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Para melhor entender o mundo de hoje

A partir desta sexta (19) até domingo (21) realiza-se em São Paulo o primeiro módulo do curso de Política Internacional do Cebrapaz. Com o sugestivo título “Para melhor entender o mundo de hoje”, os partidários da paz no Brasil debaterão temas palpitantes da conjuntura internacional, como as causas das guerras imperialistas, as crises do sistema capitalista, a inevitável luta dos trabalhadores e dos povos por uma nova sociedade, livre da opressão e da exploração.

Por José Reinaldo Carvalho*

Conhecerão análises sobre a marcante época do pós-segunda guerra mundial, caracterizada pelo confronto entre o sistema imperialista, representado pelos Estados Unidos, e o sistema socialista, que teve como atores principais durante quase toda a segunda metade do século passado a União Soviética e a China Popular.

Tomarão contato com informações preciosas sobre as lutas anticoloniais e de libertação nacional que percorreram a Ásia e a África e os embates democráticos e antiimperialistas tão intensos na América Latina e Caribe, um dos quais resultou na Revolução Cubana, que mudou a face da região.

A grade curricular prevê exposições e debates sobre a crise do capitalismo, os mais importantes conflitos da atualidade e as insanáveis contradições econômicas, políticas e sociais que se encontram na base das lutas populares deste início de século.

Trata-se de uma iniciativa feliz e oportuna. O movimento social da atualidade, as forças de esquerda, entre elas os antiimperalistas, os socialistas, os comunistas, a ampla militância anticapitalista carecem de informação, análise, interpretação e opiniões consistentes acerca dos desenvolvimentos do quadro mundial. O evento do Cebrapaz é uma modesta mas importante contribuição nesse sentido.

A esquerda viveu nas duas últimas décadas a síndrome da derrota que levou alguns à mais torpe capitulação. Apostasias, renegações, releituras e falsificações da história, passaram a caracterizar a conduta dos que achando-se impotentes para enfrentar a dura realidade de correlações de força adversas, transformaram-se em seus apologistas. Tornou-se um método corrente vender falsificações como verdades científicas irrefutáveis, novo tipo de dogmatismo nestes tempos de niilismo e pragmatismo.

Tais visão e comportamento foram particularmente notáveis em relação ao imperialismo estadunidense, seu lugar no mundo contemporâneo e ao estado e tendências do sistema capitalista. Quantos discursos ouvimos sobre a incolumidade da hegemonia norte-americana, gloriosamente restabelecida nos “felizes” anos Clinton, enaltecidos como a “nova era de ouro da história”?

O próprio ex-presidente dos EUA bravateou que o vertiginoso crescimento da economia do seu país deitava por terra os postulados das teorias da mais valia do marxismo. Na esquerda fizeram-lhe eco tentando impor aos programas das forças que se empenhavam para exercer papel de vanguarda na luta dos trabalhadores o pressuposto de que a principal tendência do sistema capitalista é a expansão e não a estagnação e a decadência, como preconizam os marxistas-leninistas.

Dessas falsas premissas surgiram falsas conclusões, agora recorrentes no período em que o imperialismo norte-americano está em franca ofensiva para a recuperação da sua imagem. Em face do fracasso das teses apologéticas ao sistema, entraram em parafuso na busca de explicações para a crise que sobreveio com dureza e amplitude maiores que em períodos anteriores.

Como Kautskis redivivos, passaram a interpretar o incontornável declínio do imperialismo norte-americano como a abertura de caminho para uma multipolaridade ultraimperialista, tendencialmente inclinada à paz.

Na base de tal concepção, sobejaram panegíricos à União Européia, exibida como protótipo mais acabado da multipolaridade, do multilateralismo e da integração. Querem contornar o incontornável, que a crise do capitalismo, o declínio dos EUA e a acentuação das tendências regressivas do sistema, agravam as contradições econômicas e geopolíticas, com caráter inter-imperialista, fazendo dos elementos de multipolaridade fatores de conflito e não de distensão nem de paz.

Felizmente, “verde é a árvore da vida”, que não cabe em tão obscuras especulações. Quem luta pela paz, o faz porque conhece, interpreta corretamente e quer transformar o mundo. Entende que o sistema está em crise e sua superação equivale a uma revolução, necessidade objetiva para salvar da barbárie a humanidade.

Os militantes da paz não esperam da multipolaridade sob hegemonia de potências imperialistas a senha para um mundo sem guerras. Antes intuem, pressentem e compreendem que nelas estão contidas as contradições interimperialistas, base para crises e conflitos políticos de dimensões mundiais. Estão conscientes de que somente a luta dos povos e não os conchavos dos poderosos impedirá as guerras.

O curso de Política Internacional do Cebrapaz é, assim, iniciativa a ser replicada e multiplicada. O Portal Vermelho, também partidário da visão de que o imperialismo não é invencível e será derrotado, difundirá seus conteúdos, suas perguntas, seus debates, assertivas e respostas.

*Editor do Portal Vermelho