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Bernanke confessa pessimismo com o futuro dos EUA

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) Ben Bernanke, disse nesta quarta-feira (21) que a economia dos Estados Unidos enfrenta perspectivas "atipicamente incertas", acrescentando que o banco central está pronto para adotar mais medidas para impulsionar o crescimento se for necessário.

As autoridades monetárias do pais estão diante de dilemas críticos, pois os estímulos extras do Estado agravam sobremaneira os desequilíbrios internos e externos do pais ao ampliar o déficit e a dívida pública.

Governo e Fed ja injetaram trilhoes de dólares na economia para resgatar o corrompido sistema financeiro e reativar as atividades produtivas. Estão colhendo resultados decepcionantes. O déficit público explodiu, a recuperação é frágil e muitos temem uma recaída na recessão ou algo parecido ao que foi sugerido, em recente artigo, pelo economista americano Paul Krugman, a terceira recessão do capitalismo mundial.

Entre a cruz e a espada

As autoridades econômicas parecem se encontrar entre a cruz e a espada. A estagnação da economia, dois anos e meio depois do início da recessão (em dezembro de 2007), recomenda novas medidas anticíclicas, mas os efeitos colaterais destas (aumento dos desequilíbrios e risco da inflação) sugerem cautela. "Mesmo com o Federal Reserve mantendo um planejamento prudente para a retirada da política monetária expansionista, também reconhecemos que as perspectivas econômicas continuam atipicamente incertas", destacou Bernanke em testemunho preparado para apresentação ao Comitê Bancário do Senado.

"Continuamos preparados para adotar mais medidas, conforme necessário, para impulsionar a volta da utilização total do potencial produtivo de nosso país em um contexto de estabilidade de preços." Bernanke acrescentou que as autoridades do Fed acreditam que a economia norte-americana ainda está no caminho para a recuperação. "Embora a política fiscal e a reconstrução de estoques devam fornecer menos ímpeto para a recuperação do que nos trimestres passados, a maior demanda das famílias e dos empresários ajudará a sustentar o crescimento."

Perspectiva nebulosa

Por ora, Bernanke disse que o Fed prevê que as condições econômicas irão requerer uma taxa básica de juros excepcionalmente baixa por um "período prolongado". Essa é uma linguagem que o BC vem repetindo há mais de um ano. Bernanke não detalhou quais medidas o Fed poderia adotar se o crescimento se abater. Analistas dizem que o banco poderia retomar a compra de ativos ou reduzir a taxa que paga aos bancos para que deixem no Fed os recursos excedentes.

"O depoimento não foi particularmente otimista", disse Lawrence Glazer, sócio da Mayflower Advisors, em Boston. "Isso indica que o Fed tem uma visão relativamente nebulosa do futuro." O presidente do Fed usou grande parte de seu testemunho citando as ferramentas que o Fed tem à disposição para remover as medidas extraordinárias de liquidez implementadas durante a crise de 2007 a 2009.

Inflação e deflação

Ele afirmou haver concordância ampla entre as autoridades do Fed de que vendas de ativos terão um papel nesse movimento, mas acrescentou que qualquer venda será sinalizada com antecedência. Bernanke acrescentou que o fraco mercado de trabalho provavelmente continuará restringindo o gasto do consumidor e que levará tempo para o país recupere cerca de 8,5 milhões de postos de trabalho destruidos pela recessão entre 2008 e 2009, de acordo com estatísticas oficiais.

Em tal cenário, ele indicou que a inflação não é preocupação e que não deve ser por mais algum tempo. Com efeito, os preços tendem a cair, e não subir, com a estagnação e o desemprego elevado, que deprimem a demanda, tornando o risco de deflação maior do que o de inflação. As coisas podem mudar se a recuperação, em algum momento, se tornar efetiva e forte.

Contraste

A performance da maior economia capitalista do mundo contrasta fortemente com o vigoroso crescimento da China e de outros mercados considerados emergentes. Governado pelos comunistas, o gigante asiático gastou muito menos para reverter os efeitos da crise (em 2008), mas foi bem mais eficaz. A economia chinesa está crescendo a taxas superiores a 10% ao ano, ja arrebatou o primeiro lugar no ranking mundial da exportação de mercadorias e agora se destaca tambem na exportação de capitais. Tal comportamento se explica pelas taxas de poupança e investimentos, de longe as maiores do mundo.

Os problemas que afligem a economia dos EUA são mais profundos do que a ideologia dominante imagina. O pano de fundo é o parasitismo, um vício que exacerbou a dependência do Tio Sam em relação ao capital estrangeiro. A economia imperial não se sustenta sem a injeção maciça de recursos externos, sobretudo da China. Os bilhões de dólares provenientes do exterior que ingressam diáriamente no pais são essenciais. Sem eles, a estagnação (crônica e não apenas conjuntural) seria inevitável. Em tese, o vício poderia ser corrigido aumentando a taxa de poupança ('chocantemente baixa', nas palavras do economista Josefh Stiglitz) em detrimento do consumo, que hoje representa 70% do PIB. Mas tal solução, politicamente impopular e arriscada, não está no horizonte das classes dominantes estadunidenses. E por esta razão, entre outras, que a decadência da potência hegemônica já parece irreversível.

De São Paulo,
Umberto Martins, com agências