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Lula: "Não quero que se repita no Irã o que aconteceu no Iraque"

Às vésperas da viagem que fará na próxima semana ao Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou sua posição a favor do diálogo com o Irã e uma solução pacífica para os conflitos que atormentam o Oriente Médio, durante entrevista concedida terça-feira (9) à Associated Press (AP).

O presidente abordou vários outros temas, incluindo futebol, revelou que parou de fumar há 40 dias e está muito bem de saúde. Ressaltou a necessidade de promover mudanças no Conselho de Segurança da ONU e disse que a fotografia da geopolítica mundial já não reflete a realidade.

“É uma geopolítica da Segunda Guerra Mundial, de 1948”, enfatizou, acrescentando que é necessário “construir uma imagem da ONU de 2010, do século XXI, que leve em conta a Índia, que leve em conta a África, que leve em conta a América Latina, a Alemanha e o Japão”.

Lula condenou a greve de fome realizada por presos cubanos e lembrou que mortes provocadas por este tipo de protesto não ocorreu apenas em Cuba. “Todo mundo sabe o que aconteceu na Irlanda, quando gente do IRA morreu de greve de fome”.

Indagado se Dilma Rousseff não seria mais autoritária e esquerdista que ele, alertou: “é importante ficar atento porque vai se levantar muita coisa contra a Dilma. É engraçado porque, neste momento, as pessoas que antes tinham medo que eu fosse presidente da República agora começam a dizer assim: ´Bom, o Lula tudo bem, o Lula nós sabemos o que ele fez, ele negociava, ele conversava. E ela, o que vai fazer?´. A Dilma é uma mulher de muito bom senso, é uma mulher madura e altamente competente.”

Leia mais abaixo:

P- Presidente, falando um pouco sobre a viagem que o senhor vai fazer na próxima semana para o Oriente Médio, que papel o senhor vê para o Brasil para essa região que está em tanto conflito?

R- Olhe, eu, às vezes, fico com a impressão de que as pessoas pensam que o Brasil está se oferecendo para ter alguma função no conflito do Oriente Médio. Primeiro, nós, brasileiros, respeitamos muito a autodeterminação de cada país escolher quem ele quiser como negociador, como interlocutor. O que o Brasil tenta explicitar publicamente a todos os presidentes com quem conversamos, aos palestinos, a israelenses, aos árabes, aos americanos, aos europeus, é que é preciso que a gente comece a pensar em novos interlocutores para a questão dos conflitos no Oriente Médio.

O Oriente Médio clama por paz, é necessário que tenha paz, e o correto seria que nós tivéssemos, nas Nações Unidas, a representatividade suficiente para coordenar o processo de paz e executar o processo de paz. Acontece que as Nações Unidas estão enfraquecidas, ou seja, a fotografia da geopolítica que governa as Nações Unidas hoje, no Conselho de Segurança, está muito distante do que nós precisamos. É uma geopolítica da Segunda Guerra Mundial, de 1948, quando, na verdade, o que nós precisamos é construir uma imagem da ONU de 2010, do século XXI, que leve em conta a Índia, que leve em conta a China, que leve em conta a África, que leve em conta a América Latina, que leve em conta a Alemanha, que leve em conta o Japão. Quem é que decidiu que Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China representam o conjunto das aspirações do novo planeta, com a nova geopolítica, com a nova ordem econômica, ou seja, com países que até ontem eram considerados pobres e que hoje estão em um processo de crescimento econômico excepcional? Ou essas forças políticas estarão representadas no Conselho de Segurança da ONU, daí porque ele precisa ser reformado, ou nós teremos mais dificuldade de fazer acordo no Oriente Médio.

Então, eu tenho duas teses. A primeira é a seguinte: quem quer a paz no Oriente Médio? Nós temos que juntar de um lado. Depois, quem é que não quer a paz? Juntar do outro lado e começar a conversar, porque você tem gente de Israel que quer paz, você tem gente que não quer; você tem, na Palestina, gente que quer, gente que não quer. Você não sabe o que pensa a Síria, você não sabe o que quer o Irã, você não sabe o que quer o Catar, o que quer a Jordânia, o que querem os americanos, o que querem os franceses. Então, tem que juntar todo mundo e dizer o seguinte: “Bom, vamos começar uma conversa franca, aqui, e vamos saber se a gente quer ou não quer paz no Oriente Médio”.

