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Aclamado, Mujica toma posse defendendo integração regional

No seu primeiro discurso depois de empossado, o novo presidente do Uruguai, José Mujica, reafirmou nesta segunda (01) seu compromisso com a integração regional ao dizer que os uruguaios são "Mercosul até que a morte os separe". O governante, um ex-guerrilheiro, fez um chamado à unidade e destacou que pretende ampliar gastos na área social e agir com prudência na economia. Depois do ato solene, foi aclamado por milhares de pessoas na praça central Independência de Montevidéu.

Pepe Mujica toma posse com Danilo Astori

"Somos Mercosul até que a morte nos separe, e esperamos uma atitude recíproca", afirmou Mujica diante dos vários presidentes latino-americanos que foram vê-lo jurar o cargo em cerimônia solene no Parlamento de Montevidéu. O Mercosul é integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela está em processo de integração formal, ainda falta ser ratificada pelo Parlamento paraguaio.

Compareceram à cerimônia os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia), Álvaro Uribe (Colômbia), Rafael Correa (Equador), e Hugo Chávez (Venezuela), além do príncipe Felipe da Espanha, e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que se reuniu previamente com Mujica para lhe oferecer cooperação nas áreas de educação, tecnologia, negócios, comércio e investimentos. A posse foi acompanhada também pelo senador brasileiro Inácio Arruda (PCdoB-CE) e pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Abreu, o Alemão.

O novo presidente considerou a presença dos chefes de Estado como de "significado intenso e político". De acordo com ele, a participação dos líderes "expressa o respaldo aos processos domocráticos de renovação de poder". Para ele, "é bom sentir 'tête-à-tête' esse apoio".

Mujica afirmou que seu governo, o segundo de esquerda na história do Uruguai, vai fazer "o máximo possível" para destinar recursos à área social. "Atualmente, 2% dos uruguaios vivem abaixo da linha da pobreza, o que é uma vergonha nacional", disse o líder em sua mensagem de posse.

Segundo o governante recém-empossado, "um em cada cinco uruguaios é pobre. Isso não é justo, mas, além disso, é perigoso. Não queremos um país apenas com números positivos, mas um país bom para viver". De acordo com 'Pepe', educação, energia, meio ambiente e segurança serão temas prioritários durante sua gestão.

Mujica propõe-se a realizar um governo "austero" e confirmou a doação de 87% de seu salário de 12.500 dólares mensais para um fundo habitacional. Austeridade "significa uma luta desesperada por manter a liberdade" (…), e uma "forma de preservar a nossa liberdade individual e de sermos menos dependentes".

Ele pediu que se passasse "da tolerância à colaboração" com a oposição. E chamou os partidos a fim de estabelecer políticas de Estado e facilitar a governabilidade, deixando de lado os conflitos. "Seria uma aberração nos dedicarmos ao confronto e não ao ajuste. As batalhas pelo tudo ou nada são o melhor caminho para que nada mude e tudo se estanque", disse ele, amplamente aplaudido por políticos de todas as forças no Congresso e dignitários estrangeiros.

Mujica prometeu manter a mesma linha da política econômica do governo anterior da Frente Ampla. "Uma macroeconomia prolífica é um pré-requisito para todo o resto (…) Vamos ser ortodoxos na macroeconomia e vamos compensar isso sendo inovadores e atrevidos em outros aspectos", disse.

Depois do ato na Assembleia Geral, Mujica e seu vice, Danilo Astori, foram à praça Independência num pequeno carro chinês adaptado a motor elétrico, com mão de obra uruguaia – o "pepemóvel". Percorreram as últimas quadras a pé, pela avenida 18 de Julho, aclamados por milhares de pessoas. "Vamos Pepe, Pepe com a gente", diziam, junto com gritos de "Uruguai, Uruguai!".

Na praça, diante da estátua do prócer Artigas, o ex-presidente Tabaré Vázquez entregou-lhe a faixa presidencial. Foi a primeira transmissão de cargo realizada em praça pública no Uruguai. Tabaré deixa o poder com índices de aprovação de mais de 60%. Mujica, aliado de seu antecessor, é o 40º presidente constitucional do Uruguai.

Com agências