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Governo pode gastar R$ 17,3 bilhões a mais com juros neste ano

Uma constatação feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata de sua última reunião levou o banco Santander a rever suas projeções para a taxa Selic em 2010 e 2011.

Na ata, divulgada ontem, o colegiado apontou que as expectativas de inflação para 2011 subiram e agora estão acima da meta no cenário de mercado. "Essa informação nos levou a mudar a previsão de taxa de juros em termos de movimento total e ritmo em que as altas serão feitas", disse o banco em relatório.

13% em 2001

A instituição espera que a taxa básica de juros suba a 12,75% até o final deste ano, contra previsão anterior de 12%. E, agora, também estima aperto monetário em 2011. O prognóstico subiu de 12% para 13%.

Para efeito de comparação, a mediana do mercado, captada pelo Focus, sugere que a taxa básica fechará o ano em 11,75% tanto em 2010 quanto em 2011. Vale lembrar que atualmente a taxa está em 10,25% e que o BC já fez dois apertos de 0,75 ponto no juro básico agora em 2010.

De acordo com cálculos feitos pelo economista Amir Khair se as projeções do mercado se confirmarem e a Selic, que está hoje em 10,25%, passar a 11,75% o Brasil gastará cerca de 13 bilhões de reais com o pagamento dos juros da dívida pública em função do aumento dos juros básicos pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Se a expectativa do Santander se confirmar esta conta pode subir a 17,3 bilhões de reais.

Banqueiro versus aposentado

Os apologistas do sistema financeiro não falam nada desta transferência da renda nacional para a oligarquia financeira operada através da política monetária conservadora do Banco Central. Tudo se passa, na mídia hegemônica, como se isto fosse natural e inevitável.

Em contrapartida, quando o tema é o reajuste de 7,7% para os aposentados que ganham mais que o salário mínimo, as vozes do “mercado”, acompanhadas pela equipe econômica, ecoam em coro uníssono que o benefício extravagante vai desequilibrar as contas públicas.

Todavia, isto vai onerar o erário em pouco mais de 600 milhões de reais em comparação com os 7% propostos pelo governo. É o sentimento de classes. De um lado, estão os tubarões das finanças, usurários das dívidas governamentais, que acumulam fortunas com os juros reais mais altos do mundo. De outro, são milhões de trabalhadores que receberão algumas migalhas extras com o reajuste sancionado pelo presidente Lula.

O mesmo tipo de coisa se diz em relação ao fim do fator previdenciário, que o presidente vetou, cedendo à pressão da oligarquia financeira e aos falsos argumentos da equipe econômica, que ainda está fortemente influenciada pelo neoliberalismo. Bancos e banqueiros parecem estar acima de qualquer crítica para a mídia hegemônica e a equipe econômica.

Novas altas

De acordo com o Santander, ao falar que a inflação de 2011 está acima do centro da meta no cenário de mercado, o BC passa o recado que de que o ajuste projetado pela mediana do mercado não seria suficiente. Ou seja, o aperto tem que ser superior ao sugerido pelo Focus.

Outra consideração feita pelo banco é que a expectativa de inflação para 2011 está convergindo para 5%, ou seja, 0,5 ponto acima do centro da meta. Portanto, para simplesmente manter a taxa de juros real em um patamar neutro (ao redor de 7% ao ano), a taxa nominal teria que subir de 12% para cerca de 12,5%.

No entanto, ressalta o Santander, como a inflação está acima do centro da meta, a taxa neutra não é suficiente. O BC precisa puxar o juro para cima dessa linha considerada neutra para fazer o seu trabalho. Em outras palavras, a reação do BC tem quer ser maior do que a piora das expectativas.

Quanto ao ritmo do ajuste, o Santander trabalha com elevação em todas as reuniões do ano. Mas ao invés de esperar uma redução de ritmo para 0,50 ponto em junho e setembro, a ideia agora é que o passo de 0,75 ponto por encontro será mantido.

Para outubro, o ritmo passaria a 0,5 ponto, aperto repetido em dezembro. Já em janeiro de 2011, o BC faria um último aperto de 0,25 ponto, levando a Selic para 13% ao ano. Se as forças organizadas da sociedade não se mobilizarem contra a política monetária conservadora liderada pelo senhor Henrique Meirelles é mais do que provável que a profecia do Santander acabará por se concretizar.

Da redação, com informações do Valor Online