Um final decente para os pneus
A cidade de Nova Iguaçu mais uma vez assume a dianteira na questão ambiental ao conceder a licença para o funcionamento da primeira fábrica do estado do Rio que irá transformar pneus velhos em combustível para a indústria cimenteira. Por Fernando Cid*.
Publicado 05/04/2010 20:44 | Editado 04/03/2020 17:04
A empresa pertence ao grupo Francês Lafárge funcionará no bairro Alvorada, vai gerar 40 empregos diretos e terá capacidade para beneficiar 600 mil pneus por mês. No dia 30 de março, tive o privilégio de inaugurar a fábrica e ver funcionar a máquina que retira o aço e tritura a borracha dos pneus. Em menos de uma hora, dois mil pneus velhos foram processados. Deixaram de ser lixo e viraram energia.
Não é exagero dizer que os pneus que equipam automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas são fundamentais para o desenvolvimento do país e da própria humanidade. Rodam milhares de quilômetros por este Brasil afora, mas quando ficam velhos, inservíveis para o fim a que se destinam, se transformam num sério problema ambiental e de saúde pública. É comum vê-los jogados pelas ruas ou em beira de rios, se transformando em criadouros de mosquitos ou então queimando em algum lugar qualquer.
A fábrica de Nova Iguaçu tem capacidade de receber e processar todos os pneus que se transformam em lixo e em dor de cabeça para as prefeituras e empresas de limpeza urbana da região metropolitana do nosso estado.
A forma de fazer com que esse lixo de borracha e aço chegue até a fábrica vai depender da organização das prefeituras. Nossa meta é montarmos os “eco-pontos”, locais destinados para a coleta e armazenamento temporário. Mas não é só o poder público que precisará se mobilizar, pois as empresas que vendem pneus, as borracharias e principalmente os fabricantes têm a obrigação de ajudar a dar o destino correto aos pneus velhos. À população caberá um papel importante, que é o de denunciar aqueles que insistirem em jogar nas ruas os pneus inservíveis ou queimá-los, ação que provoca grave prejuízo ao ambiente em que vivemos.
Outro ponto de destaque é o quanto pode ser saudável a relação entre poder público e iniciativa privada. Neste caso, quando soubemos da intenção da Lafárge em instalar essa fábrica aqui no Rio, imediatamente entramos em contato com sua diretoria e colocamos a Prefeitura como facilitadora. Em pouco tempo (seis meses aproximadamente) conseguimos transformar um projeto em uma realidade: a fábrica está funcionando e juntos, Prefeitura e empresa, conseguimos dar um destino final digno para os pneus, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico. No final, ganhamos todos e certamente a natureza agradecerá.
A inauguração da fábrica não teve cobertura de imprensa e poucas pessoas estiveram presentes, apesar do esforço de mobilização. A data escolhida talvez não tenha sido apropriada, pois coincidiu com a saída de algumas autoridades, em função do prazo eleitoral para os que vão disputar eleição. Mas a verdade é que pela dimensão e importância da fábrica, sua inauguração merecia ser testemunhada pelo Ministro do Meio Ambiente, pelo Governador do Estado, prefeitos, pelos secretários da área e por todos aqueles que lutam para conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental.
*vereador do PCdoB e ex-secretário de Meio-Ambiente e Agricultura de Nova Iguaçu.