Eliana Gomes: “A esperança é o meu fortalecimento”

Na data marcada pelo centenário do dia dedicado às Mulheres, o Vermelho/CE dá prosseguimento à série de entrevistas especiais com personalidades políticas e populares ouvindo uma mulher ícone de luta na capital cearense. Misturando emoção e muita alegria, a vereadora de Fortaleza, Eliana Gomes, recorda sua história de vida, fala do seu início na política, de futuro, da família e conta como um livro foi o responsável pelo seu ingresso e trajetória no PCdoB.

Eliana Gomes panfletagem

Além de todos os ideais que fervilhavam na sua cabeça coincidirem com os do Partido comunista do Brasil, a leitura de um livro foi decisiva neste processo de escolha de um partido político para militar. Foi assim que começou a trajetória de Eliana Gomes, há mais de 20 anos filiada ao PCdoB, partido pelo qual diz ter muito orgulho de pertencer.

Uma amiga chamada Margarida Alves lhe presenteou com um livro sobre a Guerrilha do Araguaia. A partir daí, Eliana Gomes se viu encorajada a se dedicar à luta por mais justiça social. Ela recorda com admiração as histórias de jovens que morreram lutando pela liberdade e pela democracia. “Vi que eu queria cuidar do povo. O PCdoB luta pelo socialismo. Eu me identifiquei e trouxe toda a minha experiência para somar com o partido”.

Hoje Eliana é vereadora pelo PCdoB e a primeira mulher comunista eleita para a Câmara Municipal Fortaleza. E foi com muito esforço que garantiu sua vitória nas eleições municipais de 2008. Mas considera que, apesar das dificuldades, por ser uma mulher lutadora e dos movimentos sociais a campanha se tornou um dia possível.

O dia-a-dia da parlamentar mulher

A rotina da parlamentar mulher é diferente da rotina do parlamentar homem. “Nós mulheres sempre estamos preocupadas em chegar cedo, ler os jornais, ler a pauta, sem contar com a jornada antes de chegar à Câmara: deixar filhos no colégio, manter a casa em ordem. É uma dupla jornada”, afirma.

Fazer um bom mandato e ampliá-lo para as associações e movimentos sociais é o objetivo de Eliana. “Um mandato comunista faz a diferença”, diz, lembrando que todos os parlamentares do PCdoB, tanto municipais, quanto estaduais ou federais têm se destacado. “Trouxe para a Câmara toda uma bagagem de anos de trabalho com os movimentos sociais. Estou aqui para fazer essa diferença”, reafirma.

Mulher vota em mulher

“Com muito orgulho tivemos um crescimento no que diz respeito ao voto. Essa cultura de que mulher não vota em mulher está mudando. Elas têm melhor participação. Vemos isso no reforço que os movimentos de mulheres dão aos mandatos e campanhas hoje em dia”. Uma das bandeiras de Eliana é lançar mais mulheres na política. Destaca que os partidos devem dar mais condições e incentivo para que as mulheres se candidatem, inclusive o primeiro voto de Eliana foi para uma mulher.

Em 2009, seu mandato propôs um Decreto Legislativo que institui o Programa Mulher no Parlamento. “Queremos encorajar as mulheres a ocuparem os espaços de decisão. É preciso mudar essa história de que as casas legislativas são lugares só de homens”, ressalta Eliana.

Infância, Trabalho e Família

Eliana teve uma infância difícil em Canindé. Sua vinda para Fortaleza, aos 12 anos, deu-se pelo mesmo motivo de muitos brasileiros que saem com suas famílias para tentar uma vida melhor na Capital. Em Fortaleza, estudou sempre em escolas públicas e passou cinco anos interna no colégio Juvenal de Carvalho. Entrou para o curso de Telecomunicações na então Escola Técnica (atual IFECE), mas não chegou a concluir o curso. Ela precisava trabalhar para ajudar em casa e sempre perdia muitas aulas.

