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Contas correntes acumulam déficit de US$ 12.14 bilhões até março

O valor do déficit em transações correntes acumulado no primeiro trimestre deste ano, de US$ 12,145 bilhões, é o maior da série do Banco Central para o período, iniciada em 1947. Em março, o rombo superou US$ 5 bilhões, sendo que as remessas de lucros e dividendos somaram 2,5 bilhões de dólares, enquanto a balança comercial ainda continua superavitária, apesar do câmbio flutuante e da valorização do real, segundo as informações do BC.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, atribuiu o aumento do déficit em transações correntes no primeiro trimestre do ano ao crescimento dos gastos com serviços, principalmente viagens internacionais e aluguel de equipamentos. Segundo ele, as contas de serviços "lideraram" o aumento do déficit. A expectativa é de crescimento do déficit em função do crescimento da atividade econômica.

Viagens, lucros e juros

Ele citou como exemplos a conta de viagens que, com maior renda e emprego, os brasileiros acabam fazendo mais viagens ao exterior. Além disso, ele destacou a conta de serviços, com pagamento de aluguel de equipamentos, que está associada ao maior nível de investimentos. Pelos cálculos de Lopes, dos US$ 7 bilhões de incremento do déficit de conta corrente no primeiro trimestre, US$ 3,5 bilhões estão associados ao aumento com gastos na conta de serviços.

Outro motivo para o aumento do déficit é a maior remessa de lucros e dividendos das empresas ao exterior. Segundo ele, é natural que, com maior crescimento da economia, as empresas apresentem lucros maiores e, por isso, enviem mais recursos ao exterior. Também influenciou no saldo o aumento das despesas líquidas com juros. Ele explicou que esse crescimento não se dá por conta de um aumento das despesas no pagamento de juros, mas sim porque as receitas com juros estão menores em função do menor nível de taxa de juros internacional, que remunera as reservas internacionais brasileiras.

O rombo crescente

O déficit no primeiro trimestre de 2010 corresponde a 2,63% do Produto Interno Bruto (PIB). Em igual período de um ano antes, no entanto, o resultado era negativo em US$ 4,938 bilhões, o equivalente a 1,74% do PIB.Nos 12 meses terminados em março, o déficit na conta corrente se situou em US$ 31,509 bilhões, ou 1,79% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos 12 meses imediatamente anteriores, houve US$ 28,001 bilhões de déficit, o equivalente a 1,66% do PIB.

Os números abrangem dados da balança comercial, da conta de serviços e das transferências unilaterais do país. A conta de transações correntes mensura o desempenho das compras e vendas de bens e serviços de um país com o exterior.

A conta corrente é formada por três itens: a balança comercial resultante de exportações e importações; a conta de serviços e rendas, que une fluxos de entradas nas diversas modalidades de empréstimos externos e de saídas para o pagamento de juros, remessas de lucros e de serviços em geral (como viagens e transportes); e as transferências unilaterais correntes, que são recursos enviados por brasileiros que moram no exterior.

O resultado na conta corrente de março foi consequência de déficit de US$ 6,015 bilhões na conta de serviços e rendas. Na balança comercial, houve superávit de apenas US$ 668 milhões. Foi registrado ingresso de US$ 279 milhões nas transferências unilaterais correntes.

Da redação, com agências

Leia abaixo a íntegra da nota sobre o setor externo divulgado nesta quinta (22) pelo Banco Central


I – Balanço de pagamentos – Março de 2010

O balanço de pagamentos registrou superávit de US$3,3 bilhões em março. As transações correntes foram deficitárias em US$ 5,1 bilhões, acumulando déficit de US$ 31,5 bilhões nos últimos doze meses, equivalente a 1,79% do PIB. A conta financeira apresentou ingressos líquidos de US$8,4 bilhões no mês. Destacaram-se os ingressos líquidos de investimentos estrangeiros em carteira e diretos, US$ 3,6 bilhões e US$ 2 bilhões, respectivamente.

A conta de serviços apresentou déficit de US$ 3 bilhões no mês, 114,9% superior ao registrado em março de 2009. As despesas líquidas com transportes somaram US$ 574 milhões, aumento de 89,1% na mesma base de comparação. A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$ 543 milhões, ante déficit de US$ 124 milhões em março do ano anterior, com aumento de 81,5% nos gastos efetuados por brasileiros no exterior e de 17,1% nas despesas de turistas estrangeiros no País. Dentre os demais itens da conta de serviços, no mesmo período comparativo, destacaram-se as elevações nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, 76,7%; serviços governamentais, 105,9%, computação e informações, 34,7%; e seguros, 79,6%. Os outros serviços registraram ingresso líquido de US$ 591 milhões, 23,5% acima do ocorrido em março de 2009.

As remessas líquidas de renda para o exterior totalizaram US$ 3 bilhões em março, elevação de 38,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. As saídas líquidas de renda de investimento direto somaram US$ 2 bilhões, ante US$ 1,7 bilhão no mesmo período comparativo. As remessas líquidas de renda de investimentos em carteira atingiram US$ 697 milhões, ante US$ 63 milhões em março de 2009. No mês, a despesa líquida de renda de outros investimentos somou US$ 368 milhões, ante US$ 549 milhões verificados no mesmo período do ano anterior. As despesas líquidas totais de lucros e dividendos atingiram US$ 2,5 bilhões, com variação de 43% no período comparativo, enquanto aquelas relacionadas a juros, US$ 582 milhões, cresceram 13,6%.

