Paraguai vai à rua defender gestão Lugo ante ofensiva da direita

O evento, intitulado "Festa da Vitória", também teve forte simbolismo político, já que expôs a unidade das forças progressistas. Com o lema "unidos defendemos a mudança", a esquerda paraguaia convocou o ato, que aconteceu menos de um mês depois do lançamento da “Frente Guasu” (Grande Frente). Composta por 22 partidos políticos e movimentos populares de orientação de esquerda que apoiam o governo, a frente é a maior experiência de uma aliança progressista na história paraguaia.

A ideia do ato era fortalecer a gestão de Lugo e frear a investida da oposição, que nunca se conformou com o fracasso nas urnas e procura criar um clima de instabilidade no país. Nesse sentido, os adversários têm feito uso de argumentos os mais exdrúxulos para tentar o que chamam de "julgamento político" contra Lugo (uma espécie de impeachment).

Com maioria no parlamento e influência no judiciário e entre os meios de comunicação, a direita paraguaia pretendia afastar o presidente do poder, para que assumisse seu vice, Frederico Franco, que rompeu com Lugo no começo do governo. Para isso, promove desde denúncias vazias de corrupção e associação com as Farc, até questionamentos à moral do presidente, após os casos de pedido de reconhecimento de paternidade envolvendo Lugo.

O grande obstáculo à administração é que a oposição é integrada por setores direitistas de dentro do próprio governo e que não vêem com bons olhos as políticas democráticas e populares que o presidente pretende implantar. A tensão, portanto, é constante, já que as propostas de Lugo que supõem uma mudança a respeito do sistema neoliberal são sempre rechaçadas pelo legislativo.

De acordo com o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu , que participou da Festa da Vitória, o momento no Paraguai, contudo, é "de virada". Além do grande respaldo popular demonstrado nas ruas, a perspectiva é de que o governo Lugo comprove, nas prévias à eleição municipal que acontece em novembro, o apoio da maioria do PLRA – o partido de Frederico Franco, hoje dividido – ao seu governo.

"Essa festa marca um novo momento. Os luguistas têm a seu favor a mobilização popular e contam agora com a maioria projetada do PLRA. Há também essa maior unidade das forças de esquerda e progressistas, que de fato está se consolidando, com a ideia de inclusive avançar politicamente no governo Lugo, preparando o cenário para 2013. Tudo isso fortalece o governo e afasta, por hora, essa tentativa de julgamento político", avaliou Alemão.

Segundo ele, o empenho pela unidade deve ajudar o governo a ter forças para implementar o programa de mudanças a que se propôs, mas que sempre é dificultado pela oposição. "A ideia da Frente Guasu é justamente contrapor a democracia participativa ao autoritarismo da direita – que não consegue conviver em ambiente democrático – e confrontar também um governo apoiado pelo povo às oligarquias ligadas aos interesses dos Estados Unidos e da máfia de drogas e armas. São interesses poderosos, que provocam a instabilidade no país", relata o dirigente comunista.

De acordo com Alemão, ainda que não estejam descartadas as tentativas desestabilizadoras da oposição, a situação parece mudar para melhor. "Noto que essa possibilidade de julgamento político tem bem menos força. Fiquei contente de ver que o povo está dando uma resposta, sustentando o governo" disse.

Fórum de São Paulo

Alemão foi ao Paraguai acompanhado de Ronaldo Carmona, também da Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB, e de Valter Pomar, da direção nacional do PT. Junto a delegações do Uruguai e da Argentina, eles participaram de uma reunião do Fórum de Sâo Paulo com partidos paraguaios.

A ideia foi incentivar uma participação maior das legendas progressistas do Paraguai no próximo encontro do Fórum, em Buenos Aires. Também foram discutidas atividades conjuntas para o Fórum Social das Américas, que acontecerá no próprio Paraguai. As duas atividades ocorrerão em agosto. Os integrantes do PCdoB tiveram ainda uma reunião bilateral com o Partido Comunista paraguaio.