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Em Minas, Serra tenta subir na garupa das candidaturas locais

Em visita a Varginha, Minas Gerais, nesta segunda-feira (30), o candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, tentou forçar um vínculo com a política mineira pegando carona com os candidatos locais. "Eu parabenizei Anastasia ontem pelo seu crescimento. É muito bom para Minas, para o Brasil, para o partido e para mim, porque para onde forem Anastasia e Aécio, eu irei também". A declaração é uma manifestação de desejo do presidenciável tucano que tem poucas chances de se concretizar.

As mesmas pesquisas que dão fôlego aos tucanos Antonio Anastasia e Aécio Neves na disputa pelo governo estadual e Senado, respectivamente, mostram que Serra come poeira em terras mineiras e perde para a candidata do PT, Dilma Rousseff, por 28% a 47% a favor da petista. Isso explica porque Serra tenta subir na garupa de seus correligionários numa inversão pouco comum. Geralmente são os candidatos locais que tentam surfar na popularidade dos candidatos presidenciais.

"Estamos em uma batalha nacional dura e difícil, indo bem em Minas, vamos bem no Brasil. Vamos caminhar juntos, chegar juntos a vitória e vamos governar juntos. Minas Gerais é o Brasil e o Brasil é Minas Gerais", disse Serra, deixando claro que reconhece a crise que vive sua candidatura.

"Vamos juntos a essa eleição. Um mês é muito tempo, pouco tempo para a nossa energia, mas muito tempo para o povo decidir. Vamos trabalhar sem parar até o dia da eleição e ganhar na urna eleitoral, que é o que vale", disse o presidenciável. "Nossos companheiros estão indo muito bem em Minas, e nós iremos bem com eles", enfatizou o tucano.

O ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), candidato ao Senado, disse acreditar que ainda há espaço para que Serra chegue ao segundo turno da eleições. Aécio disse que acha "arriscado" comemorar resultado de eleição a partir de pesquisas de intenções de votos, que colocaram Dilma Rousseff com ampla vantagem sobre Serra.

Aécio disse que os concorrentes devem ter cautela e evitar o clima de ''já ganhou'': ''É preciso que, no plano nacional, haja um pouco de cautela daqueles que estão adiante. Porque quem define a eleição não são os institutos de pesquisas. Quem define os resultados das eleições, em última instância, são os eleitores, que podem em determinado momento manifestar certa preferência e no outro alterar essa preferência'', afirmou o candidato ao Senado, numa declaração que não vai além do óbvio e só reforça as dificuldades do presidenciável tucano, com quem Aécio travou dura batalha até o final do ano passado para ver quem seria o candidato do PSDB à Presidência. Serra acabou prevalecendo.

Aécio também defendeu uma mudança de estratégia na comunicação de Serra para conseguir reverter a vantagem de Dilma. ''Acho que o mais importante é que a sua comunicação para o país inteiro talvez seja um pouco mais ousada, apontando diferenças mais claras em relação a propostas do atual governo. Essa nunca foi uma eleição fácil para nós, mas está longe de ser uma eleição perdida'', disse.

Para Aécio, inegavelmente, houve uma transferência da popularidade do presidente Lula para Dilma, mas, segundo ele, uma boa performance em estados como São Paulo, Minas e Paraná poderá ajudar Serra a virar o jogo. Nesta segunda-feira, a campanha tucana enviou e-mails aos eleitores sob o título "vamos virar esse jogo" . Quem assinou a carta foi o deputado Indio da Costa (DEM-RJ), candidato a vice-presidente na chapa.

Disputa acirrada para o governo estadual

No âmbito estadual, Minas vive uma das batalhas eleitorais mais acirradas dos últimos anos. A disputa de 2010 entre o tucano Antônio Anastasia e o peemedebista Hélio Costa já é a eleição ao governo de Minas mais disputada em quase duas décadas no estado. Desde que o próprio Costa disputou e perdeu em 1994 para o também tucano Eduardo Azeredo, os mineiros não viam uma eleição tão equilibrada. Isso está obrigando os candidatos a um acirramento da campanha pouco comum em Minas. Nas duas últimas eleições, com Aécio Neves liderando as intenções de voto e candidaturas de oposição com pouco apelo, as campanhas tiveram poucas denúncias de repercussão. Assim como Aécio, Itamar Franco também venceu com facilidade ainda no primeiro turno, em 1998.

Nesta eleição, todavia, Hélio Costa e Anastasia têm disputado voto a voto. Se Costa esteve à frente em praticamente todas as pesquisas de intenção de votos realizadas este ano, a mais recente, realizada por Ibope/Estado/TV Globo, divulgada no sábado (28), mostrou o primeiro empate técnico entre eles, uma vez que a margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Anastasia tem 35% das intenções de voto contra 33% de Costa.

Assim, o clima esquentou desde o início da disputa. Antes mesmo do lançamento oficial das candidaturas, Hélio Costa fez duras críticas à política de salários dos professores da rede estadual – que passou mais de 40 dias em greve neste ano. Anastasia respondeu com um pedido de impugnação da candidatura de Costa denunciando a manipulação de pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Instituto Sensus, que dava ampla vantagem ao peemedebista, ainda no mês de junho. O TRE não viu sentido na denúncia e arquivou o caso.

