Sem categoria

PMDB aprova Dilma-Temer, mais unido do que nunca desde 1985

A Executiva Nacional do PMDB aprovou nesta terça-feira (18), por unanimidda e aclamação, a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer para disputar a eleição presidencial de outubro. No varejo, há uma ou outra traição (a mais assumida é a do senador Jarbas Vasconcelos em Pernambuco). Mas no atacado o PMDB nunca esteve tão unido desde o fim da ditadura militar, um quarto de século atrás.

Por Bernardo Joffily


A reunião da Executiva em Brasília também confirmou a realização da convenção nacional no dia 12, para oficializar a coalizão. Mas será uma mera formalidade. Temer "está praticamente confirmado na vaga", disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, que transmitiu a decisão à imprensa.

Jucá destacou que a decisão foi consensual. "O presidente Michel Temer é praticamente uma unanimidade no partido. Existem muito poucas vozes dissonantes. A decisão da Executiva foi unânime e representa a unidade do PMDB", sublinhou.

Tese de Lucia Hippolito durou 11 dias

No último dia 7, a jornalista Lucia Hippolito, do Grupo Globo, assegurava o contrário a seus ouvintes. Ela disse que Temer "fala por uma pequena parte do partido", o "PMDB congressual", mas não "o PMDB dos estados", pois "o PMDB histórico está se reunindo em torno de Serra".

Ao contestar Lucia Hippolito, escrevi que "a suposição tem data marcada para pifar, em 12 de junho", data prevista da Convenção (veja em A última de Lucia Hippolito: O PMDB não vai de Dilma?). Enganei-me por 25 dias ao dizer que a suposição tinha 36 dias de "prazo de validade". A cúpula peemedebista resolveu se antecipar e votar desde agora a aliança.

Lucia Hippolito não passou recibo da "barriga". Em seu comentário desta terça-feira, disse que Dilma "está vivendo um bom momento da campanha", mas Serra também, pois "o fato da ministra ter ultrapassado [nas pesquisaseleitorais] não é nenhuma tragédia". Nem tocou na palavra PMDB.

O resto da mídia serrista destacou, ao noticiar a reunião, as divergências pendentes nos estados entre o PMDB e o PT, com destaque para Minas Gerais. Foi o que mais perguntaram a Temer na coletiva após a reunião.

"A questão de Minas vai ser solucionada no dia 6 de junho. Eu ouço muita história, muita notícia, mas ontem ainda o presidente do PT, José Eduardo Dutra, me afirmava, assim como o candidato Hélio Costa, que no dia 6 terá solução. Não houve modificação nenhuma de nada", respondeu o futuro vice de Dilma, que também preside o PMDB nacional e a Câmara dos Deputados.

"Serei um vice extremamente discreto"

Quando lhe permitiram, Temer expressou seu entusiasmo "Fico orgulhoso do partido. O partido resolveu me indicar. É claro que eu fico muito entusiasmado com essa hipótese, mais que entusiasmado. Mas com muita cautela. Estamos com toda cautela nessa questão. Vamos unir o PMDB para levar a uma campanha naturalmente vitoriosa", afirmou.

Apesar da cautela, Temer já tem planos sobre como exercer o cargo. "Serei um vice nos limites da Constituição. Quando ocupo um cargo eu cumpro a tarefa constitucional. Serei extremamente discreto, como convém a um vice", afirmou.

O grande partido de centro do Brasil

O PMDB foi criado com a sigla MDB um depois do golpe de 1964. Na época a ditadura militar, depois de fechar os partidos existentes, confiou-lhe o papel de oposição consentida. Não deu certo. O partido escapou aos controles, tornou-se o desaguadouro da oposição real, puxou a campanha das Diretas 84 e no ano seguinte tornou-se governo ao eleger a chapa Tancredo Neves-José Sarney, assinalando o fim da ditadura.

Com a democratização, o PMDB consolidou-se como o grande partido de centro do leque político brasileiro. Como é típico dessa condição, aliou-se ora à direita – a nova direita tucana do governo Fernando Henrique – e ora à esquerda – em especial no segundo mandato do presidente Lula. Por isso é tão cortejado. E por isso tem sido tão apedrejado.

Também conforme o figurino de um grande partido de centro, o PMDB sempre teve muitas divisões e uma aguda luta interna. Já nos tempos da ditadura, ficaram famosos os embates entre "autênticos", "moderados" e "adesistas". Paradoxalmente, essa heterogeneidade tem ajudado o partido ao cultivar uma forte musculatura em suas bases municipais e estaduais, embora diminua o seu papel nacional (faz 21 anos que não lança candidato próprio à Presidência).

Ao cobrir a reunião da Executiva peemedebista, a mídia pró-Serra destaca o que não é novidade – as divisões e tensões no partido. Isto quando não transforma a minoria em maioria, como o citado texto de Lucia Hippolito. Mas não fala do que é novo: o PMDB de 2010 marcha para a eleição da chapa Dilma-Temer mais unido do que nunca, pelo menos desde o fim da ditadura. É um sinal dos tempos e o mais importante indicativo de que a correlação entre as forças políticas brasileiras viveu uma virada durante a primeira década deste século (ver, a respeito, 2002, 2006, 2010: a correlação de forças presidencial mudou).