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 Bush sabia que presos de Guantânamo eram inocentes

 O ex-presidente estadunidense George W. Bush e vários de seus mais próximos colaboradores foram informados sobre a inocência da maioria dos presos no cárcere da Base Naval de Guantânamo, em Cuba, segundo dados revelados no final da semana passada.

De acordo com um relatório publicado pelo diário britânico The Times, a administração de Bush manteve atrás das grades os reclusos, apesar de saber que não pertenciam a grupos terroristas, como alegavam publicamente.

As acusações foram feitas pelo coronel Lawrence Wilkerson, então assessor do ex-secretário de Estado Colin Powell, que testemunhou num processo interposto por um dos detidos na prisão de Guantânamo.

É a primeira vez que um alto funcionário da administração Bush implica o presidente, o seu vice Dick Cheeney e o secretário da Defesa Donald Rumsfeld na decisão de não libertar os presos que se sabia inocentes. De acordo com Wilkerson, todos teriam encoberto o erro por temor de que a já questionada política antiterrorista da Casa Branca ficasse ainda mais desgastada.

O ex-oficial relatou que a maioria dos 742 detidos que foram os primeiros a chegar à prisão ilega, com idades compreendidas entre 12 e 93 anos, não foram presos pelos norte-americanos, tendo sido capturados por afegãos e paquistaneses e entregues às tropas dos EUA a troco de dinheiro, nunca tendo sido produzida qualquer prova de crime ou mesmo esclarecido o motivo da sua captura.

"Eu discuti o assunto dos presos de Guantânamo com o secretário Powell. Percebi que na opinião dele não eram apenas o vice-presidente Cheney e o secretário Rumsfeld, também o presidente Bush estava envolvido em todo o processo de decisão sobre Guantânamo", afirmou Wilkerson, citado pelo "Times".

Wilkerson, que serviu mais de 30 anos no exército norte-americano, diz que para a administração Bush "era politicamente impossível libertá-los", porque "os esforços para as detenções se revelariam como a operação incrivelmente confusa que realmente foi".

Segundo o jornal britânico, a testemunha é especialmente crítica com Cheney e Rumsfeld, a quem acusa de estarem dispostos a enclausurar e abusar de centenas de indivíduos inocentes se fora conveniente para seus propósitos antiterroristas.

Quanto a Cheeney, o militar diz que "ele não tinha a mínima preocupação com o fato de a grande maioria dos detidos em Guantânamo estarem inocentes… Se centenas de pessoas inocentes tivessem que sofrer para que alguns terroristas hardcore fossem apanhados, pois que assim fosse".

Nessa altura, os EUA precisavam encontrar elementos que provassem a ligação de Saddam Hussein e os atentados do 11 de Setembro, "justificando assim os planos da Administração para a guerra" com o Iraque.

Um porta-voz do ex-presidente disse que Bush não faria comentários sobre as declarações de Wilkerson. O Times não obteve resposta de Dick Cheney e uma fonte próxima de Donald Rumsfeld negou as acusações, acrescentando que o antigo secretário da Defesa sempre tentou manter o mínimo de presos possível em Guantânamo.

O processo contra um conjunto de oficiais norte-americanos foi interposto por Adel Hassan Hamad, um sudanês que alega ter sido torturado por diversas vezes durante os anos em que esteve ali detido, entre Março de 2003 e Dezembro de 2007.

Com Esquerda.net