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Uruguai: Prioridade é cumprir programa da Frente Ampla

Jorge Brovetto é o atual presidente da coalizão Frente Ampla e ex-ministro de Educação e Cultura do governo uruguaio de Tabaré Vázquez. Dizem que foi o homem que estava por trás das negociações entre José Mujica e Danilo Astori para compor a chapa que acabou sendo a vencedora. Como referência institucional da centro-esquerda uruguaia, traçou para o Página/12 as diretrizes que o novo governo deverá seguir.

Página 12: Quais serão as primeiras medidas que a gestão de Mujica vai tomar?

Jorge Brovetto: A Frente Ampla se caracteriza por insistir em que se deve cumprir o programa aprovado no Congresso partidário. O governo que saiu cumpriu o programa, e esperamos que aconteça o mesmo sob a liderança de Mujica.

Tabaré Vázquez havia dito, quando assumiu, que trabalharia com duas Bíblias, neste que é um país de tradição laica: a Constituição e o programa da Frente Ampla. Pode-se esperar um aprofundamento das políticas sociais e da luta contra a pobreza e a indigência. Existe um núcleo duro de pobreza e é preciso tirar as novas gerações dessa situação. Haverá um esforço maior na educação, na criação das condições de trabalho para os menos qualificados.

Página 12: O plano de moradia será prioritário?

Jorge Brovetto: Sim. Há um grande número de moradias desocupadas, famílias que usam uma segunda casa em zonas de balneários. Vai-se lutar para que cada família tenha um teto. A Lucía Topolansky está bem enfronhada no assunto.

Página 12: É possível aprofundar as políticas sociais ao mesmo tempo que se mantém uma política econômica ortodoxa?

Jorge Brovetto: Passamos de 2,4% para 4% do PIB em Educação. Os avanços vão se refletir não apenas nos orçamentos ministeriais, mas também no aumento do investimento estrangeiro. Os investimentos não serão orientados à especulação financeira, mas para a criação de riqueza. Vamos continuar impulsionando a criação de riqueza.

Página 12: Ao manter a maioria no Congresso, voltarão a ser discutidos temas da esquerda, como a despenalização do aborto?

Jorge Brovetto: É uma maioria menor, porque dependemos de um voto e vocês sabem o que isso significa (risos). A discussão está instalada em torno de se este governo vai ser mais ou menos de esquerda. Com respeito ao debate sobre o aborto, eu creio que voltará, mas lembre que houve linhas divisórias que não tiveram a ver com os partidos. Proeminentes tupamaros votaram contra a despenalização do aborto. De qualquer forma, se nova lei for aprovada, não terá o veto de Mujica. (Tabaré vetou a lei de saúde sexual e reprodutiva.)

Página 12: Nas eleições passadas votou-se um referendo sobre a anulação da Lei de Caducidade. As pessoas optaram pela continuidade de uma anistia que impede o julgamento dos responsáveis por violações aos direitos humanos. Não é hora de a Frente Ampla postular a derrogação da norma?

Jorge Brovetto: Cremos que é preciso respeitar o que saiu no plebiscito. Porque, além disso, é o segundo referendo (houve um outro em 1989). Se tivéssemos querido, teríamos impulsionado a derrogação no governo passado. Mas quisemos levar adiante a consulta, esperando o veredito da população. Por outro lado, repressores como Gregorio Alvarez e Juan María Bordaberry estão presos porque o Executivo decidiu excluir suas causas da Lei de Caducidade.

Página 12: Mais e melhor Mercosul?

Jorge Brovetto: A classe política uruguaia é unânime: faz-se necessário melhorar o Mercosul. E para isso, a integração deve ser profunda e real.

Página 12: Por que crê que a direita argentina vê com bons olhos o novo governo uruguaio?

Jorge Brovetto: É provável que a direita nos veja com simpatia porque vê bem a estabilidade econômica e política de nosso país. Igualmente, eu não cortaria tão grosso. Também temos a simpatia de progressistas como Hermes Binner.

Fonte: Página 12