Copa aumentou autoestima dos sul-africanos, diz ONG

Diante da visibilidade e oportunidades criadas pela Copa do Mundo na África do Sul, a organização não governamental World Future Society (WFS), com o apoio do governo local, decidiu organizar um relatório sobre o legado do torneio e seus reflexos para os próximos 20 anos.

Intitulado "2030 Conversation" e lançado nesta segunda-feira na Cidade do Cabo, o documento ressalta mais do que a construção de novos estádios, infraestrutura de transporte público ou aumento do turismo. Destaca um sentimento renovado e a construção de uma imagem positiva do país.

"O sucesso da Copa do Mundo tem renovado principalmente nossa autoconfiança como nação. E autoconfiança é o ingrediente-chave do desenvolvimento econômico. Se as pessoas não se sentem confiantes, elas não vão gastar ou investir seu dinheiro. Outra grande contribuição do Mundial tem sido a construção de um cenário de oportunidades. Sofremos por muitos anos com a imagem negativa do país com a desigualdade social e a política. Agora com a mídia nos olhando, temos observado que essa imagem tem mudado", disse o presidente da WFS, Michael Lee.

Tal autoconfiança é o principal pilar do relatório, que ressalta a necessidade sul-africana de "uma nova identidade como uma nação capaz com fortes valores éticos, familiares e comunitários" para a construção de uma moral visando ao fim do racismo, da alienação e da violência até 2030. Segundo o coeficiente de Gini, a África do Sul é o nono país com maior desigualdade social no mundo.

"Não é exagero dizer que a evolução para fortalecer esses cinco pilares (etos, educação, economia, meio ambiente e energia) em grande medida determina se a nossa terra vai cumprir ou não sua promessa de imensa liderança até 2030. Este ano de 2010, ao que parece, é um ponto de ramificação para a África do Sul. Escolhas nacionais devem ser feitas em breve. E que elas possam ser firmemente baseadas no conhecimento e na perspicácia", destacou Lee.

Segundo a organização, o PIB sul-africano poderá crescer 7% ao ano nas próximas duas décadas, o que proporcionará ao governo facilidades para promover melhores condições de educação para todas as comunidades, manter os ecossistemas protegidos e investir em fontes renováveis de energia, principalmente a solar e a eólica.

Para o demógrafo do Instituto de Pesquisas do Futuro, Bärbel Haldenwang, o crescimento sustentável é necessário porque o país ainda sofrerá uma rápida urbanização nos próximos anos. Até 2030, 71% da população viverá nas cidades (hoje são 51%) e 65% estará na idade ativa de trabalho, isto é, entre 15 e 64 anos.

Contudo, o número de sul-africanos só crescerá três milhões em 20 anos e atingirá a marca 52,2 milhões de habitantes. Baseado nos cálculos de Haldenwang, sem a Aids o número chegaria a 71,3 milhões de habitantes.

"A infraestrutura criada não foi só para a Copa do Mundo, principalmente no sistema de transporte público. A reforma de portos e aeroportos também é importante. Tudo isso cria um ambiente propício de eficiência, aliado ao desenvolvimento das telecomunicações, para os negócios e o desenvolvimento social", explicou Michael Lee.

Imagem negativa

A coordenadora do projeto da Copa do Mundo da província de Western Cape, Laurine Platzky, rebateu os críticos da imprensa que não desconfiaram da organização do Mundial no continente africano.

"Nós fomos vítimas de um preconceito em um alto nível. Blatter [presidente da Fifa] veio até aqui várias vezes, disse que poderíamos, deveríamos e conseguiríamos fazer isso. Mas, particularmente aqueles que viram a organização alemã, acharam que jamais conseguiríamos. Eu estava na Alemanha em 2006 e vi que o transporte público e toda a estrutura que um país de primeiro mundo tem, estava no lugar. E o nosso não estava, por isso tivemos que fazer um enorme trabalho extra. Começamos antes e fizemos diferente."

Questionada sobre as notícias negativas veiculadas pelo mundo, Platzky ironizou parte da mídia, principalmente a da Inglaterra.

"Parte da imprensa britânica eu realmente não entendo. Jornalistas desembarcaram aqui para escrever histórias como o tráfico de mulheres, prostituição, e isso não aconteceu. Eu acho que há muitas pessoas ao redor do mundo que acham que conhecem a África, a África do Sul, e nós que vivemos aqui, não. Se nós tivéssemos gastado milhões de dólares em comunicação ou esclarecimentos, seria um grande problema. Por isso, nos preocupamos em investir o dinheiro neste grande show que é a Copa. Foi a coisa certa e os reflexos hoje podem ser notados."

Fonte: Portal Copa 2014