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EDITORIAL : Brasília, orgulho dos brasileiros

Quando Brasília foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, o jornal inglês News Chronicle reconheceu: é a “obra-prima arquitetônica do século”, registrando assim o alcance da decisão do presidente Juscelino Kubitschek de construí-la, o que foi feito no prazo recorde de três anos, de 1957 a 1960.

Ao completar 50 anos, Brasília é um retrato das profundas contradições do Brasil. De um lado, demonstra as qualidades positivas dos brasileiros, seu imenso poder criador, do qual é o símbolo mais visível; registra a contribuição brasileira para o patrimônio cultural da humanidade; assinala a capacidade dos trabalhadores sem os quais ela não existiria. A “capital da esperança”, como foi apelidada pelo francês André Malraux, é assim, um notável fator de afirmação e orgulho nacional.

A nova capital levou para o interior o desenvolvimento que até então mal se afastava do litoral, sendo assim importante fator de integração nacional, foco de articulação dos interesses regionais. Mas Brasília tornou-se o espelho das contradições nacionais. Tem a renda média mensal mais alta no país (2.600 reais, o dobro da média nacional); tem também o cinturão de pobreza de seu entorno, com o mesmo crescimento desordenado e falta de infraestrutura das demais cidades brasileiras.

A capital é vista, hoje, como uma espécie de fortaleza de políticos venais, corruptos e conservadores que representam o que há de mais atrasado no país. Este é o desaguadouro de décadas de domínio – sobre a capital e sobre o país – da elite retrógrada que governou após 1964 e que, depois, impôs ao país o projeto neoliberal de Collor e FHC. São problemas que uma cidade nova como Brasília, de apenas 50 anos, vai superar, mesmo porque o mais difícil já foi feito: sua consolidação como a mais bela entre todas as capitais.