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PIB em queda e desemprego em alta: Grécia colhe o que FMI semeou

Para salvaguardar os interesses dos banqueiros alemães e franceses, o FMI e a União Europeia impuseram um duro pacote de arrocho fiscal à Grécia, com a cumplicidade do governo social-democrata e a despeito da forte oposição da classe trabalhadora. O resultado não se fez esperar. A produção está em queda livre e o desemprego não para de crescer.

O país helênico colheu os piores resultados da União Europeia em matéria de economia. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 1,5% no segundo trimestre em relação aos três meses anteriores, de acordo com informações divulgadas nesta quinta-feira (12) pelo governo grego. A redução se segue à queda de 0,8% registrada no primeiro trimestre do ano.

Desemprego sobe a 12%

Na comparação com o segundo trimestre de 2009, que também foi um ano crítico, o recuo foi ainda maior: 3,5%. O percentual também é superior à queda de 2,3% registrada no primeiro trimestre de 2010 frente ao mesmo período de 2009.

O mercado de trabalho na Grécia vem sendo fortemente impactado pela recessão. A taxa de desemprego no país subiu de 11,9% em abril para 12% em maio. No quinto mês de 2009, a taxa de desemprego era de 8,5%. O número de desempregados no país saltou 43,2% de maio de 2009 a maio de 2010, passando de 420.401 a 602.185 trabalhadores.

Causas da crise

O governo da Grécia, dirigido pelo primeiro-ministro George Papandreou, atribuiu a contração da economia à diminuição dos investimentos produtivos e ao arrocho fiscal. Mas, não esclareceu que o problema decorre basicamente da redução dos gastos públicos, receita imposta pelo FMI e União Europeia com o apoio, claro, da administração social-democrata.

O corte nas despesas governamentais, aposentadorias, salários e direitos da classe trabalhadora, configuram a receita imposta pelo FMI e União Europeia como condição à ajuda superior a 100 bilhões de euros para garantir o pagamento da dívida externa, ou seja, o reembolso e lucro dos credores. Agora, estão exigindo a privatização das empresas públicas.

Socializando prejuízos

As medidas de suposta austeridade impuseram sacrifícios duros ao povo trabalhador, que, todavia, não tem nenhuma responsabilidade pela crise. Esta decorre, conforme denunciam os sindicalistas, de políticas econômicas neoliberais orientadas pelos interesses da oligarquia financeira.

Bancos e credores, ao contrário dos trabalhadores, receberam dinheiro do governo para contornar a crise, dentro da velha lógica do Estado capitalista de socializar os prejuízos e privatizar os lucros. Este é o motivo da revolta dos assalariados, que já realizaram cerca de sete greves gerais contra o pacote de arrocho ao longo deste ano.

Falso discurso

Refletindo o pensamento e os interesses da oligarquia financeira, a mídia hegemônica alimenta a ideia de que os trabalhadores gregos são privilegiados, acumularam muitos benefícios no contexto do Estado de Bem Estar Social e devem sacrificar seus direitos em nome da salvação da pátria. É um discurso falso e mentiroso, conforme as lideranças trabalhistas.

O custo do trabalho na Grécia é modesto e baixo em comparação com o resto da Europa. O salário médio com que a força de trabalho do país é remunerada soma 1.100 euros, metade do que ganham (em média) os trabalhadores europeus (2.200 euros). A aposentadoria, aos 65 anos para homens e mulheres, também é 50% inferior à média europeia, ao passo que a jornada de trabalho é maior.

Dois anos de recessão

O país está em recessão desde 2008. A conjuntura azedou após a emergência da crise da dívida externa e as medidas impostas pelo FMI e UE. Com 96% da população alfabetizada, a Grécia ascendeu à 18ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas em 2008 e, depois de dois anos seguidos de queda do PIB, recuou em 2010 para a 25ª colocação.

A experiência do Brasil com a crise da dívida externa e sucessivos pacotes ditados pelo FMI, nos anos 1980, sugere que o pobre país europeu vai enfrentar dias ainda mais difíceis. O retrocesso econômico e social subjacente ao caminho indicado pelo FMI vem sendo evidenciado pelos fatos.

Alternativa dos trabalhadores

As classes dominantes querem fazer crer que não há alternativa viável ao arrocho fiscal, mas isto tampouco é verdade. As forças progressistas do país, com destaque para os comunistas e lideranças da classe trabalhadora (com um crescente protagonismo político), lutam com energia por uma outra saída, em que a conta da crise seja apresentada aos que são responsáveis por ela.

A suspensão do pagamento da dívida externa, a redução da taxa de juros (fixada em 5% reais ao ano) e a taxação dos bancos e dos ricaços são algumas das medidas que podem ser adotadas em substituição ao arrocho fiscal, que joga sobre as costas dos assalariados toda a carga da crise.

Da redação, Umberto Martins