Comunidade Vila Autódromo rejeita remoção

“Olimpíadas para todos, sem remoção!”, “Esporte é vida, não estresse. Políticas Públicas já!”. As faixas colocadas em um pequeno campo de futebol expressam o repúdio da comunidade Vila Autódromo ao projeto de remoção de centenas de famílias pobres para a construção no local de equipamentos para os jogos olímpicos de 2016.

Não é a primeira vez que a comunidade se mobiliza para evitar a remoção. A primeira vez ocorreu em 1992, quando o município do Rio alegou “dano estético e ambiental” em ação judicial ajuizada no Tribunal do Rio de Janeiro requerendo a retirada total da comunidade. A Barra da Tijuca já havia se tornado um ponto central para novos empreendimentos imobiliários, comerciais e esportivos.

A comunidade, por sua vez, organizou-se e em apenas dois anos, os moradores integraram um programa de regularização fundiária em que o poder público estadual, proprietário da área, reconheceu que o local era utilizado, há décadas, para moradia. No mesmo passo, a Vila Autódromo articulou sua defesa jurídica e impediu a remoção judicial das casas.

Eduardo Paes recebe moradores

No começo do mês, foi realizada uma reunião na sede da Prefeitura do Rio, entre o prefeito Eduardo Paes, lideranças da Vila Autódromo e defensores públicos do Estado do Rio.

Na abertura da reunião, o prefeito prometeu que não vai tomar nenhuma medida sem dialogar antes com os moradores da comunidade, e disse ainda ter a esperança de que as Olimpíadas signifiquem uma transformação social e melhorias concretas para toda a cidade, como a urbanização de favelas. No caso da Vila Autódromo, ele propôs uma indenização ou então o reassentamento das famílias, ou seja, a mudança para localidades próximas de onde estão suas residências atualmente.

Nascimento da Vila Autódromo

A situação vivenciada pela Vila Autódromo não se distingue da história de muitas outras comunidades, favelas e bairros pobres das metrópoles brasileiras. Originalmente uma vila de pescadores, Vila Autódromo torna-se, nos anos 1970, uma oportunidade para a moradia de centenas de migrantes operários e trabalhadores informais que chegaram à região para a construção do autódromo de Jacarepaguá, do metrô e dos novos empreendimentos imobiliários que despontavam no local. Outras famílias foram ali assentadas em razão da remoção de outra comunidade, chamada Cardoso Fontes.

Pescadores, operários, desempregados, trabalhadores informais, famílias removidas e migrantes formam, então, a rede social que irá paulatinamente urbanizar e garantir as condições de vida na comunidade. O sistema utilizado é o denominado “mutirão”, pelo qual os moradores constroem não só suas casas, mas todo o espaço urbano, incluindo ruas, calçadas, rede de distribuição de água, sistema sanitário, creches, escolas e espaços de convívio, como o campo de futebol, a igreja e a sede da associação de moradores.