida o tema do centenário do Corinthians.

Pernambuco

Autêntica festa de rua, o carnaval pernambucano mais uma vez começou com todo o gás, com o consagrado Clube de Máscaras do Galo da Madrugada, que recebeu em 2009 o título de Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. Este ano, o bloco, considerado o maior do mundo, homenageou todas as manifestações carnavalescas do Estado.

Estima-se que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas caminharam com os 30 trios por cinco quilômetros. No trajeto, os foliões puderam observar ícones que representam Pernambuco como os caiporas, os papangus e o cavalo marinho e várias referências aos municípios que possuem tradição carnavalesca.

Além do som do frevo e das tradicionais sombrinhas coloridas dos passistas, que fazem verdadeiras acrobacias, já enraizadas no tradicional carnaval recifense, as irreverentes fantasias também completam a graça da festa pernambucana.

Um grupo de jornalistas de Brasília aproveitou o escândalo político da atual gestão do Distrito Federal, que culminou com a prisão do governador José Roberto Arruda (ex-DEM, atualmente sem partido), para compor a indumentária. Vestidos com a uma camisa com os dizeres "Sou de Brasília, mas sou inocente", eles tentavam desvincular a imagem da população da capital do país dos episódios de corrupção ligados à política. Em ano de copa, muitas foram as alusões ao futebol. Tema da moda, o aquecimento global também foi mote para muitas brincadeiras.

Após a diversão matutina do Galo, os foliões se divertiram até a madrugada, com o bloco do famoso boneco gigante Homem da Meia Noite, pelas ladeiras de Olinda. De acordo com a Secretaria de Turismo, Desenvolvimento Econômico e Tecnologia, aproximadamente, 1,5 milhão de foliões visitaram a cidade durante os quatro dias de festa. E pelas ladeiras passou de tudo, de super-heróis a maracatus, caboclinhos, escolas de samba e afoxés. Mas, principalmente, muito frevo.

O já tradicional desfile de bonecos gigantes de Olinda teve uma novidade este ano. O Homem da Meia Noite inverteu o relógio e pela primeira vez em oito anos apareceu também pela manhã, para prestigiar seus colegas gigantes. Este ano, o desfile que acontece na Terça-Feira Gorda homenageou o maestro Forró. E como não poderia deixar de ser, o carismático músico foi imortalizado com um boneco. O encontro reuniu cerca de 100 bonecos, segundo o coordenador do encontro, o artista plástico Sílvio Botelho, que realiza o desfile há 23 anos.

No Recife, além dos costumeiros blocos líricos, do cortejo de maracatus, desfile de agremiações, muitos shows animaram a folia. Conhecido pela multiculturalidade, teve espaço para todos os ritmos. Mais de 300 atrações locais e nacionais se dividiram entre os palcos dos 16 polos de animação. Cerca de 90% da programação do Carnaval foi composta por artistas pernambucanos. Somente o bairro do Recife recebeu aproximadamente 200 mil pessoas por dia.

Bahia

E depois de abrir o carnaval de Recife, como faz todo ano há mais de três décadas, o Galo da Madrugada promoveu, na manhã da quarta (17), o encerramento do carnaval de Salvador. Convidados por Carlinhos Brown para o tradicional arrastão com 200 percussionistas, 55 integrantes do grupo pernambucano promoveram uma festa cheia de frevo no Circuito Dodô (Barra-Ondina). Mais de 500 mil pessoas acompanharam o trajeto.

Foi a estreia do Galo no carnaval de Salvador – cena que Brown prometeu que vai se repetir. "É o momento histórico do encontro entre o maior bloco da Terra com o maior carnaval do mundo", comentou o emocionado presidente da agremiação de Recife, Guilherme Menezes, para encerrar de vez com essa história de que há rivalidade entre o frevo e o axé.

No desfile, Brown ainda foi acompanhado pelos cantores do Olodum, por Margareth Menezes e por 200 percussionistas vestidos com o uniforme oficial da seleção brasileira, lançado oficialmente em Salvador no domingo.

No fim do circuito, Brown ainda aguardou a chegada de dois outros trios, o da Timbalada e o de Ivete Sangalo, para uma apresentação conjunta, que fez lotar a Praia de Ondina. Era o encerramento oficial da festa, já que a folia promete se estender para além do período momesco.

Nesses quatro dias de festa, o carnaval mais famoso de Salvador e o que mais atrai multidões – o dos trios elétricos com seus abadás, cordeiros, pipocas, artistas famosos e muitos patrocinadores – invadiu as ruas, homenageando os 60 anos de trio elétrico e os 25 anos da axé music.

Fora desta programação, o desfile do bloco Mudança do Garcia, antiga troça que é destaque na segunda-feira de carnaval, usou toda a sua irreverência para fazer um protesto divertido também sobre o “mensalão do DEM”. Foliões fantasiados de presidiários, com maços de dinheiro nas meias e cuecas, e outros representando o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, fizeram a festa. Os foliões da Mudança invadiram a Passarela do Campo Grande, interrompendo o desfile oficial à tarde por quase uma hora.

Show à parte foi o tradicional desfile dos blocos afros blocos afros, como o Ilê Aiyê, o “mais belo dos belos” – que se apresentou duas vezes no Carnaval com o tema em homenagem a Pernambuco – o azul e branco Filhos de Gandhi, o Muzenza e Malê de Balê. O Filhos de Gandhi, que toma as ruas de Salvador há 61 anos, deu um "banho de cheiro" na cidade, com muito perfume de alfazema.

Com agências