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Mercadante: "Quero ser avaliado pela qualidade da escola pública"

Neste sábado a agenda de campanha do campo progressista em São Paulo reuniu professores, estudantes e militantes da luta pela educação no Seminário Programa de Governo: Nova Política de Educação para São Paulo, organizado pela coordenação de campanha do candidato ao governo do estado Aloizio Mercadante. O evento contou com a presença do Ministro da Educação, Fernando Haddad.

Mercadante: "Quero ser avaliado pela qualidade da escola pública" - Luana Bonone

O auditório do Palácio do Trabalhador, no prédio da Força Sindical, localizado no bairro da Liberdade, abrigou cerca de mil pessoas a partir das 10h deste sábado (7). Professores, estudantes e outros militantes do movimento educacional, além de candidatos proporcionais e dirigentes dos partidos que compõem a coligação compuseram o público do seminário.

Netinho de Paula

No início do ato, o candidato ao Senado pelo PCdoB, Netinho de Paula, saudou os presentes e pautou a importância da valorização dos professores, denunciando que, no estado de São Paulo, um professor recebe apenas R$ 7,50 por aula. Netinho denunciou também o baixo valor do vale-alimentação dos servidores públicos estaduais, apelidado pelo movimento sindical de “vale-coxinha”, e emocionou o público ao contar a experiência da sua própria família a partir da implementação do Programa Universidade para Todos (ProUni).

A candidata do PT ao senado, Marta Suplicy, não compareceu ao ato, tendo sido representada pelo seu suplente na chapa, o presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues (PR).

Foto: Luana Bonone
O Ministro Fernando Haddad participou do Seminário sobre educação do programa de governo do candidato ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante (PT).

Anel universitário versus Rodoanel

O Ministro Fernando Haddad iniciou sua fala valorizando a União Nacional dos Estudantes (UNE) e os professores. Pautando a importância de políticas educacionais que abarquem desde a educação infantil até a pós-graduação, Haddad contrapôs as políticas do governo federal às do governo estadual, criticando este último por se negar a realizar parcerias do estado com a União. “Com todo o respeito à obra, porque é bom que se trem os caminhões da Imigrantes, mas o ‘anel universitário’ que criamos em torno de São Paulo é muito mais importante que o rodoanel”, provocou o ministro. Haddad falou ainda que os governos estaduais têm se empenhado para construir redes de creches junto às prefeituras, mas que esta realidade não se aplica a São Paulo.

Após pautar as políticas educacionais implementadas pelo governo Lula e criticar a resistência de parceria do governo José Serra, Haddad testemunhou que chegou a ser cogitado para ser o candidato do PT ao governo de São Paulo, mas que sempre defendeu o nome de Aloizio Mercadante: “infelizmente há poucos homens públicos como o Aloizio, que se preparou a vida inteira para exercer a função que exerce, que conhece as entranhas do estado de São Paulo, que conhece as instituições públicas melhor que a maioria dos intelectuais, um economista que entende a importância da distribuição de renda”, declarou o ministro, e completou: “não precisamos de um gerente para o estado de São Paulo, precisamos de uma liderança”. Sobre Dilma Rousseff, Fernando Haddad disse que será a primeira mulher a chegar à presidência da república, depois do primeiro operário e arriscou: “e que será sucedida, quem sabe, pelo primeiro negro na presidência da república”.

Concepção expressa desde os cumprimentos

A ordem e o teor dos cumprimentos feitos pelo candidato petista ao governo de São Paulo por si já expressam uma concepção, uma definição de prioridade que valoriza os movimentos sociais. Aloizio Mercadante iniciou saudando as mulheres do plenário na pessoa da presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Izabel Noronha, a Bebel. Em seguida, Mercadante dirigiu o cumprimento à juventude e aos estudantes primeiro à União da Juventude Socialista (UJS) e depois às entidades, todas presentes ao ato: UNE, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) e União Estadual dos Estudantes (UEE-SP). O candidato declarou que o movimento estudantil está sempre à frente do seu tempo, seja com uma pequena vanguarda ou mobilizando passeatas, e finalizou: “Se entidades estão aqui hoje, é porque o futuro está passando por esta sala”.

Aloizio Mercadante fez questão ainda de cumprimentar nominalmente cada um dos candidatos e candidatas a deputado e deputada estadual e federal presentes no plenário. Os últimos cumprimentos foram aos veículos de imprensa presentes, ao tempo em que ironizou: “tenho que agradecer também à Rede Globo pela cessão de um minuto diário”, mas completou, valorizando: “já é um grande salto de qualidade em relação a pleitos anteriores, exemplo que deve ser seguido por outras emissoras”.

O início do discurso de candidato a governador remontou à luta contra a ditadura e pela conquista das diretas, valorizando o movimento estudantil e antigos companheiros de luta. Neste contexto, Mercadante lembrou o retorno de Paulo Freire do exílio e se emocionou ao falar do pedagogo. O petista emendou elogiando a política educacional do governo Lula e dizendo que foi preciso um presidente e também um vice presidente sem diploma universitário para que se criassem tantas universidades públicas.

Foto: Luana Bonone
O candidato a governador de SP declarou-se defensor da emenda que destina recursos do pré-sal para a educação.

