Rabelo: volta dos tucanos levaria a grande tensionamento social
Com o início oficial do período eleitoral, aumenta a atenção de partidos e militantes para o embate de outubro. Na avaliação do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, os comunistas – além de se voltarem para o projeto eleitoral do partido – devem se empenhar em “desmascarar” a candidatura de José Serra (PSDB). “Ele sabe que o governo Lula deu certo; então tenta aparecer como um candidato que continuará esse processo. Isso é uma empulhação, uma farsa”, argumenta.
Publicado 09/07/2010 17:55
O dirigente avalia ainda que um retorno dos tucanos ao poder central resultaria em “tensionamento social” e “retrocesso” porque seguiria no sentido oposto ao das políticas aplicadas hoje, que têm como foco o desenvolvimento com distribuição de renda, a busca por maior justiça social, a inserção soberana do Brasil no cenário internacional e seu esforço em integrar os países latino-americanos.
“Nosso papel daqui para frente”, disse Rabelo, “é demonstrar quais são os reais interesses dele (Serra), e quais são os nossos” e mostrar que “Dilma não é a melhor candidata apenas por ter sido indicada pelo presidente, mas por ter sido figura central no próprio êxito do governo. É assim que o povo vai compreender quem é quem”.
Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista que Renato Rabelo concedeu ao Vermelho, em que o dirigente também fala sobre pesquisas eleitorais, projeto eleitoral do PCdoB e sobre a candidatura de Flávio Dino no Maranhão.
Ampla adesão a Dilma
“Finalizadas as convenções, o campo de Dilma, que é o campo de Lula, consegue pela primeira vez um número grande de adesões. Em 2006, quando houve a exigência da verticalização, praticamente só três partidos oficializaram o apoio à candidatura Lula, além dos que apoiaram de maneira não oficial. Dessa vez, a regra não é aplicada e são muitos os partidos que a apoiam. Além disso, a aliança conta – pela primeira vez já no primeiro turno – com o PMDB, maior partido do país, e com toda a esquerda junta. Por se tratar de um apoio amplo, tem repercussão nos estados porque cada um tem uma situação diferenciada, o que dificulta a manutenção de uma aliança igual em todos os lugares. Surge então, também de maneira inédita, o fenômeno dos dois palanques. Isso ocorreu em 2006, mas hoje acontece em vários estados, o que demonstra a amplitude do apoio a Dilma”.
Apoio minguado a Serra
“No caso de José Serra, é um apoio político mais restrito, basicamente o DEM e o PPS, que são partidos que já vêm fazendo oposição ao governo Lula. Conseguiu também puxar o PTB, mas mesmo este partido está dividido, pois uma parte vai apoiar Dilma nos estados. O tucano, portanto, não conseguiu ter um apoio político amplo, o que demonstra ser uma candidatura que enfrenta muitas dificuldades na unificação de sua própria base. A escolha do candidato a vice-presidente demonstra isso. Caminharam para uma situação de impasse, não conseguindo harmonizar a aliança e para solucionar esse impasse, entraram por uma vertente inesperada: indicar um vice (Índio da Costa) sem expressão nacional, alguém que não é uma liderança de proa dessa frente. Claro que muitas vezes não se dá destaque a isso porque a mídia brasileira é muito favorável a eles. Agora, se isso tivesse ocorrido no nosso campo, imagina o barulho que iam fazer”.
Candidatura programática
“O mais importante a se considerar nestas eleições, no entanto, é aquilo que a gente já vem falando há algum tempo: o campo de Dilma Rousseff tem um programa que já vem sendo aplicado. Não é algo hipotético, calcado em especulações ou teses. É um programa que já vem sendo aplicado – sobretudo se considerarmos o segundo governo Lula – e ao qual se quer dar continuidade e desenvolvimento. O programa apresentado é ainda aquele elaborado pelo PT e que vai servir de base para discussão entre os partidos da base. O Serra, nem programa apresentou. A exigência do Tribunal Superior Eleitoral é muito significativa: os partidos devem apresentar seus programas quando registram seus candidatos, isso é um compromisso político explícito que Serra subestimou. Ficou flagrante que nem programa a oposição tem, tanto que utilizou improvisadamente alguns discursos do seu candidato para não dizer que ficou de fora. Isso mostra também que eles não têm alternativa melhor ao programa de desenvolvimento com distribuição de renda, democracia e soberania nacional que vem sendo aplicado ao país”.
Tensionamento social
“A volta dos tucanos ao poder central levaria a um grande tensionamento social no país e no plano continental, já que significaria um retorno à inserção internacional subordinada do Brasil e à paralisia do processo de desenvolvimento com distribuição de renda e democracia. No fundo, Serra sabe que o governo Lula deu certo; então ele tenta aparecer como um candidato que continuará esse processo e que inclusive teria melhores condições de lhe dar continuidade. Isso é uma empulhação, uma farsa. Nosso papel daqui para frente é demonstrar quais são os reais interesses dele, suas verdadeiras intenções e quais são os nossos. É assim que o povo vai compreender quem é quem. Em resumo, é preciso mostrar ao povo que Dilma Rousseff representa essa continuidade e que ela inclusive foi uma figura chave no governo, na realização do programa aplicado por Lula. Ou seja, ela não é a melhor candidata apenas por ter sido indicada pelo presidente, mas por ter sido figura central no próprio êxito do governo. Não é uma pessoa qualquer”.
