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Cariocas e gaúchos desidratam a campanha de Serra

Candidato a presidente que cai nas pesquisas paga caro. O problema não é só aparecer para o eleitor indeciso como possível azarão. Pior, ainda mais nesta fase de convenções, é a revoada dos aliados de ontem. Que o diga José Serra (PSDB): depois de ver o peemedebista gaúcho José Fogaça trocar o serrismo pela "imparcialidade consciente", o tucano teve de engolir uma vexatória condição de presidenciável subalterno em seu único palanque no Rio de Janeiro. E há mais.

Por Bernardo Joffily

O PSDB-RJ passou a semana tentando escapar da saia justa: apoiar o verde Fernando Gabeira para o governo, o que implica numa coabitação da campanha presidencial de Serra com a de Marina Silva (PV), com a senadora acreana como prioritária. Chegou a anunciar que romperia a coligação e lançaria o empresário tucano Márcio Fortes candidato a governador.

Da "molecagem suicida" ao "recuo constrangedor"

O presidente do PV estadual, vereador Alfredo Sirkis, retrucou que o caso, "a se consumar, entrará para os anais da política brasileira como um dos mais extremos e irresponsáveis episódios de molecagem suicida. Sua principal vítima, no final das contas, será a candidatura presidencial de José Serra, cuja performance no Rio já não era das melhores", agregou. E disse esperar uma marcha-à-ré dos tucanos, para que "a "crise de véspera entre para a história como uma esdrúxula manobra de beira de abismo seguida de um recuo constrangedor".

Dito e feito. Na noite que antecedeu a Convenção Estadual conjunta PV-PSDB-DEM-PPS (sábado, 19), os tucanos optaram pelo "recuo constrangedor". Homologaram a chapa de Gabeira, com o ex-prefeito do Rio, César Maia (DEM) e o ex-deputado Marcelo Cerqueira (PPS) candidatos ao Senado.

Pelo acordo de coexistência, Gabeira (hoje em terceiro lugar nas pesquisas, atrás do governador Sérgio Cabral, do PMDB, e do ex-governador Anthony Garotinho, do PR) estará em todas as agendas de Marina no Rio; e selecionará aquelas em que acompanhará Serra. Até uma faixa "Gabeira-Serra", levada pelo PPS ao Clube Canto do Rio, onde ocorreu a Convenção, foi alvo de censuras.

Sem opção, Serra ainda teve que se fingir de satisfeito com a situação no terceiro maior colégio eleitoral do país. Na sabatina para a Folha de S.Paulo, na segunda-feira (21), elogiou Gabeira como "um caso único": Normalmente, o candidato a presidente apoia ou tem apoio de dois candidatos ao governo, mas o Gabeira é um cara que tem apoio de todos os candidatos a presidente"…

Fogaça e a "imparcialidade consciente"

No caso do Rio Grande do Sul – quinto colégio eleitoral – o PSDB assediou o quanto pôde o PMDB local, em busca do palanque de José Fogaça, que concorre ao governo. O apoio a Serra era dado como garantido, devido à rivalidade local PT-PMDB (as pesquisas favorecem o ex-ministro petista Tarso Genro, seguido por Fogaça, com a atual governadora Yeda Crusius em um distante terceiro lugar).

Mas o ex-prefeito de Porto Alegre, entrevistado pela rádio RBS, indicou que não é bem assim. Disse que pretende "fazer aquilo que o partido no Rio Grande do Sul determinar", mas fez uma ardente defesa do que chamou de "imparcialidade consciente".

"Imparcialidade não é neutralidade, imparcialidade não é omissão. Imparcialidade é uma conduta pró-ativa em relação a nossa necessidade de vencer a eleição no Rio Grande do Sul, necessidade de ter ações e ficar consequentes no processo eleitoral no Rio Grande do Sul. Isso não significa que as outras eleições não sejam importantes, significa que a nossa prioridade é a eleição aqui no Estado", defendeu Fogaça.

O Rio Grande do Sul é o estado mais refratário à popularidade do governo Lula: pesquisa do instituto Methodus, de dezembro, apurou apenas 52,2% de avaliações 'bom' e 'ótimo' (mais de 20 pontos abaixo da média nacional), contra 17,8% de 'ruim' e 'péssimo'. Já o governo estadual, da tucana Yeda, teve 16,0% de 'bom' e 'ótimo'… e 45,3% de 'ruim' e 'péssimo'.

"Ficha Limpa" abala palanques

A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quinta-feira (17), de que a Lei da Ficha Limpa vale também para os políticos condenados antes de sua publicação, tende a abalar outros palanques estaduais de José Serra.

No Maranhão, os tucanos tinham acertado coligação com o PDT, com o ex-governador Jackson Lago como candidato ao governo. Lago foi cassado em 2009 por decisão da Justiça, e poderá se tornar inelegível por conta da Lei da Ficha Limpa. Depois da decisão do TSE, o deputado federal Brizola Neto, membro da direção nacional do PDT e aguerrido apoiador de Dilma, pregou em artigo "uma aliança, já no primeiro turno, entre Jackson Lago, do PDT, e o deputado Flávio Dino, do PCdoB".

Em Brasília, é o ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC, coligado ao PSDB-DEM-PPS, que está na mira da decisão do TSE. Roriz renunciou ao mandato de senador para livrar-se da cassação – uma das situações previstas na Lei da Ficha Limpa. Ele diz que vai até o fim, mesmo sub judice e sem aliados. A ex-governadora tucana Maria de Lourdes Abadia viajou a São Paulo para consultas sobre como lidar com a crise.

Em outros dois Estados, a Lei da Ficha Limpa ameaça diretamente candidatos do PSDB. Em Rondônia, o ex-senador Expedito Júnior, que concorre ao governo, poderá ter o registro negado. Na Paraíba, o atingido é o ex-governador Cássio Cunha Lima, que pretende disputar o Senado e é o principal cabo eleitoral de Serra no estado.