Em defesa do pré-sal para a educação

Para Aloizio Mercadante, “a educação é a porta do futuro”. Ele discorreu sobre o quanto a educação é importante para o desenvolvimento do país, afirmando que esta tendência é crescente, pois “vivemos cada vez mais em uma sociedade do conhecimento”, e completou: “o melhor bem é aquele que deixamos para nossos filhos e netos, e este bem é a educação”. O candidato defendeu que todos os temas: cuidado com o meio-ambiente, aumento da produção de alimentos e melhor distribuição dos recursos, todos os temas relacionados ao desenvolvimento do país, passam pelo desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, pelo conhecimento. Neste momento, defendeu que os recursos do pré-sal sejam usados para educação, ciência e tecnologia: eu, junto com outros senadores, apoiei a emenda que destina verbas do fundo do pré-sal para educação, até porque o petróleo vai acabar e, para essa herança ficar, tem que ser investida em educação. Inclusive porque não haverá petróleo no futuro, é preciso novas fontes de energia e, para isso, tem que ter Ciência e Tecnologia”

Mercadante pautou a educação infantil e defendeu um sistema que considere que educação não é só escola, mas começa pela escola. O candidato citou o exemplo do bairro Heliópolis, uma das maiores favelas do país, localizada em São Paulo, onde a associação de bairro propõe um “bairro educador” e disse que todo o bairro tem que de fato tem que ser envolvido no processo de educação. Defendeu que já na gravidez, durante o pré-natal, os pais da criança recebam orientações, sejam preparados, e que a creche não seja apenas um espaço para a mãe que trabalha deixar a criança, mas que seja de fato um espaço educacional: “vamos substituir o ‘pedagocídio’ pelo ‘pedagosonho’”, enfatizou.

Privatização mais cruel foi a da qualidade da educação

Para Mercadante, a privatização mais cruel feita pelos tucanos foi a privatização da qualidade da educação. Além da educação infantil, o candidato pautou a importância do ensino técnico e profissionalizante para o Ensino Médio, defendendo a parceria com o Sistema S. Falou também sobre educação integral, proporcionando atividades ligadas a cultura, esporte e monitoria para os estudantes e declarando que o ministro Orlando Silva (do Esporte) está bastante empenhado em projeto desta natureza. Sobre as uinversidades, Aloizio criticou a implementação da USP Leste por não se relacionar com a região, e disse ter se convencido de opinião apresentada pelo reitor da UNESP de que, ao ser implantado um campus universitário em uma região, é preciso fazer uma escola técnica próxima, para preparar o estudante daquela região para entrar na universidade. Mercadante defendeu que deve ser acrescentado ainda um colégio de aplicação de educação básica. Defendeu ainda projeto de inclusão digital nas escolas com verbas do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).

Professor universitário, Mercadante pautou com veemência a valorização do salário e a garantia de estabilidade e carreira para os professores, redendo “profundas homenagens” aos professores do estado de São Paulo. Criticou o reajuste salarial para apenas 20% do corpo docente da rede estadual paulista, com base em uma única prova, e disse que a postura do governador deve ser a de “ouvir, respeitar, dialogar com quem está na sala dando aula, e não tratar na borrachada e cassetete”, momento em que foi ovacionado pelo plenário.

Foto: Luana Bonone
Mercadante: “o último compromisso que quero assumir: quero ser avaliado, ao final do governo, pela qualidade que a escola pública tiver".

“Quero ser avaliado pela qualidade que a escola pública tiver”

Encerrando o debate sobre educação, Aloizio Mercadante desafiou: “o último compromisso que quero assumir: quero ser avaliado, ao final do governo, pela qualidade que a escola pública tiver. É um compromisso ousado, pois quatro anos é pouco tempo e as mudanças na educação são lentas, mas quero assumir este compromisso”, e provocou: “quem não foi capaz de fazer isso, não deveria nem ser candidato”.

Ao final do discurso, Aloizio agradeceu a presença de sua esposa na mesa e ressaltou que ela possui um trabalho com jovens em Heliópolis, defendendo sua militância: “não é madame que vai lá de vez em quando tirar umas fotos, a Regina vai lá todo dia”, e falou de um projeto que envolve o hip-hop, quando acrescentou que a educação precisa ter relação com a cultura e completou: “se não tivesse o pagode, não tinha o Netinho de Paula, que será o primeiro negro a representar São Paulo no Senado, após 180 anos. Se não fosse o pagode, ele estaria vendendo bala no trem, que é onde ele estava antes”. Em seguida disse que Marta Suplicy será também a primeira mulher no Senado pelo estado.

Após o debate de abertura, o seminário foi suspenso para o almoço e seria retomado no período da tarde com 8 mesas temáticas simultâneas. Nas mesas, professores e funcionários dos sindicatos da área da educação, militantes do movimento estudantil e intelectuais progressistas. Trata-se do sexto seminário temático da candidatura de Mercadante para elaboração do programa de governo. O candidato ao governo do estado teria, ainda na tarde deste sábado (7), três agendas com candidatos proporcionais na própria capital, em Santos e em Americana.

De São Paulo, Luana Bonone