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Em carta aberta à Unasul, Farc se dispõem a falar sobre conflito

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) expressaram hoje (23) à União das Nações Sul-Americanas (Unasul) sua vontade de paz e o desejo de falar diante do organismo de sua visão sobre o conflito interno do país.

“Embora o governo da Colômbia mantenha fechada a porta do diálogo com a insurgência, incitado pela ilusão de uma vitória militar e a ingerência de Washington, queremos reiterar à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) nossa irredutível vontade de buscar uma saída política ao conflito”, afirmaram as Farc.

Em uma carta aberta à entidade sul-americana, divulgada pela agência Anncol, as Farc colocaram que “a paz com justiça social e não a guerra pela guerra sempre foi o objetivo estratégico das Farc desde seu surgimento em 1964 em Marquetalia. Se as conversações de paz de Casa Verde, Caracas, Tlaxcala e Caguán não chegaram a um final feliz foi porque as oligarquias não quiseram considerar nenhuma mudança nas injustas estruturas políticas, econômicas e sociais que motivariam o fim da insurreição”.

“Senhores presidentes: quando julgarem oportuno, estamos dispostos a expor em uma assembleia da Unasul nossa visão sobre o conflito colombiano”, continuou a mensagem, assinada pelo seu secretariado, a máxima instância política e militar do grupo.

Acompanhe a seguir a íntegra da carta aberta.

Carta aberta das Farc-Ep à Unasul

Embora o governo da Colômbia mantenha fechada a porta do diálogo com a insurgência, incitado pela ilusão de uma vitória militar e a ingerência de Washington, queremos reiterar à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) nossa irredutível vontade de buscar uma saída política ao conflito.

É um fato que transbordou, há anos, o marco das fronteiras nacionais como consequência das estratégias “preventivas” impostas a Bogotá pelo governo dos Estados Unidos. Se a Colômbia hoje está ocupada militarmente por uma potência estrangeira, o é em desenvolvimento de um interesse geoestratégico, de predomínio continental e não em razão de uma guerra local contrainsurgente. Ninguém discute que a Casa Branca assume com preocupação a presença política, cada vez maior neste hemisfério, de governos que optam pelo decoro pátrio e a soberania.

Em nosso país, o Plano Colômbia, a estratégia neoliberal, violência institucional e pára-institucional agravaram a níveis inesperados o conflito, tornando muito difícil superar esta etapa de confronto fratricida sem a ajuda de países irmãos.

O drama humanitário da Colômbia clama a mobilização e solidariedade continental. A obsessão oligárquica em submeter militarmente a guerrilha há 46 anos, e a execução dos planos bélicos e repressivos de Washington custaram inumeráveis massacres, valas comuns como o da Marcarena que esconde mais de dois mil cadáveres, sendo a maior da América Latina; crimes de lesa-humanidade chamados eufemisticamente “falsos positivos”; o deslocamento forçado de cinco milhões de camponeses; desaparições de cidadãos por causas políticas; detenções arbitrárias; 30 milhões de pobres em um país de 44 milhões de habitantes.

Alguns aludem frequentemente à obsolescência da luta armada revolucionária, mas nada dizem das condições e garantias para a luta política na Colômbia. Outros localizam a ameaça na insurgência e não na estratégia neocolonial do governo dos Estados Unidos, parecendo ignorar que com a guerrilha ou sem ela, o império dará curso à sua agenda de dominação. E há também aqueles inclinados a pressionar a apenas uma das partes rivais, quase sempre a insurgência.

A paz com justiça social e não a guerra pela guerra sempre foi o objetivo estratégico das Farc desde seu surgimento em 1964 em Marquetalia. Se as conversações de paz de Casa Verde, Caracas, Tlaxcala e Caguán não chegaram a um final feliz foi porque as oligarquias não quiseram considerar nenhuma mudança nas injustas estruturas políticas, econômicas e sociais que motivariam o fim da insurreição. Hoje enfrentamos, levantando inquestionáveis bandeiras políticas, a maior maquinaria bélica que nenhuma guerrilha jamais enfrentou, mas sempre lutando pela possibilidade de uma solução política.

Senhores presidentes: quando julgarem oportuno, estamos dispostos a expor em uma assembleia da Unasul nossa visão sobre o conflito colombiano.

A paz da Colômbia é a paz do continente.

Recebam nossas saudações

Secretariado do Estado Maior Central das Farc-EP
Montanhas da Colômbia, agosto de 2010
Ano do bicentenário do grito de independência

 

Da redação, com agências