Eu acho que não dá mais para ficar do jeito que está, sabe? Eu estou visitando agora o Oriente Médio, mas em maio eu vou visitar o Irã, e eu quero conversar com todo mundo para poder fortalecer a ideia de que através do diálogo você tem mais chance de construir uma política de paz no Oriente Médio.

P- Falando sobre a visita do Presidente ao Irã em maio, eu acho que foi na semana passada que o senhor falou que o senhor vai ter conversas francas com o presidente do Irã. O senhor pode ampliar um pouco sobre o que o senhor vai dizer sobre a situação do urânio.

R– Eu só não posso dizer o que eu vou conversar. Primeiro eu tenho que sentar com ele para conversar. Veja, primeiro, o Brasil tem muita autoridade moral e política para discutir esse assunto porque o nosso país pertence a um continente em que está abolida a possibilidade de armas nucleares. Aqui se fala em paz, não em guerra. Segundo, o Brasil tem na sua Constituição a proibição da utilização do enriquecimento do urânio para fins de arma nuclear. Isso não é uma vontade do presidente Lula, isso é constitucional, está na Constituição. E nós, então, enriquecemos urânio porque nós queremos construir energia nuclear, produzir energia e, ao mesmo tempo, nós queremos tratar da produção de medicamentos.

O que nós queremos para o Irã é exatamente o que nós queremos para nós. Nada mais, nada menos, sabe? E isso eu já disse uma vez ao Presidente do Irã, já conversei isso com outros líderes. O que eu tenho tentado mostrar para eles é que a hora é de conversa, a hora não é de embargo, a hora não é de sanções, a hora é de a gente dialogar um pouco mais. Se uma hora de reunião não resolve, que façamos duas; se duas não resolvem, que façamos três. Então, vamos colocar todo mundo numa mesa de negociação nas Nações Unidas, vamos colocar lá todo mundo envolvido para saber o que a gente pode fazer. Porque tudo o que não pode acontecer é ter um conflito armado entre Irã e Israel, entre Irã e qualquer outro país, ou seja, vamos construir a paz. E a paz exige mais sensatez, mais conversa e mais diálogo.

P- Qual seria a posição do Brasil se você vir que o Presidente não está tão disposto e aberto para o diálogo?

R– Ora, veja, se o Presidente do Irã não estiver de acordo com o Brasil nós vamos tomar a decisão em função da conversa. Eu, se começar a dizer agora qual é o meu comportamento se ele tiver esse ou aquele comportamento, daqui a pouco estão dizendo para mim: “Nem vá ao Irã. Não precisa visitar o Irã”.

Como eu sou um homem que nasci na política, no diálogo, acredito no diálogo, governei com o diálogo, eu quero conversar com o Irã, como eu quero conversar com o Obama, como eu quero conversar com o Sarkozy, como eu conversar com o Medvedev, como eu quero conversar com o Hu Jintao sobre o assunto, com o Gordon Brown. Eu já disse para eles: é preciso evitar, a qualquer custo, que haja uma guerra, que haja um conflito armado. A quem interessa, nesse momento, um conflito armado?

P- Mas uma sanção seria uma possibilidade última?

R– É que eu penso, eu penso que uma medida vai gerando outra medida, que vai gerando outra medida, daqui a pouco a gente está em uma encalacrada. Eu não quero que se repita com o Irã o que aconteceu com o Iraque. Não é prudente para o mundo, não é prudente para o Irã, não é prudente para vencedores ou para derrotados, porque os ferimentos que vão ficar disso tudo serão difíceis de serem cicatrizados. Então, o Brasil, como é um país de índole pacífica, nós somos um povo extremamente pacífico, nós acreditamos na paz… Vocês estão lembrados, quando eu tomei posse aqui, queriam que eu brigasse com a Bolívia, eu não quis brigar com a Bolívia; queriam que eu brigasse com o Paraguai, eu não quis brigar com o Paraguai. Eu achava que eles estavam no direito de reclamar as coisas, porque são países menores, mais pobres. O que nós fizemos? Fizemos acordo, muitas conversas, e hoje vivemos em paz. Então, eu acredito que é possível construir isso entre Irã e Israel. Obviamente que não pode o Presidente do Irã negar a história de que houve Holocausto. Não é possível imaginar alguém dizer que não houve Holocausto e não é possível aceitar alguém dizer que vai acabar com outro país. Todas essas coisas são porque a situação está muito radicalizada. Então é preciso distencionar. E, na minha opinião, para que a gente possa distencionar essas negociações é preciso que a gente tenha novos interlocutores na mesa de negociação.