Em março, as transferências unilaterais acumularam ingressos líquidos de US$ 279 milhões, 2,5% acima do resultado de março de 2009.

Os investimentos brasileiros diretos no exterior registraram aplicações líquidas de US$ 500 milhões, compreendendo US$ 1,5 bilhão em investimentos líquidos em participação no capital e US$ 1 bilhão de retornos líquidos de empréstimos intercompanhias concedidos ao exterior.

Os investimentos estrangeiros diretos somaram ingressos líquidos de US$ 2 bilhões. Os ingressos líquidos em participação no capital de empresas no País, incluídas as conversões em investimentos, atingiram US$ 1,7 bilhão, enquanto os ingressos líquidos de empréstimos intercompanhias totalizaram US$ 355 milhões.

Os investimentos estrangeiros em carteira apresentaram entradas líquidas de US$ 3,6 bilhões no mês. Os investimentos em ações e em títulos de renda fixa, ambos negociados no País, apresentaram entradas líquidas de US$ 3,8 bilhões, comparados a US$ 3,2 bilhões registrados no mês anterior. Os bônus negociados no exterior apresentaram amortizações líquidas de US$ 355 milhões, decorrentes de despesas com amortizações de US$ 306 milhões e ágios de US$ 49 milhões. Os investimentos em notes e commercial papers apresentaram despesas líquidas de US$ 56 milhões no mês, com captações e amortizações de US$ 2 bilhões em cada rubrica. As amortizações líquidas em títulos de curto prazo somaram US$ 60 milhões em março, comparados a US$ 75 milhões no mês anterior.

Os outros investimentos brasileiros no exterior resultaram em aplicações líquidas de US$ 2 bilhões em março, compreendendo concessão líquida de empréstimos, US$ 640 milhões; redução de depósitos de bancos brasileiros no exterior, US$ 299 milhões; e ampliação de depósitos de demais setores, US$ 1,7 bilhão.

Os outros investimentos estrangeiros no País registraram ingressos líquidos de US$ 5,3 bilhões em março. O crédito comercial de fornecedores registrou desembolsos líquidos de US$ 2,7 bilhões, fundamentalmente em função do desempenho das operações de curto prazo. Os empréstimos aos demais setores apresentaram ingressos líquidos de US$ 2,7 bilhões, compostos por desembolsos líquidos de agências, US$ 1,8 bilhão; de créditos de compradores, US$575 milhões; de empréstimos diretos, US$ 28 milhões; e amortizações líquidas de organismos, US$ 326 milhões. Os empréstimos de curto prazo somaram ingressos líquidos de US$ 554 milhões.


II – Reservas internacionais

As reservas internacionais, no conceito liquidez, que inclui o saldo das operações de empréstimo em moedas estrangeiras no exterior, cresceram US$ 2,6 bilhões em março, na comparação com o mês anterior, somando US$ 244 bilhões. As reservas no conceito caixa aumentaram US$ 2,7 bilhões, totalizando US$ 243,8 bilhões, no mesmo período.

Em março, a autoridade monetária comprou, liquidamente, US$ 3 bilhões no mercado de câmbio doméstico. Estas operações foram compostas por aquisições à vista, US$ 2,9 bilhões, e por retornos de US$ 66 milhões relativos a operações de empréstimo.

No mesmo período, ocorreram receitas de US$ 305 milhões com a remuneração das reservas, enquanto as demais operações externas, que incluem, principalmente, as variações de preços e de paridades, reduziram o estoque em US$ 581 milhões.

Ainda em março, o estoque de operações de empréstimo em moedas estrangeiras no exterior, contra garantias, reduziu-se para US$ 190 milhões, contra US$ 256 milhões apurados no mês anterior.

III – Dívida externa

A dívida externa total, estimada para o mês de março, atingiu US$ 206,5 bilhões, com aumento de US$ 3,5 bilhões em relação à posição estimada para fevereiro. No período, a dívida externa de longo prazo aumentou US$ 1,2 bilhão, resultado da elevação de US$ 1,9 bilhão na dívida do setor público não financeiro, contrastando com redução de US$ 700 milhões da dívida dos setores privado e público financeiro. A dívida externa de curto prazo elevou-se US$ 2,3 bilhões no período analisado.

Em março, os principais fatores de variação da dívida externa de longo prazo foram os ingressos líquidos de agências governamentais, US$1,8 bilhão; e de buyers, US$575 milhões. A variação por paridade reduziu o estoque em US$ 489 milhões.

Ainda no mesmo período, o aumento de US$ 2,3 bilhões na dívida externa de curto prazo, cujo estoque atingiu US$ 34,2 bilhões, deveu-se ao crescimento de US$ 1,8 bilhão nas obrigações em moedas estrangeiras dos bancos comerciais, principalmente referentes a linhas de crédito comerciais, e ao desembolso líquido de US$ 494 milhões em empréstimos diretos em moeda e financiamentos.