Nasceu em uma família religiosa, de pessoas simples e trabalhadoras. Morava com os pais Maria José Gomes dos Santos e Raimundo Alves dos Santos e mais três irmãs, ela é a mais nova. Os pais eram operários. Eliana compara essa parte da sua vida com a história do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Como Lula, enfrentou períodos de seca e ainda muito jovens começou a trabalhar. Hoje, afirma que para ser alguém na vida sempre seguiu os princípios passados pela mãe, de ética e dignidade.

Trabalhou como comerciária, em escritório de advogados, em secretaria da escola. “Sempre ralei muito na vida”, diz. Foi Educadora Social, presidente da Associação do Bairro Ellery e Monte Castelo por três mandatos, presidente da Federação de Bairros e Favelas por dois mandatos, diretora do Cearah Periferia, coordenadora do Núcleo de Habitação e Meio Ambiente (NUHAB), diretora da Cáritas Diocesana de Fortaleza, membro do conselho gestor da ONG Planefor (Planejamento Estratégico de Fortaleza), conselheira do Jornal O Povo, presidente do Centro Socorro Abreu por três anos, assistente técnica comunitária da Habitafor e hoje divide os trabalhos de vereadora com a vice-presidência do PCdoB Municipal de Fortaleza.

O começo de tudo

Depois de filiada ao PCdoB Eliana começa outra etapa da sua vida, dedicando-se, principalmente, às lutas pela habitação, em defesa das creches, pela sede da associação do bairro Ellery e Monte Castelo. “Só através da luta do povo organizado é que os poderosos vão resolver as questões sociais”, considera. Entrou na pastoral da juventude por influência da mãe, com o objetivo de trabalhar pela construção da igreja do bairro Ellery. Segundo Eliana, daí surgiu o entusiasmo de conhecer a vida política e de entender melhor o porquê de uma sociedade tão injusta.

A casa onde Eliana mora até hoje no Monte Castelo, foi adquirida através de uma ocupação, juntamente com outras famílias em meados de 1995. “Naquele lugar plantamos a felicidade. É lá que quero criar minha filha e cuidar daquela comunidade”. Eliana conta que essa ocupação teve a participação da associação comunitária e de mais de 200 famílias que precisavam de um teto. Hoje são cerca de 80 casas construídas em terrenos abandonados na época.

Foi nesse processo que conheceu seu companheiro Antônio Soares dos Santos, pai de sua filha Gabriela (15 anos). “São quase 22 anos de casamento. Enfrentei muitos preconceitos na época porque fui morar com Antônio, já grávida e antes de casar”, relata.

Eliana descreve que foi uma época difícil de muita discriminação, mas diz que não parou de lutar, de trabalhar e nem baixou a cabeça para os preconceituosos. “Foi um momento muito rico da minha vida. Mesmo grávida, eu não parava de lutar e rompi com muitos preconceitos das pessoas”.

Plebiscito para escolher o nome da filha

A vereadora comunista é a favor de ouvir o povo antes de tomar decisões em qualquer que seja a circunstância. Até para escolher o nome da filha, Eliana promoveu com o companheiro Antônio um plebiscito em casa para os familiares votarem. “Eu queria um nome e o Antônio queria outro. Então fizemos uma votação e ganhou Gabriela”, conta rindo a vereadora.

Sonhos, conquistas e futuro político

Uma grande conquista para Eliana foi ser eleita vereadora com 6.181 votos, em 2008, depois de quatro campanhas difíceis. Os sete meses que ficou também como suplente em 2008 foi um grande aprendizado, segundo ela. “Não podemos negar que chegamos aqui (Câmara Municipal) com muitos sonhos, mas logo caímos na realidade. Tem que persistir muito e não desistir nunca”, afirma. O sonho de Eliana é viver numa sociedade mais humana e igualitária, onde todas as pessoas tenham saúde, moradia digna, educação, alimentação e trabalho. “A esperança é o meu fortalecimento”, destaca. Sobre seu futuro político, Eliana diz que quer continuar atuando, mas sempre em comum acordo com o partido. “É uma decisão coletiva”, finaliza.

De Fortaleza,
Ana Carolina Bedê