P- Queria perguntar também sobre a viagem que o senhor acabou de fazer para Cuba. Naquele momento estava a situação daquele dissidente, que estava em greve de fome, agora tem outro cara em greve de fome também. Como o senhor acha que Cuba deve lidar com essa situação dos dissidentes?

R– Olha, veja, eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos aqui em São Paulo entrassem em greve de fome e exigissem liberdade. Ora, veja, nós temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como eu quero que eles respeitem o Brasil, como eu quero respeitar aquilo que os Estados Unidos fizerem, cumprindo a lei. A partir daí, um cidadão, fazer uma greve de fome até se permitir morrer… Eu já fiz greve de fome e nunca mais eu farei, nunca mais eu farei. Eu acho uma insanidade judiar do próprio corpo. Mas não é apenas em Cuba que morreu um cara de greve de fome. Tudo mundo sabe o que acontecia na Irlanda, quanta gente do IRA morreu de greve de fome. Eu vejo muita gente que hoje critica o governo cubano por causa da morte, não falava nada da morte do IRA. Era como se fosse uma coisa normal morrer lá na Irlanda e não fosse normal as pessoas morrerem em outros países. Eu gostaria que não acontecesse. Agora, não posso questionar as razões pelas quais o cubano prendeu ele, como eu não quero que Cuba me questione pelas razões que pessoas estão presas no Brasil. Ninguém pode, ninguém pode colocar em dúvida o exercício da democracia no Brasil, ninguém pode colocar em dúvida. Não tem um país do mundo hoje e não tem um governo do mundo que tenha exercitado a democracia como nós exercitamos. Aqui neste país, para tomar as grandes decisões de políticas públicas, nós fazemos conferência nacional que envolve milhares de pessoas nas cidades, milhares de pessoas nos estados e depois milhares de pessoas aqui em Brasília, nas conferências nacionais, para a gente determinar nossas políticas.

P- Então, seria bom isso em Cuba, também, alguma coisa assim?

R– Veja, seria bom em qualquer país. Eu vejo que Cuba não faz, Estados Unidos não fazem, França não faz, Alemanha não faz. Não vejo ninguém fazer. Talvez eu faça por causa da minha origem sindical e da minha origem do movimento social, que é um hábito que eu aprendi a fazer na minha militância política. Quanto mais você tiver capacidade de ouvir as pessoas, menos chance você tem de errar. É simples isso. Essa é democracia que eu chamo de democracia partilhada – democracia compartilhada com a sociedade. Não é porque a sociedade me deu um mandato de presidente que eu posso fazer o que eu quero. Não! Vamos ouvir o povo para que ele seja cúmplice das boas coisas que nós fazemos no Brasil.

P- O senhor acha que o Brasil pode entrar em uma guerra comercial com os Estados Unidos?

R– Não, não. O Brasil, o Brasil não vai entrar em guerra. O que vai acontecer, o que vai acontecer é que os dois países têm muito juízo, os dois países têm uma diplomacia muito forte, os dois países são importantes na mesa de negociações da Organização Mundial do Comércio, os dois países vão sentar e vão se colocar de acordo. Veja, o Brasil está fazendo apenas aquilo que a OMC recomenda ao Brasil fazer. Quem está desrespeitando as regras do comércio internacional são os Estados Unidos da América do Norte. Então, o que o Brasil está fazendo é apenas cumprindo à risca aquilo que manda a normatização do comércio internacional. Cabe aos companheiros americanos perceberem que estão equivocados e voltarem atrás para que a gente volte à normalidade.

P- Acha que tem boas chances para evitar essas sanções?

