Salvador completa 461 anos com muitos desafios

Salvador completou 461 anos nesta segunda-feira (29/3) sem muito que comemorar. Para marcar a data, a Prefeitura organizou um show musical na Praça Castro Alves, mas o povo soteropolitano merecia um presente bem maior: uma cidade mais justa, com oportunidades iguais para todos. Esta é uma das principais demandas dos mais de 3 milhões de habitantes de Salvador, que é uma das que mais crescem no Brasil.

Fundada por Thomé de Souza em 29 de março de 1549, a cidade nasceu para ser a capital do Império português nas Américas e em pouco tempo se transformou no principal entreposto comercial da época. Do crescimento econômico e cultural nasceu também a triste função de ser o principal ponto de entrada de negros africanos escravizados no Brasil. As marcas desta época ainda são visíveis no Centro Histórico, onde um exemplar do pelourinho – tronco onde os negros eram castigados – convive pacificamente com os grandes casarões coloniais, nos quais vivia a elite escravocata.

Foi nesta parte da cidade que nasceram as grandes insurreições populares como a Revolta dos Malês, que sacudiu Salvador em 1835, a Sabinada, em 1837, e a guerra pela independência, finalizada em 2 de julho de 1823, com a entrada triunfante das tropas brasileiras na capital da Bahia. Com vocação contestadora, a população de Salvador teve papel destacado também na resistência às ditaduras que ocorreram no país ao longo do século XX, inclusive a iniciada com um golpe militar em abril de 1964. A população foi às ruas também para pedir eleições diretas em 1984 e para protestar contra os desmandos do carlismo na Bahia em diversas oportunidades.

Uma das manifestações de maior expressão ocorreu em 16 de maio de 2001, quando a Polícia Militar invadiu o campus da Universidade Federal da Bahia e espancou estudantes que pediam a cassação do então senador Antônio Carlos Magalhães, acusado de violar o painel do Senado. A repressão da PM ganhou destaque nacional e contribuiu de forma decisiva para a renúncia de ACM alguns dias depois. Muitos outros protestos tiveram espaço nas ruas da cidade ao longo dos anos. Ainda hoje, com grande freqüência, o trecho entre o Campo Grande e a praça Castro Alves é tomado pelos trabalhadores e o movimento social para cobrar direitos.

Falta planejamento

A capital baiana vem crescendo de maneira assustadora. Em 40 anos, a população aumentou em mais de quatro vezes, passando de 700 mil habitantes em 1970, para pouco mais de 3 milhões, em 2010. De acordo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pesquisados em 2008, Salvador tem 9 mil habitantes por quilometro quadrado. A concentração representa a maior densidade populacional entre as capitais brasileiras.

Para o sociólogo Cezar Miranda, o desenvolvimento apontado em Salvador não tem relação com o direito à qualidade de vida. “O déficit habitacional da cidade hoje é de 150 mil moradias e o crescimento do mercado imobiliário privilegia apenas as classes altas. Além disso, os impactos ambientais trazem efeitos irreversíveis. É preciso promover um planejamento ordenado para Salvador”, salienta.

Outro problema grave, é que Salvador não se preparou para ser uma grande metrópole, cresceu desordenadamente sem investimentos em infraestrutura. Um grande exemplo da falta de planejamento está no transporte coletivo. Salvador não possui um sistema de transporte público que seja capaz de atender à demanda da população. Pensado como alternativa, o metrô continua em construção a mais de 10 anos e ainda não tem previsão para começar a funcionar. O resultado é o aumento de automóveis particulares nas ruas. Os engarrafamentos, antes restritos aos horários de pico, tornaram-se rotina.

Para o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Bahia (IAB-BA), Daniel Colina, a cidade sofre hoje com a falta de um plano de crescimento ordenado. Com o crescimento da capital e a influência sobre as cidades vizinhas, Salvador cresce para os limites e começa a se encontrar com os municípios da Grande Salvador. E essa Região Metropolitana, lembra o presidente a IAB, precisa ser pensada e planejada como um todo.

Apesar dos problemas Colina é otimista e defende um amplo debate com toda a sociedade. O arquiteto acredita que com vontade política, Salvador pode mudar o rumo e garantir lugar entre as grandes cidades do mundo. Uma boa oportunidade para repensar e buscar uma Salvador melhor e mais humana vem com a Copa do Mundo de 2014. Maciços investimentos federais, se bem direcionados e planejados, garantirão benefícios para a população, mesmo depois da competição.

De Salvador,
Eliane Costa com agências