Memorando secreto: EUA não descartam opção militar contra Irã
Os Estados Unidos devem desenvolver novas alternativas para agir em relação ao Irã, inclusive a opção militar, caso fracassem nos esforços diplomáticos, na mobilização de aliados e na imposição de sanções para forçar o país persa a abandonar o que a Casa Branca e o Pentágono consideram planos e ações para fabricar armas nucleares. A revelação foi feita neste domingo, 18, pelo jornal New York Times.
Por José Reinaldo Carvalho
Publicado 18/04/2010 11:29
O diário novaiorquino informou que logo após o vencimento do prazo, em finais de 2009, dado por Obama ao Irã para estabelecer negociações diplomáticas, o secretário da Defesa Robert Gates enviou a altos funcionários da Casa Branca um memorando secreto afirmando que os Estados Unidos não têm uma política efetiva de longo alcance para negociar com o Irã e deter os progressos do país no sentido de obter capacidade nuclear. É uma espécie de advertância, a partir da constatação de que os Estados Unidos não estão preparados para todas as contingências relativamente à questão iraniana. Por isso, o documento está sendo considerado como um “chamamento ao despertar”.
O documento é mais uma evidência de que os Estados Unidos se preparam para mais uma ação militar no Oriente Médio, tudo indicando que o Irã é o alvo mais imediato. No momento, o presidente Obama encontra-se empenhado na conquista de aliados, seja através de pressões, seja pela tentativa de criar um ambiente político e diplomático para legitimar multilateralmente as suas ações, nos marcos de uma nova tática de política externa, para aparentar diferenciação com seu antecessor. Este empenho tornou-se evidente com a realização da Conferência sobre Segurança Nuclear, na semana passada. Foi uma tentativa dos Estados Unidos de exibir respaldo diplomático e liderança na luta contra “o terrorismo nuclear” e a favor não proliferação. Mas os verdadeiros objetivos de Washington ficaram claros com as ameaças ao Irã e à Coreia do Norte.
Quanto à atração de aliados, ainda são pobres os resultados da ofensiva diplomática de Washington. Não deram resultados as pressões sobre o Brasil, rechaçadas pelo presidente Lula, e permanece sem confirmação oficial a notícia de que a China teria dado aval às sanções contra o Irã. Rigorosamente, até agora, o passo dado pelo país asiático foi aceitar “discutir o assunto” .
A notícia divulgada pelo New York Times neste domingo confirma o que as forças consequentemente pacifistas e antiimperialistas têm reiterado. “A política de guerra preventiva dos Estados Unidos permanece em curso”, declarou na última sexta-feira, 16, o presidente do Partido Comunista do Brasil, Renato Rabelo, durante reunião da Comissão Política Nacional do partido. Por sua vez, a presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, em pronunciamento no Seminário sobre a situação internacional e a luta pelo desarmamento, promovido em conjunto com o Senado brasileiro, a Fundação Alexandre de Gusmão, o Cebrapaz e a Universidade de Brasília, já havia declarado no dia 7 de abril, que os Estados Unidos anunciaram a chamada nova política nuclear sem se comprometer a não ser o primeiro país a usar a bomba atômica . “A política dos Estados Unidos não avança no sentido do
desarmamento e permanece como uma ameaça aos povos”.
A diferença do momento político atual para o anterior, principalmente se comparamos com a década de 1990 e a primeira década do século21 está principalmente nas melhores condições para a luta dos povos e das nações. A realização das cúpulas do Bric edo Ibas na semana passada em Brasília apontam nessa direção. As conquistas democráticas, nacionais e populares na América Latina e a resistência no Oriente Médio também são sinais dos
novos tempos. Mas a política do imperialismo segue em sua essência invariável. Retórica multilateralista, mas na prática uma diplomacia baseada em pressões. Discurso pacifista, mas preparação efetiva para a guerra.
Há fortes razões no quadro internacional para insistir na luta antiimperialista.