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Enchentes afetaram 20 milhões e mataram 2 mil no Paquistão

O total de mortes provocadas pelas enchentes no Paquistão nas duas últimas semanas é menor do que o número de vítimas mortais provocadas pelos três últimos desastres naturais registados — o tsunami da Índia e os terremotos no estado de Caxemira e no Haiti. Contudo, segundo a ONU, as enchentes que já afetaram 20 milhões e mataram 2 mil paquistaneses se configuram em uma catástrofe pior do que as últimas três combinadas — que, no total, atingiram 11 milhões de pessoas.

Maurizio Giuliano, porta-voz do gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, afirma que os números divulgados pelo governo paquistanês são quase o quádruplo do estimado pela ONU (seis milhões de afectados), que sofrem com as enchentes provocadas pelas chuvas fortes da época de monções desde julho.

Esta semana o Banco Mundial anunciou que vai emprestar 900 milhões de dólares (quase 700 milhões de euros) para a reconstrução do país. Há queixas de que a ajuda internacional atribuída até agora é pequena e não chega atrasada.

Um porta-voz do Banco Mundial garantiu que as prioridades serão redefinidas de forma a que o dinheiro aplicado em projetos específicos e atribuído a agências humanitárias "se torne disponível de imediato".

No rescaldo da catástrofe humana, a crise da recuperação do país a todos os níveis eleva-se. O alto comissário do Reino Unido para o Paquistão, Wajid Shamsul Hasan, estima que serão precisos cinco anos e "mais de US$ 10 a US$ 15 bilhões" (entre cerca de 7 e 11 bilhões de euros) para que o país ultrapasse os efeitos destas cheias.

Para isso, Hasan propõe um novo Plano Marshall — semelhante ao que foi criado pelos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial para ajudar a Europa a recuperar do conflito.

As áreas mais afetadas pelas cheias continuam inacessíveis, com o fantasma de doenças mortais a pairar sobre o país. As províncias de Khyber Pakhtunkhwa (noroeste) e as de Punjab e Sindh (centro sul) são as mais afetadas.

Em Sindh, a situação é ainda mais grave, com grupos políticos rivais a trocar acusações sobre supostos vazamentos em diques e barragens para desviar as águas das cheias para outras cidades.

As previsões meteorológicas dão conta de mais chuvas torrenciais para as próximas semanas. "Todas estas pessoas precisam de assistência imediata e estamos bastante preocupados com a sua situação", confessou ontem Giuliano.

Manzoor Ahmed, residente de Sindh que conseguiu fugir com a família para Shikarpur mas que está desabrigado e não tem como providenciar comida, desabafou ao jornal paquistanês "Dawn": "Teria sido melhor que tivessemos morrido na enchente, já que a vida miserável que vivemos é muito mais dolorosa."

Da redação, com agências