Motoristas fazem greve por melhores salários em Goiânia 

Para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, os motoristas do transporte coletivo de Goiânia e região metropolitana paralisaram as atividades durante essa segunda-feira, dia 26 de abril. O movimento iniciou na madrugada e teve adesão da maior parte da categoria. Na quinta-feira, dia 29, às 9 horas, haverá manifestação em frente à Justiça do Trabalho, localizada na Rua T-29, Setor Bueno.

Reunidos durante a tarde em frente à sede da empresa Rápido Araguaia, operadora do serviço de ônibus coletivo na Capital, os motoristas cobraram a abertura do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Goiânia (Setransp) para as negociações.

A categoria pede aumento de 15% sobre o valor bruto do salário, que hoje é de R$ 1.060. “Ano passado nosso reajuste foi de 6,25%. Já a passagem subiu 12,3%. Os motoristas de Citybus recebem somente R$ 690.

Somos contra essa exploração”, disse Aguilemarcio Cardoso de Oliveira, que aderiu à paralisação. 

Os trabalhadores também cobram redução da carga horária de trabalho, que hoje está afixada em 7 horas e 20 minutos por dia. A categoria luta por jornada de 6 horas, com pagamento em dobro pelas horas extras, conforme previsto na legislação trabalhista. “Estou há um mês sem folga e domingo eu não tenho para descanso há vários meses. Sem contar que a gente trabalha até 12 horas seguidas, sem pausa para descanso e lanche”, disse Aguilemarcio.
 
Desde a retirada dos cobradores que os motoristas convivem com afazeres extras. Eles recebem passagem em dinheiro, ajudam cadeirantes a subir nos ônibus, avaliam carteirinhas de estudantes e alguns ainda se queixam de ter que limpar o veículo no final do expediente. A categoria pede a volta dos cobradores ou que seja acrescido o valor de um salário mínimo nos rendimentos para cobrir o acúmulo de funções.
 
Com a criação do Centro de Controle Operacional pelo Setransp, que monitora os ônibus, os motoristas passaram a ter obrigação de falar ao rádio com os controladores, o que gera multas de trânsito. Quando acontecem acidentes, os trabalhadores têm as despesas descontadas dos salários. “Este trabalho é muito estressante. Estou há 15 anos como motorista e tive problema de coluna. Mas o ortopedista me recomendou procurar um psiquiatra”, disse João Batista Borges. 
 
As queixas sobre as condições de trabalho são gerais entre a categoria. Os trabalhadores reclamam de stress, que sofrem de depressão, doenças mentais, além de problemas nos joelhos, nas costas e nos ouvidos, devido ao barulho do motor, localizado abaixo do banco do motorista. “Lutamos por uma Goiânia mais humana e queremos também humanizar o transporte. É preciso haver respeito com os trabalhadores do transporte coletivo, que têm sido explorados no desempenho das suas funções”, disse o vereador Fábio Tokarski (PCdoB), que se encontrou com os manifestantes em frente à garagem da Rápido Araguaia.
 
Luta sindical



Estima-se que a paralisação dos motoristas atingiu 400 mil passageiros do transporte coletivo. No começo da manhã de segunda-feira, 26, usuários causaram tumulto nos terminais, devido à falta de veículos. Alguns ônibus foram depredados e a polícia teve de intervir. A revolta foi motivada pela falta de aviso prévio da greve.
 
De acordo com os motoristas, a paralisação surgiu espontaneamente por causa da insatisfação tanto com o Setransp quanto com o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte do Estado de Goiás (Sinditransporte), reconhecido como entidade representativa da categoria. Os motoristas alegam que o Sinditransporte não os representa, pois atua em conchavo com os patrões.
 
Durante a tarde, o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores do Transporte Coletivo de Goiânia e Região Metropolitana (Sindcoletivo), dissidente do Sinditransporte, declarou apoio ao movimento grevista e afirmou ter ajudado a iniciar a paralisação. A participação do Sindicoletivo na greve provocou reações, pois a entidade não possui registro e carta sindical. O presidente do Sinditransporte, Alberto Magno Borges, disse que o movimento é político, criado para fazer oposição. 
 
Já o Sindicoletivo, por meio de nota, afirmou a legalidade do sindicato. “Em maio de 2009 os trabalhadores da região metropolitana de Goiânia fizeram uma assembléia e fundaram um novo sindicato, desmembrando o Sindtransporte. Este desmembramento é perfeitamente legal, e muito comum”, diz o documento, que justificou não ter feito aviso prévio devido ao fato de esta ser uma paralisação de advertência, e não uma greve. “Apenas em uma greve é necessário o aviso de 72 horas”, afirma a nota.
 
Na noite de segunda-feira, 26, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Gentio Pio de Oliveira estipulou por meio de liminar as normas para a paralisação. Ficou determinada a circulação de pelo menos 70% dos ônibus nos horários de pico, com prioridade para as linhas de maior fluxo de passageiros. O descumprimento acarretará multa de R$ 10 mil por dia. A decisão atende pedido do Ministério Público Estadual (MP), que considerou a greve abusiva.

Fonte: Alfredo Mergulhão (www.fabiotokarski.com.br)