O cientista político Ruda Ricci, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, acredita que o “estilo” Hélio Costa obriga Anastasia a fazer uma campanha mais agressiva do que se poderia esperar dele. “Hélio tem Patrus, tem o PT, tem Lula, tem Dilma e tem um nome conhecido. Já Anastasia tem Aécio e um nome menos conhecido. Assim Hélio pode ser menos agressivo e Anastasia tem que partir para o ataque se quiser provocar um segundo turno”, explica o cientista político.

Para Ruda, caso Anastasia consiga manter a linha ascendente nas pesquisas de intenção de votos e provocar o segundo turno pode ter chances reais de vitória sobre o adversário do PMDB. "Anastasia demorou muito a subir nas pesquisas, mas se vencer, mesmo no segundo turno, será uma das maiores vitórias políticas da história de Minas Gerais e até do país", exagera o cientista político.

Apesar do exagero do analista, é inegável que uma eventual vitória de Anastasia deixaria Aécio Neves na condição de líder da oposição. Só não se sabe que tipo de oposição Aécio estaria disposto a travar em relação ao governo Dilma.

Senado: direita pode ficar com as duas vagas

Se a eleição para o governo estadual é acirrada. A disputa pelas duas vagas mineiras ao Senado parece, até agora, que será um passeio para Aécio Neves. Nas últimas pesquisas, o tucano chega a 76% das intenções de voto. Toda esta ampla margem de favoritismo pode acabar elegendo também o ex-presidente Itamar Franco (PPS), que tem o voto de 41% dos eleitores mineiros, segundo a última pesquisa EM Data.

O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), aparece na terceira colocação, com distantes 24% das intenções de voto. Todos os outros candidatos somam 5% das intenções de voto.

Na pesquisa espontânea, em que não é apresentada a lista com os nomes dos candidatos, Aécio Neves continua na liderança, mas com 38% das intenções de voto – metade do índice apresentado na pesquisa estimulada. Desta vez, Itamar e Pimentel aparecem empatados tecnicamente, com 15% e 13% respectivamente. Os outros candidatos não atingiram pelo menos 0,5%. Os votos brancoS e nulos somaram 129% – como são dois votos para senador, a soma é 200%.

Na pesquisa estimulada também foi grande o número de eleitores que disseram não votar em ninguém, nulo, branco ou indeciso: 54% dos entrevistados. O número reflete o ainda grande desinteresse dos mineiros pelas eleições. Apenas 8% se disseram muito interessados na disputa, enquanto 26% estão interessados; 38%, mais ou menos, e 26%, desinteressados. Além disso, muitos ainda não sabem que terão que escolher dois candidatos este ano – que substituirão Eduardo Azeredo (PSDB) e Hélio Costa (PMDB).

“É provável que o quadro se altere mais radicalmente faltando 15 ou 20 dias para as eleições. Muitos eleitores nem sabem que terão que votar em dois candidatos”, explica Adriano Cerqueira, cientista político e diretor do EM Data. Outra questão é que a maioria das pessoas não acompanha o trabalho do Senado – e, muitas vezes, nem sabe qual é o papel de um senador. A crise vivida pela Casa no ano passado também pode contribuir para o desinteresse do eleitorado para o pleito deste ano.

Pimentel deve ser o grande derrotado

Caso não ocorra reviravoltas na disputa pelo Senado, o desfecho mais provável das eleições em Minas Gerais será: a vitória de Antonio Anastasia para o governo estadual, de Aécio e Itamar para o Senado e uma ampla vantagem de Dilma entre os eleitores mineiros. Quem corre o risco de terminar as eleições como um dos grandes derrotados nas urnas, por uma dessas ironias da política, é justamente um dos grandes amigos da candidata do PT à Presidência. O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que aparecia, no começo da campanha eleitoral, como cotadíssimo para ser um dos homens fortes de um eventual governo Dilma. Os dois têm uma ligação histórica, que remonta ao final da década de 60, quando ambos foram militantes do Colina, grupo da luta armada contra a ditadura militar.

E a eventual derrota de Pimentel deverá ser colocada em sua própria conta, já que o petista ensaiou aproximações com o tucanato mineiro em troca de apoio eleitoral e agora vê-se tratorado por aqueles que um dia lhe prometeram ajuda.

Muitos petistas mineiros avaliam que o grande erro de Pimentel pode ter sido ter confiado em demasia na relação construída com o tucano Aécio Neves, quando um era prefeito de Belo Horizonte e o outro governava Minas Gerais e ambos propagavam um discurso de união de PT e PSDB e de superação das rivalidades entre os dois partidos. Em nome da conciliação de petistas e tucanos, Pimentel fez o PT abrir mão, em 2008, de uma candidatura própria à prefeitura de Belo Horizonte e abraçar a candidatura de Márcio Lacerda, o atual prefeito, filiado ao PSB e ex-secretário de Aécio. Com esse gesto, Pimentel angariou a antipatia de uma larga fatia do PT mineiro, que o acusa de entregar de mão beijada a prefeitura para adversários históricos.

Ao se lançar candidato ao Senado, Pimentel estava esperando, talvez, um gesto de retribuição de Aécio – como um acordo branco que facilitasse a sua eleição para uma das duas vagas em disputa. O gesto não veio. Pelo contrário, é cada vez mais forte a pressão de Aécio para carregar Itamar junto com ele para o Senado.

Uma derrota na eleição para o Senado poderá minar a influência de Pimentel em um governo de Dilma, a despeito da amizade que os une. Eleito senador, Pimentel poderia mais facilmente assumir um ministério de primeira linha. Derrotado, sua nomeação será vista como uma compensação política, e o mais provável será um cargo de escalão médio.

Da redação,
Cláudio Gonzalez, com agências