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Petróleo vai aproximar Brasil e África

São muitos os laços que unem Brasil à Africa, especialmente no que diz respeito à chegada dos escravos provenientes do continente negro pelos colonizadores portugueses. Por este motivo, compartilhamos com nossos irmãos crenças religiosas, ritmos musicais, hábitos alimentares e muito mais. Hoje é impossível ser brasileiro sem ser um pouco africano.

Por Haroldo Lima*

A descoberta do pré-sal no Brasil e de jazidas de petróleo no litoral africano, especialmente em Angola, nos colocam o desafio de tornar o petró leo um importante agente para o desenvolvi- mento de ambos os países, com Educação, Infra-estrutura, Tecnologia e Geração de Empregos.

A exploração das jazidas petrolíferas, nos dois lados do Atlântico, já contribuiu para estreitar a relação entre Africa e Brasil. Nos últimos anos tive o prazer de receber, em meu escritório na ANP, delegações de vários países africanos, sobretudo a de Angola.

No final do ano passado, estive em visita neste país irmão, a convite do Governo local, e fiquei impressionado com o seu crescimento. Luanda, por exemplo, tornou-se um canteiro de obras.
O país, além do setor petrolífero, vem tomando medidas para desenvolver outras áreas produ- tivas, criar empresas nacionais de serviços e qualificar sua mão-de-obra. Já existe um projeto piloto para fabricação de etanol à base de cana-de-açúcar e metas estão sendo definidas para aumentar o conteúdo nacional na indústria petrolífera.

Hoje, além da Petrobras que atua em cinco países africanos (Angola, Líbia, Namíbia, Nigé ria e Tanzânia), também temos a presença de outras grandes empresas brasileiras, como a Vale do Rio Doce, Queiroz Galvão e a Odebrecht, que já atuam no setor de petróleo e gás e que lá poderão fazer o mesmo nos próximos anos, caso surjam oportunidades.

Aqui no Brasil, contamos com a presença de duas empresas angolanas, a Somoil e a Sonangol. A primeira participa de um consórcio num bloco na Bacia do Recôncavo, na Bahia. A segunda, que recentemente adquiriu a Starfish, conta com 11 blocos e um campo.

Para mim, a vinda de empresas africanas para explorar e produzir petróleo no Brasil é uma notícia alvissareira. Há alguns anos, quem dissesse que uma empresa angolana estaria participando das nossas rodadas de licitações com reais possibilidades de arrematar áreas com bom potencial seria taxado de louco.

E é pensando no futuro, que eles investem bilhões e bilhões de dólares todos os anos nos países africanos, construindo desde escolas a estradas, usinas, hidrelétricas. O Brasil também começa a despertar para essa nova realidade.

Mas não é somente a extração mineral que pode proporcionar oportunidades de novos negócios entre Brasil e África. Na viagem que fez recentemente à África, o presidente Lula assinou com a agência de petróleo da Tanzânia um acordo para desenvolver parcerias para a produção de bicombustíveis, uma vez que o governo daquele país tem a intenção de adicionar 9% de etanol na gasolina vendida no país.

Depois de superarmos anos difíceis, sofrendo muitas vezes com as regras ditadas exclusivamente pelos países ricos, finalmente estamos tendo a oportunidade de crescer e nos desenvolver com autonomia. O Brasil e a África encontram-se neste momento numa posição privilegiada para crescerem e se desenvolverem. Acredito que o petróleo, o gás e os bicombustíveis vão abrir novas portas para tornar essa integração racial, cultural e econômica ainda mais estreita.

*Haroldo Lima é diretor-geral da ANP
Fonte: Revista Brasil-Angola, jolho/agosto de 2010