Sem categoria

Como "recolher do silêncio a história do sindicalismo brasileiro"

Iniciamos em maio deste ano os primeiros passos para a concretização de nossos projetos de recuperação do arquivo do Centro de Memória Sindical e criação de um espaço de pesquisa, produção e experimentação cultural.

Por Milton Baptista de Souza (Cavalo)*, na Agência Sindical

Alocado desde 1980 na sede do Sindicato dos Têxteis de São Paulo, no número 80 da Rua Oiapoque, bairro do Brás, o arquivo encontra-se em situação de abandono.

Valorizamos o acolhimento que os Têxteis deram aos documentos. Sem este espaço talvez tudo já tivesse se perdido. Chegou a hora, entretanto, de liberarmos o salão que nos foi dado no 4ª andar daquele prédio para nos estabelecer no 3º andar da sede do Sindicato Nacional dos Aposentados, área gentilmente fornecida pela sua diretoria, e sobretudo pelo presidente João Inocentini.

Hoje grande parte da documentação não está devidamente armazenada impedindo sua utilização. Retomando o contato com aquele arquivo notamos que se trata de um patrimônio de grande valor histórico. Há pastas com material do Sindicato dos Engenheiros, outras com material do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, há muito material referente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, enfim há muitas instituições representadas.

Além disso, há cartazes de campanhas sindicais e diversas fotos de importantes momentos da nossa história. Há também uma rica coleção de depoimentos, gravados e transcritos no início da década de 1980, concedidos pelos militantes sindicais antes da fundação da Força Sindical.

A equipe designada para conceber o projeto e executar o resgate do arquivo chegou a encontrar periódicos da década de 1940 e um exemplar único do cartaz feito pelo Centro de Memória, em 1981, que trás os dizeres: “ajude a recolher do silêncio a história do sindicalismo brasileiro”.

Segundo a Fátima, pessoa que tem zelado pelo Centro em todos estes anos, isso é só o começo, pois vamos nos surpreender com as preciosidades que aquele arquivo guarda. Qualquer pesquisador que explorar o arquivo do CMS achará peças de uma historia que ainda não foi plenamente contada.

A ideia agora é retomar aqueles dizeres de 1981 e dar forma e voz à nossa história e eternizar nossas lutas pelos trabalhadores!

Em nossos debates sobre este projeto ultrapassamos a fronteira do resgate e preservação históricos. Chegamos à conclusão que o debate acerca do Centro de Memória está dentro de um esforço de construção cultural.

Nesta transição propomos um enriquecimento das atividades vinculadas ao Centro de Memória Sindical, estendendo nossas ações a tudo o que tange o universo de interesse dos trabalhadores: a história, as artes, a comunicação.

Não pretendemos ser um centro de recreação e lazer, mas sim um lugar de difusão cultural, de estudos, de debates, um centro de referência intelectual e cultural para os trabalhadores e para a Força Sindical. Se não nos preocuparmos agora em resguardar nossa história, ela ficará à mercê de interpretações secundárias e, muitas vezes, tendenciosas. O espaço, nós já temos, as ideias também, urge “reformar a casa e fazer a mudança”!

* Milton Baptista de Souza (Cavalo) é secretário de Cultura e Memória Sindical da Força Sindical, presidente do CMS e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco