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Mudança climática: Cúpula sobre clima enfatiza a ação local

Embora a mudança climática seja um problema global, a intervenção dos governos locais em comunhão com os vizinhos é fundamental para enfrentá-lo.

Por Inês Acosta, para a agência IPS

Com esta premissa, e para avaliar estratégias, estarão reunidos durante essa semana, na capital uruguaia, autoridades regionais de diversas partes do mundo. A 3ª Cúpula Mundial de Regiões sobre Mudança Climática, que acontecerá entre 20 e 22 deste mês, tem por objetivo “olhar para o futuro e debater as políticas para responder aos impactos e às vulnerabilidades” ante este fenômeno, disse a coordenadora residente da Organização das Nações Unidas no Uruguai, Susan McDade.

Mais de 500 delegados de governos, entidades sociais e personalidades da América, Europa, África e Ásia se credenciaram até o momento para este encontro, patrocinado pela Rede de Governos Regionais pelo Desenvolvimento Sustentável (nrg4SD), mas seus organizadores calculam que o número de participantes chegue a mil. A Cúpula de Montevidéu é organizada pelo Congresso de Intendentes, órgão que coordena as políticas dos 19 departamentos em que se divide o Uruguai, e é apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

“É uma instância muito importante para que entidades e governos locais possam compartilhar experiências sobre como estão lutando contra a mudança climática, além de conhecer seu impacto nas pessoas que vivem nas cidades, nas províncias ou nos Estados”’, disse à IPS a canadense McDade, também representante residente no Uruguai do Pnud e do Fundo de População das Nações Unidas. A seu ver, os governos locais têm muita relevância no combate aos efeitos derivados da variabilidade climática, já que se encontram na primeira linha para poder perceber os impactos sobre a população, os sistemas agrícolas e os recursos hídricos.

Por sua vez, o presidente do Congresso de Intendentes, Ambrosio Barreiro, disse à IPS que “no caso de conseguirmos o convencimento e a responsabilidade dos governos regionais, onde cada um assume sua cota na mitigação, certamente todos procederemos melhor do que se isso for feito diretamente por um organismo”. Não está previsto que desta reunião participem organizações ambientalistas, mas outros atores sociais, como sindicatos e universidades, ao contrário da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, que também acontece esta semana na cidade boliviana de Cochabamba, onde a sociedade civil terá voz.

Como explicou McDade, a intenção do encontro “não é negociar um texto nem ter um documento, mas ver as linhas estratégicas e decidir como utilizar as conclusões para ter incidência na adoção de medidas”. Também afirmou que “esta cúpula é importante para analisar como ter maior impacto nas discussões que estão acontecendo antes do encontro no México”, no final deste ano, por ocasião da 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16).

“Há muita insatisfação por parte dos governos locais por não terem participação nessas negociações formais, por isso muitos dos países-membros expressam de uma forma muito clara que querem processos inclusivos, mais transparentes e mais democráticos na forma de discutir”. Carlos Baráibar, membro da comissão de Meio Ambiente do Senado uruguaio, também se disse convencido de que “a ação dos governos municipais deve ter um papel importante” na questão climática.

As autoridades locais têm a missão de “iniciar medidas que levem à mitigação e adaptação à mudança climática e impulsionar os governos nacionais a gerarem um acordo que seja obrigatório e com mandatos para todos os signatários na COP-16, no México”, disse este legislador da esquerdista e governante Frente Ampla. O uso, a disponibilidade e a variabilidade da água, a vulnerabilidade social e produtiva, o emprego e a infraestrutura são algumas das temáticas a serem abordadas na cúpula. “O tema transversal é quais são os mecanismos de financiamento para lutar contra a mudança climática”, disse McDade.

Está previsto, ainda, apresentar nesta instância a primeira experiência piloto de estratégias para enfrentar a mudança climática em nível regional no mundo, que é implementada no Uruguai pela Agenda Metropolitana, que inclui os departamentos de Canelones, San José e Montevidéu (no sul). A iniciativa “Por territórios com menos emissões de gases-estufa e mais resistentes à mudança climática” é um plano conjunto do Pnud e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

“Este programa nasceu do argumento de que meio ambiente e desenvolvimento são duas faces da mesma moeda e que não se pode enfrentar a degradação ambiental sem entender como situações de pobreza às vezes não deixam outra opção às comunidades, famílias e aos indivíduos”, disse McDade. “No caso do Uruguai, uma das áreas prioritárias é o manejo do lixo sólido, que aqui é um problema ambiental local que envolve a população de menor recurso”, explicou. A intenção do plano é “medir as vulnerabilidades nas populações que vivem em situações precárias e analisar quais podem ser as estratégias para superá-las”, afirmou.

A representante da ONU acrescentou que o plano permite “estudar o uso que estas pessoas dão aos recursos naturais e como o entorno ambiental vai impactar e facilitar, ou não, a inserção econômica deles hoje e no futuro”. Os organizadores da cúpula esperam que esta contribua para a conscientização pública sobre a problemática da mudança climática.

Yamandú Orsi, secretário-geral do governo de Canelones, disse que “por muito tempo, a variabilidade do clima foi vista como uma questão distante e alheia a nós, mas cada vez que temos um evento meteorológico extremo nos damos conta que repercute em nós de outra forma”. E prosseguiu: “Não é uma questão de haver mudanças apenas em nível mundial, mas é fundamental preparar as pessoas para enfrentar essa questão, já que os êxitos em nível local são mais fáceis de se obter”, afirmou à IPS.

Fonte: Envolverde