R– Veja, eu acho que nós temos chance extraordinária de negociar. Esse é o objetivo. Agora, se o Brasil não fizesse nada é que seria muito desagradável. O Brasil recorre na OMC, a OMC toma uma decisão, dá ganho de causa ao Brasil, dá um prazo para os Estados Unidos cumprirem, eles não cumprem, não acontece nada, ou seja, está desmoralizada a Organização Mundial do Comércio. Então, como eu sou favorável a que as instituições multilaterais – políticas, econômicas e de comércio – sejam fortalecidas, eu acho que vale para os Estados Unidos e vale para Martinica; vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil. Tanto faz um país ter um bilhão de habitantes, como a China, e um país ter 200 mil habitantes, como uma ilha qualquer do Pacífico, a China tem que ter as mesmas obrigações que tem uma ilha pequena. É assim que a gente vai fazer um comércio mais justo, mais equitativo.

P- Presidente, entrando agora um pouco para o tema das eleições. Como você vê a Dilma posicionada agora, daqui até outubro, e você acha que aquele machismo que existe no Brasil e na região da América Latina pode ser… pode atrapalhar a candidatura dela?

R– Olha, a primeira demonstração de que o machismo será derrotado foi a minha decisão. Por que eu indiquei uma mulher e não um homem? É porque eu acho que nós já vencemos essa etapa do preconceito contra a mulher. Se ele existir, ele é minoritário, ainda, na cabeça de reacionários. O que a pessoa precisa levar em conta para eleger um presidente é saber se a pessoa tem competência política, tem qualificação profissional e tem sustentação política. A Dilma tem tudo isso. A Dilma é altamente qualificada, altamente preparada para o debate político, tem uma capacidade gerencial excepcional. Portanto, eu estou indicando ao povo brasileiro alguém que eu acho que tem condições de dar continuidade ao que nós fizemos e fazer muito mais coisas.

P- O senhor acha que a Dilma seria alguém que poderia continuar o legado que tem se estabelecido com o senhor durante o seu mandato?

R– Eu acho que não só ela pode continuar, como ela pode aprimorar e fazer muito mais. Até porque nós já temos oito anos de experiência, ela participou ativamente de todo o processo de governança, portanto, ela sabe onde as coisas precisam ser melhoradas. E, certamente, ela vai fazer isso.

P- O senhor acha que poderia transferir a grande popularidade que o senhor tem para uma pessoa que nunca foi candidata?

R– Olha, o fato de ela nunca ter sido candidata pode ser uma vantagem para ela, porque a classe política não está muito no gosto do povo. O fato de ela não ser uma política tradicional pode ser uma vantagem comparativa para ela. Segundo, é sempre possível a gente fazer um pouco de transferência de voto. Mas obviamente que a Dilma vai ganhar as eleições por causa das qualidades que ela apresentar durante a campanha.

P- Pode ganhar na primeira volta (1º turno)?

R– Não sei, vamos disputar primeiro. Eu acho que ela tem todas as chances de ganhar as eleições. As pesquisas de hoje estão mostrando o potencial que tem a candidatura da Dilma. Mas nós ainda nem começamos a campanha. Vamos esperar, porque é importante a gente ter cautela, é importante a gente ficar muito, mas muito cauteloso, porque uma campanha eleitoral, às vezes, é uma guerra, nós precisamos trabalhar com a estratégia tática do nosso adversário. Por enquanto a Dilma está bem. A primeira etapa, eu acho que ela já venceu. Ela foi aceita pelo PT, foi indicada candidata pelo PT. Agora os outros partidos vão ter que se manifestar sobre a candidatura dela. Eu acho que uma boa parte vai se manifestar em apoio à Dilma. E a partir de junho começa a campanha.

P- E as especulações que tem, que ela seria mais autoritária que o senhor, ou mais à esquerda na frente econômica do que o senhor, o que o senhor acha disso?

R- Olha, é importante ficar atento, porque vai se levantar muita coisa contra a Dilma. É engraçado porque, nesse momento, as pessoas que antes tinham medo que eu fosse presidente da República, agora começam a dizer assim: “Bom, o Lula tudo bem, o Lula nós sabemos o que ele fez, ele negociava, ele conversava. E ela, o que vai fazer?”. Olha, a Dilma é uma mulher de muito bom senso, é uma mulher madura, uma mulher altamente competente. Ela tem negociado aqui dentro do governo. Obviamente que vão levantar, ela tem que estar preparada para isso e isso, na verdade, não vai atrapalhar a campanha porque as pessoas sabem, se a Dilma não tivesse condições, se a Dilma tivesse problemas, eu não teria indicado a Dilma. Eu não ia oferecer ao povo brasileiro, que me trata com um carinho excepcional, uma pessoa que eu não confiasse, confiasse 100%, não é meia confiança, é confiar 100% na integridade política dela, na competência política dela.

