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México: 'Narcoeleições' em ambiente de decomposição

Em um clima de violência, espionagem e guerra da suja midiática, os partidos políticos mexicanos, a maioria em alianças, buscarão a vitória em 4 de julho, em uma eleição em que serão disputados 633 mil cargos eletivos, entre os quais 12 de governadores.

Por Carlos Fazio*, em Prensa Latina

A violência relacionada aos enfrentamentos entre os cartéis da economia criminosa e forças de segurança do estado, também penetradas pelo tráfico de drogas, em uma luta pelo controle dos mercados e das rotas de negócios ilícitos, poderão – afirmam os analistas – impactar de forma real nesta eleição, já marcada por escândalos políticos.

A este respeito, o primeira página do influente semanário Proceso, em sua edição antes da eleição, é mais do que eloqüente. Sobre um mapa do México, a manchete diz: "04 de julho, narcoeleições". Por sua vez, a intervenção abertas de particamente todos os governadores nas campanhas eleitorais alimentou também a cota de tensão política.

Segundo o líder máximo do Partido da Ação Nacional (PAN, governante), Cesar Nava, o maior desafio do seu grupo é vencer os "senhores feudais" do Partido Revolucionário Institucional (PRI), à frente nas intenções de voto para oito ou mais governos .

Depois de perder 120 assentos na atual legislatura, o PAN e o Partido da Revolução Democrática (PRD), amargos rivais políticos e ideológicos, buscarão vencer juntos o seu carrasco, o PRI, em uma aliança que despertou, desde sua criação, suspeitas, má vontade, disputas e divisões.

Um dos pontos mais críticos do pleito será o estado de Oaxaca, onde o PAN e o PRD vão tentar acabar com 70 anos de gestões do PRI. O processo eleitoral oaxaquenho tem sido marcado por desqualificações mútuas entre os candidatos e não se descarta a possibilidade de que se chegue à violência ou que as eleições tenham de ser resolvidas nos tribunais.

Outro estado que renovará o governador é Sinaloa, que, como Oaxaca, nunca esteve fora da órbita do PRI. A equação é complexa nesse local, que abriga os grandes barões da droga, e onde, precisamente, dos dois aspirantes de extração priista, se afirma que um irradia forte cheiro de drogas.

Mas se insiste ainda que os sinais de uma espécie de narcoeleição são muito semelhantes em estados como Chihuahua, Hidalgo e Tamaulipas. Neste último, a violência que aflige o país provocou as primeiras vítimas, com o atentado ao candidato a governador do PRI, Rodolfo Torre Cantú, que foi executado segunda-feira passada junto a quatro de seus colaboradores.

Em Tamaulipas, onde atua o cartel do Golfo, em conjunto para a autarquia impostas pelo atual mandatário priista, Eugenio Hernández, há uma tensa corrida eleitoral, onde o partido do governador será ajudado por seu melhor aliado, o medo imposto pela narcoviolência.

Além disso, flagelados pela violência crescente, os cidadãos de Chihuahua, estado que faz fronteira com os Estados Unidos e laboratório de uma guerra de contra-insurgência, vão depositar seus votos sobre a base consensuada de que são os chefes das máfias criminosas que impõem as pautas.

Outro estado explosivo é Hidalgo, onde a violência também aumentou. Nesse local, a presença do grupo paramilitar Los Zetas é um fato que os próprios políticos locais reconhecem em silêncio. Em outra perspectiva, o processo eleitoral em Veracruz tem se desenvolvido em um ambiente de guerra suja, espionagem e violência, e o atual governador, Fidel Herrera, do PRI, foi acusada de usar milhões de pesos de fundos públicos para alimentar a campanha de seu delfim.

Ao escândalo do Veracruz se soma Puebla, de onde se tem desatado uma guerra de foices (ultraconservadoras). Lá, o PRI e o PAN, com suas respectivas alianças, o dia da eleição pode terminar com um empate. Salpicadas com vulgaridade e baixeza relacionadas à corrupção, a homofobia e o aborto, as acusações entre os candidatos têm levantado temores de que a eleição de Puebla também desemboque em violência.

Com esses antecedentes, espera-se que a eleição de 04 de julho e as suas consequências sejam um capítulo a mais da situação atual do estado mexicano, o que torna incerto e pantanoso o caminho até 2012, quando será escolhiso o sucessor do presidente Felipe Calderón.

* Carlos Fazio é um escritor de renome da imprensa mexicana e colaborador da Prensa Latina.