Alexandre Lucas – Moda: A beleza do tempo presente

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A estética é temporal, portanto o gosto é volúvel e, em cada época, os seres humanos entranham-se no tempo e no espaço mantendo relações sociais e culturais que interferem e são interferidas pela moda. O vestir, o pintar-se e o enfeite são alegorias carregadas de sentimentos grupais e de pertencimento.

Partindo desta premissa, podemos afirmar que nos produzimos (nos emperiquitamos) para estarmos de acordo com os padrões hegemônicos de beleza de uma determinada época e lugar, considerando ainda, que além dos padrões hegemônicos, teremos a estética dos grupos que estabelecem suas padronizações de beleza como forma de constituir elos de identificação e de pertencimento, a mesma lógica adotada pelos modelos estéticos de moda da maioria da população.

Esse sentimento de pertencimento é algo construído historicamente e socialmente, capacidade que somente os seres humanos possuem. A relação de pertence marca laços de identidade e aconchego que vão sendo estabelecidas de forma dialética, numa relação em que eu faço a moda e a moda me faz, parafraseando analogicamente a expressão “eu transformo o meio e esse meio me transforma”.

A moda só pode ser uma dimensão da cultura e no conceito marxista a cultura é um produto histórico-social no qual os seres humanos produzem e reproduzem materialmente a sua existência, a partir das suas relações sociais marcadas pela lutas e antagonismos de classe. Portanto a moda não exprime somente o caráter de uma época, mas também as próprias contradições internas da sociedade e a divisão de classes sociais.

Essas afirmativas não negam a individualidade do ser, mas a reconhece dentro de um contexto objetivo no qual ele mantém relações com condicionamentos sociais ou de rejeição a parte destes condicionamentos, estabelecendo e criando novas relações com a sua estética pessoal a partir das formas anteriormente constituídas.

Essa compreensão é discordante da afirmativa que diz “eu me visto para mim”, pois o vestir-se para si, é antes de tudo um vestir-se socialmente, ou seja, nos vestimos, nos pintamos e nos enfeitamos de acordo com as formas em que o grupo e a sociedade da qual pertencemos a faz. Caso essa afirmativa fosse falsa, estaríamos nos deparando cotidianamente com pessoas usando roupas de peles de animais, homens usando paletós nas feiras populares ou indo para o trabalho com armaduras, mulheres com vestidos medievais em plena manhã ou com tecidos amarrados pelo corpo.

No entanto, quando colocamos que “me arrumo para me sentir bem”, esse “sentir bem” nos remete a uma ligação com aceitação do grupo ou da sociedade. Por exemplo, podemos nos sentir bem ao vestir e ficar com peças íntimas dentro de casa, mas dificilmente teríamos a mesma sensação se fossemos para praça com essas mesmas roupas.

Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo e artista/educador

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