P- Presidente, falando um pouco sobre a questão ambiental. No governo do senhor, a deflorestação [desmatamento] da Amazônia caiu ao nível mais baixo de desempenho, de medição. Como pode fazer, como é possível ter sustentado esse declínio na taxa da destruição do bosque, da floresta, agora que está crescendo a economia, que tem mais demanda dos produtos da floresta?

R– É importante lembrar que o Brasil teve uma posição muito forte em Copenhague, porque nós tivemos uma decisão muito forte. O Brasil assumiu o compromisso de, até 2020, reduzir o desmatamento na Amazônia em 80% e reduzir a emissão de gás de efeito estufa, até 2020, entre 36 e 39%. Foi a proposta mais forte que chegou a Copenhague. Eu trabalho com a ideia de que a gente possa, em dezembro deste ano, no México, fazer um acordo definitivo sobre a questão do clima, e cada país assumir os seus compromissos, cada um cumprir e a gente viver com mais segurança daqui para a frente.

Nós estamos em um momento em que todos os grandes projetos, no Brasil, têm que levar em conta a questão ambiental. Isso agora é uma coisa cultural no País. Não existe possibilidade de você discutir o desenvolvimento se você não discutir a questão ambiental. Isso hoje tem mais clareza no País, tem clareza no governo e tem muito mais clareza nas decisões que nós tomamos no governo.

Portanto, meu caro, o Brasil quer ser exemplo para o mundo de como é importante manter as suas florestas em pé, tratar corretamente o meio ambiente para que o mundo possa não ser vítima do aquecimento global.

P- Senhor, um exemplo do que o senhor fala, tomando o meio ambiente, seria custo adicional para Belo Monte?

R- Veja, as pessoas, muitas vezes, discutem de forma equivocada. A energia hídrica é a energia mais limpa do mundo, mais tranquila, e o Brasil tem um potencial extraordinário. Belo Monte, por exemplo, nós diminuímos o lago em mais da metade do que era previsto originalmente. Vamos gastar uma fortuna para a gente poder fazer todo o cuidado, agir com todo o cuidado para que não haja degradação ambiental, para que a gente mantenha as populações ribeirinhas, os nossos indígenas vivendo tranquilamente. E isso nós vamos fazer com todos.
Logo, logo nós estaremos apresentando ao público brasileiro uma coisa chamada “hidrelétrica plataforma”. É uma espécie de hidrelétrica que vai funcionar como se fosse uma plataforma submarina, uma plataforma da Petrobras. Você vai fazer o desmatamento apenas para construir, depois você vai reflorestar todo o entorno, e só vai chegar na hidrelétrica, com os trabalhadores, de helicóptero. Vão trabalhar e depois retornam para casa sem ter caminho nem possibilidade de construir qualquer moradia próximo da hidrelétrica. É uma novidade que eu acho que vai ser muito importante para a apresentação que o Brasil quer fazer no México sobre a questão do clima.

P- Tem bastante preocupações sobre segurança no Rio para as Olimpíadas, mas o senhor acha que está no caminho certo? Antes de a gente começar, o senhor falou sobre uma revolução no País.

R– É, nós estamos, estamos no caminho certo. Veja, primeiro, na questão da segurança, nós estamos tratando com muito mais eficácia, nós apostamos na inteligência, apostamos na contratação de mais policiais federais, apostamos no Pronasci, que é você estabelecer uma política de vigilância e de segurança na comunidade. Isso está sendo implantado em várias regiões do Brasil, e, no Rio de Janeiro, tem tido uma atuação muito forte do governador Sérgio Cabral. Nós temos uma tese: o problema da segurança não é apenas o problema da polícia. O problema da segurança é a presença do Estado na comunidade, ou seja, o Estado levando educação, levando cultura, levando saúde, levando trabalho para que as pessoas percebam que o Estado está oferecendo oportunidade de sobrevivência. E é isso que nós estamos fazendo no Rio de Janeiro, e é isso que, certamente, nós vamos cuidar com muito carinho. Por isso que é importante, ainda, no final do ano, vocês irem visitar o Rio de Janeiro para vocês verem o que aconteceu no Pavão-Pavãozinho, na Rocinha, no Complexo do Alemão, em Manguinhos. Vocês vão ver a mudança que aconteceu no Rio de Janeiro.

