Ex-torturador argentino assume crimes da ditadura
Pela primeira vez, o ex-torturador argentino Jorge Acosta assumiu a responsabilidade por crimes cometidos durante a última ditadura militar no país (1976-1983). O ex-capitão, conhecido com “El Tigre”, atuou como chefe de inteligência de uma unidade da Esma (Escola de Mecânica da Marinha) entre 1976 e 1978.
Publicado 19/03/2010 11:27
Nesta quinta-feira (18) durante uma das etapas do julgamento de agentes da repressão daquele período, Acosta admitiu em tribunal ser "absolutamente responsável" por ter ordenado operações de repressão na ditadura.
Na audiência aberta ao público, Acosta confirmou também a prisão de pessoas na Esma. No entanto, em referência ao combate da ditadura às guerrilhas, alegou que "violações aos direitos humanos são impossíveis de serem evitadas em uma guerra". Durante a repressão, a escola se tornou uma das principais prisões clandestinas da Argentina, por onde passaram cerca de 5 mil pessoas.
"Quero homenagear todas as vítimas fatais", continuou o militar aposentado, ao assumir a responsabilidade por algumas das mortes que, segundo ele, aconteceram sob o seu comando.
Atualmente com 68 anos, o ex-capitão é julgado ao lado de outros 17 ex-torturadores no chamado "julgamento da Esma" por crimes contra a humanidade.
O processo contra Acosta não é importante apenas para os argentinos. Ele é acusado de ter atirado no rio os corpos das freiras francesas Léonie Duquet e Alice Domon, e de ser cúmplice do ex-capitão Alfredo Astiz na morte de três mães da Praça de Maio.
Anjo loiro da morte
Ontem, foi ouvido o depoimento de Astiz, que afirmou que seu papel era "lutar contra o terrorismo que, apoiado por Cuba e União Soviética, buscava tomar o poder por meio da violência".
Conhecido como o "Anjo Loiro da Morte", Astiz acusou o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), afirmando que ele dera "um verdadeiro golpe de Estado" com a renovação da Suprema Corte, em 2003. Na época, o número de julgamentos por crimes políticos na ditadura aumentou significativamente.
Assim, como "El Tigre", Astiz não é acusado apenas na Argentina, mas também na Europa. Ele já foi condenado à prisão perpétua à revelia na França em 1990, e na Itália, em 2007. Astiz também teria tido envolvimento no desaparecimento da cidadã argentino-sueca Dagmar Hagelin e do escritor e jornalista Rodolfo Wash.
Acusação geral
Na segunda-feira (15), foi ouvido o ex-capitão Adolfo Donda, que acusou todos os membros das forças armadas de participar da repressão ilegal. Foi ouvido também o capitão médico Carlos Capdevila, que admitiu ter trabalhado na enfermaria da Esma. Ele afirmou que todas as acusações foram inventadas pelos sobreviventes, informou o jornal argentino Página 12.
Considerada uma das ditaduras militares mais sangrentas da América do Sul, a da Argentina terminou com cerca de 30 mil pessoas desapareceram, segundo estimativas oficiais.
Fonte: Opera Mundi