Sem categoria

Uribe quer comprometer sucessor com sua agenda de confrontação

A acusação feita pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, sobre a presença de guerrilheiros em território venezuelano é uma tentativa de guiar a política externa de seu sucessor, Juan Manuel Santos, opina Paulo Vizentini, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

Em entrevista à Ansa, Vizentini, que é especialista em relações internacionais, afirma que a denúncia feita na última reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) "é uma tentativa do governo que sai de criar uma situação que faz com que governo que entre continue com essa política".

Na reunião, ocorrida em 22 de julho, o embaixador colombiano no órgão, Luis Alfonso Hoyos, mostrou documentos e fotos que provariam a existência de cerca de 1,5 mil guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em acampamentos estabelecidos em território venezuelano.

De acordo com Vizentini, o tema levantado nas últimas semanas do mandato de Uribe parte da mesma estratégia do ex-presidente norte-americano George W. Bush (2001-2009). Antes de deixar a Casa Branca, ele "relançou a Quarta Esquadra e o outro governo não pode anular tudo o que governo anterior fez. É uma maneira de comprometer o novo dirigente com uma agenda de confrontação", recorda.

A Quarta Frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos estava desativada há cinco décadas e foi utilizada na época da Guerra Fria para patrulhar as águas da região sul do continente americano.

O historiador reitera que a denúncia colombiana também teve a intenção de recuperar a importância política do organismo que, segundo ele "vem perdendo sua força".

"O fato de ter ido lá [na OEA] é uma tentativa de resgatar o papel da organização, que vem perdendo sua força, principalmente quando apareceu a crise de Honduras e a OEA não teve capacidade de buscar solução para o problema", sustenta.

Por outro lado, o especialista acredita que "a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] tem um papel positivo" para a integração regional e tem exercido melhor essa função do que a outra entidade.

Contudo, na reunião de chanceleres realizada ontem em Quito, os países-membros da Unasul não conseguiram chegar a um consenso sobre o caso. A intenção do Equador, país que atualmente preside o órgão, era criar uma comissão de diálogo entre as duas nações.

Apesar da crise diplomática que o sucessor de Uribe receberá assim que for empossado, Vizentini entende que há espaço para Santos seguir outra agenda política. "Santos pode ter mais tranquilidade para governar sem seguir a mesma agenda do seu antecessor. Se ele não quiser o diálogo, ele vai continuar na mesma linha e evitar a Unasul, mas não pode evitar totalmente porque isso seria antipático com os outros países", afirma.

Juan Manuel Santos, que assume a presidência no dia 7 de agosto, declarou, logo após eleito, que está disposto a reaproximar os laços entre seu país e a Venezuela. Desde que o presidente Hugo Chávez rompeu as relações diplomáticas, o futuro mandatário preferiu não se pronunciar sobre o caso.

Diplomacia brasileira Vizentini também apoia a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em um almoço realizado na quarta-feira passada com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, afirmou que "o que ouvimos mais aqui na América Latina é conflito verbal".

"A diplomacia brasileira tem razão, é uma guerra de palavras, sem grandes evidências", diz Vizentini. "Uma coisa é procurar refúgio em um país e trocar de identidade, e outra é ter uma organização", completa.

Com Ansa