Grécia: Governo cogita vender ilhas para pagar a dívida externa
A dívida externa e a subserviência dos líderes social-democratas estão transformando a Grécia num país escravo da oligarquia financeira e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Além de desencadear uma ofensiva reacionária contra a classe trabalhadora, o governo liderado pelo primeiro ministro George Papandreou cogita a venda ou aluguel de longo prazo de algumas de suas 6 mil ilhas para garantir o pagamento de juros, conforme informações do jornal britânico The Guardian.
Publicado 25/06/2010 16:37
Segundo a reportagem, uma região em Mykonos, um dos principais destinos turísticos da Grécia, estaria à disposição de interessados para aquisição. O governo, que detém um terço da área, busca um comprador disposto a injetar capital e desenvolver um complexo turístico de luxo, comentou uma fonte próxima das negociações.
Entreguismo
O site Private Islands lista Nafsika, no mar Jônico, estaria à venda por 15 milhões de euros. Mas existem outras ilhas por menos de 2 milhões de euros. O Guardian nota que apenas 227 ilhas gregas são povoadas. A matéria dá conta ainda que potenciais investidores, a maioria russos e chineses, estariam de olho em propriedades na ilha de Rodes.
Sufocada pela dívida externa, contraída em boa medida por pressão dos grandes bancos internacionais, a Grécia acabou caindo nas garras do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da cúpula da União Europeia, que entraram com um pacote de “socorro” ao país guiado pelo objetivo de evitar a moratória dos débitos externos e assegurar o lucro dos banqueiros.
O pacote foi condicionado a um “ajuste” interno draconiano para a classe trabalhadora, a quem o FMI, a União Europeia e o governo estão cobrando a salgada conta da crise criada e cevada pelo próprio sistema financeiro. A venda ou aluguel das ilhas ajudaria o governo grego a recompor as contas públicas, de acordo com os promotores da ideia. Na realidade, ocorreria uma renúncia à soberania sobre uma parte da própria nação helênica, decorrente da lógica do endividamento. Isto nos faz lembrar a proposta indecorosa feita pela Inglaterra ao Brasil durante a crise da dívida externa, nos anos 1980, de vender parte da nossa Amazônia para pagar juros, o que felizmente não ocorreu.
Greve geral dia 29
Pode ser uma solução sob medida para os interesses da estratégia imperialista dos bancos franceses e alemães, maiores credores da Grécia. A classe trabalhadora não comunga da mesma ideia entreguista. E, de resto, está crescentemente irritada com a ofensiva do governo social democrata, a mando do FMI, contra os direitos sociais e as conquistas trabalhistas.
O último lance do primeiro-ministro Papandreou neste terreno foi o anúncio de uma nova legislação trabalhista que abole os acordos coletivos de trabalho, reduz drasticamente os salários mínimos, especialmente para jovens e corta em 50% o valor do auxílio desemprego, num momento em que a taxa de desemprego subiu a 11,7% (no primeiro trimestre), entre outras maldades. Isto se soma, não custa lembrar, ao corte de salários do funcionalismo, redução do 13º e 14º salários, aumento de impostos e supressão de outras conquistas trabalhistas.
É por esta e outras razões que a Grécia deverá parar mais uma vez na próxima terça-feira (29). Será a sexta greve geral realizada no país ao longo deste ano. A classe trabalhadora manifesta nas ruas a sua rejeição ao pacote de arrocho ditado pelo FMI e apresentado pelo governo social-democrata como a salvação da pátria. Com o forte apoio do Partido Comunista (KKK), o movimento sindical luta por uma outra alternativa, não neoliberal, para a crise, com a convicção de que os ricos, em especial os banqueiros, e não o povo, é que devem pagar a conta dos excessos em que incorreram e que a dívida externa não deve ser paga.
Da redação, Umberto Martins, com Valor