P– Presidente, eu queria aproveitar para pedir um palpite para o senhor sobre a Copa do Mundo na África do Sul. Como acha que vai estar o Brasil aí nessa Copa? Dunga falou uma coisa: que jogador que está fora da Seleção é melhor do que o que está dentro. O senhor acha que está faltando algum jogador na Seleção?

R- Bem, eu acho que o Dunga fala com autoridade moral. É importante lembrar que em [19]90 o Dunga foi acusado do fracasso da Seleção brasileira na Itália, não é? E, em [19]94, o Dunga voltou e foi campeão do mundo nos Estados Unidos, como capitão da Seleção brasileira. No Brasil é o seguinte: cada um de nós é técnico. O Brasil tem 190 milhões de técnicos, todo mundo é metido a entender de futebol. Então, normalmente acontece. O técnico, que tem a responsabilidade de consultar seus assessores e convocar, de repente as pessoas ficam dizendo: “Ah, mas tal jogador que não foi convocado é melhor”. Se tem uma coisa que eu gosto no Dunga é que ele está convocando jogadores que, naquele momento, estão jogando melhor. Esse é um critério. O outro critério é o critério da confiança. Não basta o jogador ser bom, é preciso saber se o jogador tem a confiança do técnico no cumprimento das orientações táticas que o técnico dá, porque futebol é um esporte coletivo, ou seja, não basta você ficar rebolando sozinho, você tem que chegar no gol do adversário e marcar gol. E eu acho que o Dunga está fazendo um bom trabalho de equipe. Então, eu … O Dunga tem sido um técnico de sucesso no Brasil, mais do que muita gente famosa que dirigiu a Seleção brasileira.

P-Tem condições de ganhar, o Brasil, essa Copa?

R– Veja, o meu otimismo é tanto, que esses dias eu estava no México, com o presidente Calderón, e o presidente Calderón perguntou a mim se eu ia à abertura da Copa do Mundo, na África. Eu disse: à abertura eu não vou, eu vou ao encerramento da Copa do Mundo, na África, eu vou à final. Porque eu vou fazer, eu vou fazer uma viagem por cinco países africanos. Na sexta-feira que antecede a Copa do Mundo, eu quero fazer uma visita de Estado à África do Sul, no sábado eu descanso e no domingo eu vou ver a final. Mesmo que não seja o Brasil, eu teria que estar lá porque, como o Brasil vai sediar 2014, nós teríamos que participar do encerramento lá.

P- Deixamos o tema de 2014, entramos para 2016, o senhor acha que o Brasil está pronto para sediar a Copa e para os Jogos de 2016? E o Presidente acha que vai estar no mandato para os Jogos Olímpicos de 2016?

R– Olha, o Brasil vai se preparar para chegar em 2014, [para] o Brasil realizar a mais importante Copa do Mundo que vocês já participaram. Eu espero que todos vocês estejam aqui como jornalistas para poder cobrir a Copa do Mundo. Acho que vai ser um bom momento para o Brasil. E depois as Olimpíadas. O Brasil… nós vamos trabalhar duro, eu vou trabalhar enquanto brasileiro, enquanto cidadão brasileiro, muito duro, para que a gente possa realizar uma grande Olimpíada. Porque é importante a gente mostrar ao mundo que os Jogos Olímpicos não são um evento esportivo de primeiro mundo e que o Brasil tem condições de realizar Jogos Olímpicos extraordinários. O que nós precisamos é ganhar muita medalha, e aí nós precisamos incentivar o esporte e trabalhar muito o esporte. Ora, eu sei que a única coisa que eu espero é estar vivo para poder participar dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo como torcedor. As pessoas perguntam: “Você vai voltar em 2014?” É uma pergunta muito difícil de responder, porque a Dilma, eleita presidente, e ela estando bem, é direito legítimo dela querer ser candidata à reeleição. Ora, senão você estará ferindo o princípio da isonomia. Então, para mim, o que importa é estar vivo e estar lá vendo as Olimpíadas, onde o Brasil vai ganhar muita medalha, e certamente a Copa do Mundo, onde nós vamos ganhar. Não é possível que o Brasil não ganhe a Copa do Mundo aqui, que repita [19]50. De qualquer forma, o Brasil está mais estruturado.