Publicado 16/06/2010 08:50 | Editado 04/03/2020 16:33
Com a presença de 45 dos seus 54 prefeitos reunidos na noite da última segunda-feira, sob a liderança do senador Tasso Jereissati, a cúpula tucana no Ceará reafirmou a disposição de lançar candidato próprio ao governo do Estado nas eleições do próximo três de outubro. O nome deve ser anunciado na próxima segunda-feira, e os mais cotados são o deputado estadual Marcos Cals e o empresário Beto Studart, que faz algumas exigências, entre elas ter a ex-primeira-dama do Estado, Renata Jereissati, como companheira de chapa, e gostaria de ver o ex-governador Lúcio Alcântara, de quem foi vice na eleição passada, como o segundo candidato ao Senado.
Ainda tem, dentro e fora do ninho tucano, quem duvide dessa decisão, até porque a maioria dos deputados estaduais tem se manifestado pelo apoio à reeleição do governador Cid Gomes. Mas seja qual for o resultado final, uma questão fundamental se coloca para os neo-oposicionistas cearenses: como justificar para o eleitor a mudança de posição se até há bem pouco tempo – menos de um mês – o próprio grão-mestre tucano enfatizava que Cid Gomes (PSB) era um excelente governador e por isso deveria ser reeleito?
Ao fazer tal afirmação, Jereissati alimentava a esperança de ter o apoio, mesmo que informal, do Governador. A sua preocupação era única e exclusivamente com a sua reeleição. Percebendo isso, vários deputados tucanos passaram a pressioná-lo para que acertasse com Cid Gomes a formalização de uma coligação proporcional, já que, sem coligação, a bancada tucana minguaria dos 14 eleitos em 2006 para no máximo sete. Atualmente só tem 13.
Da bancada estadual tucana, o único a defender há algum tempo a necessidade do partido lançar candidatura própria é Cirilo Pimenta, inclusive colocando o seu nome para encabeçar a chapa majoritária. Enquanto os demais só viam virtudes no governo estadual, o ex-prefeito de Quixeramobim apontava defeitos e até mesmo enfatizava que o Governador estava “bastante desgastado no interior do estado”. Cirilo citava a “crescente insegurança pública” e a “perseguição” da Polícia Rodoviária Estadual aos motoqueiros.
Se até a semana passada 12 dos 13 atuais deputados estaduais diziam às “suas bases” que Cid Gomes era um grande governador, como justificar agora que ele não presta mais? Se durante três anos e meio essa mesma bancada votou e apoiou incondicionalmente o Governador na Assembléia Legislativa e elogiava o desempenho de dois tucanos no staff estadual – deputado Marcos Cals na Secretaria de Justiça e Bismarck Maia na de Turismo – como dizer que agora “é oposição pra valer?”
Mas para alguns tucanos isso não será problema. Isto porque nas eleições municipais de 2002 o então prefeito Juraci Magalhães, que havia lançado a candidatura de seu secretário de Finanças Aloísio Carvalho, pelo PMDB, a 15 dias das eleições orientou os vereadores do seu partido a pedirem voto para a candidata petista Luizianne Lins. Com o apoio de Juraci, inclusive financeiro, Luizianne ultrapassou Inácio Arruda (PCdoB) e disputou o segundo turno com Moroni Torgan (PFL), ganhando a eleição.
Soa falso a afirmação de Jereissati de que o Ceará precisa “inovar” e não deve ser governado por apenas duas famílias. Se tem propostas melhores para o Ceará, por que não apresentou ao longo dos últimos três anos e meio? Por que ele mesmo não é o candidato a governador?
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE
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