Especulação nas pesquisas
“Sempre há volatilidade de opiniões em período eleitoral. Quando Dilma cresce nas pesquisas – ou, como mais recentemente, ultrapassa Serra – há sempre opiniões apressadas de que poderia vencer já no primeiro turno. Já em momentos que não há crescimento em sua candidatura, avaliam que vai para o segundo turno. Neste momento, tudo isso é pura especulação. Não temos base nenhuma para dizer se o pleito vai ser decidido no primeiro ou no segundo turno. O mais importante é não nos perdermos nisso e analisarmos as tendências. É preciso avaliar qual a tendência demonstrada numa série de pesquisas porque isoladamente, uma pesquisa reflete apenas um determinado momento e varia conforme o instituto porque os métodos não são sempre os mesmos. E em todas as pesquisas, a tendência é de crescimento da Dilma. No caso de Serra, o que se vê é a manutenção do seu patamar. Ele varia pouco, 5% a mais, 5% a menos dentre de seu patamar. Há pouco tempo alardearam: “empate!”. Mas no começo da série, Dilma estava atrás e empatou porque ela cresceu.
Mais recentemente disseram: “empatou novamente”. Não. Foram métodos diferentes porque praticamente no mesmo momento duas pesquisas demonstraram que Dilma ultrapassou Serra e duas disseram estarem empatados. Em resumo, o que interessa é que a tendência de Dilma é de ascensão, enquanto Serra parece ter atingido seu teto. E mais: Dilma pode crescer muito porque ainda não é tão conhecida como Serra e tem muita gente que não sabe que ela é a candidata de Lula. Veja que 65% daqueles que dizem votar no Serra avaliam o governo Lula como ótimo e bom. Então, o crescimento de Dilma é uma questão de tempo”.
Projeto proporcional comunista
“O PCdoB tem sempre lutado para que as alianças de apoio a Dilma consigam assegurar a continuidade do ciclo aberto por Lula. Dessa maneira, o partido não se perde, mantendo sua coerência em âmbito nacional. Dentro dessas alianças, procuramos ver como o partido apresenta suas lideranças e a possibilidade de êxito dessas candidaturas para que o partido também cresça. Definimos que era necessário o PCdoB ter uma bancada maior de deputados federais, chegando à casa das duas dezenas, o que seria um passo importante, já que elegemos 13. Não é uma tarefa simples, mas reunimos condições para isso. No Senado, o objetivo é conquistar uma bancada, o que o partido nunca teve; pretendemos eleger pelo menos mais dois ou três senadores, além do que já temos (Inácio Arruda, do Ceará)”.
Reafirmação de Flávio Dino
“O PCdoB vem acumulando força eleitoral, sobretudo nas eleições municipais, que são mais de base, o que nos permite ter candidaturas ao governo. Por esse motivo, apresentamos Flávio Dino no Maranhão. O partido acredita que é preciso sempre fazer um esforço de sustentar a candidatura majoritária com uma frente política de certa amplitude porque sem isso há pouca possibilidade de êxito. No Maranhão, conseguimos o apoio do PT local, do PSB e do PPS. Evidentemente o PT, em função de compromissos assumidos na aliança nacional, sobretudo com o PMDB, revogou decisão tomada no âmbito local. De uma forma ou de outra a gente compreende isso, mas é um compromisso que se choca com os interesses do PCdoB que é seu aliado também. E isso acabou criando uma tensão, um relacionamento difícil entre o PT e o PCdoB, mesmo levando em conta que não temos nenhuma ilusão; na relação política o que vale são os interesses e os compromissos políticos assumidos. De maneira que ninguém está pedindo generosidade, mas o PCdoB procurou manter sua posição e buscou apoios para que tivesse um mínimo de sustentação política à sua candidatura. Na prática, talvez uma parte maior do PT vá fazer campanha também para o Flávio Dino.
Mantivemos sua candidatura também porque chegamos a uma situação de compromisso com os aliados, as forças políticas e sociais do estado em que não poderíamos mais recuar. É uma experiência nova, importante porque o PCdoB nunca teve uma candidatura de expressão ao governo. O Flávio Dino é uma liderança em ascensão no Maranhão – o que pôde ser constatado quando concorreu à prefeitura de São Luís em 2008 –, é respeitado e tem um papel importante no Congresso Nacional. O próprio presidente Lula disse, em nosso ato de apoio a Dilma, que todos os partidos precisam ter candidaturas majoritárias, se não o povo nem sabe o que esse partido pretende porque nas candidaturas ao parlamento são “parciais” ao se dirigem a uma parcela da população. Já as majoritárias se dirigem a todo o povo”.
Atenção dos comunistas
“Nesta fase, os comunistas devem atentar primeiramente para a necessidade de fazermos uma campanha que mobilize amplamente a população para que a gente consiga ter êxito na candidatura à presidência da República porque este é projeto maior; se a gente perde aí, a gente perde o projeto em curso. O segundo ponto é fazer um grande esforço para elegermos os candidatos do partido levando em conta as alianças. Temos de fazer um grande esforço para que os partidos de esquerda cresçam no país, de maneira que o PCdoB também cresça elegendo seus candidatos. O objetivo é que a esquerda possa fazer mais de 200 deputados e mais do que dobrar a bancada de senadores. A terceira questão é explicitar ao povo a diferença entre o nosso projeto e o de Serra; o que significa a nossa vitória e o que significaria a vitória dele. E explicitar que quem tem melhores condições e legitimidade para levar adiante o projeto de continuidade e de avanço é Dilma Rousseff. No fundo, Serra e sua turma querem mudar sim o que vem sendo aplicado, mas querem aparecer como continuadores. Isso é que temos que desmascarar”.
Da redação,
Priscila Lobregatte