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Ajuste fiscal no Brasil hoje seria um crime, afirma Dilma

A candidata à Presidência da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, Dilma Rousseff, rechaçou a ideia de que o Brasil necessita de um ajuste fiscal para sanear as contas do governo e assegurar condições para um crescimento equilibrado no futuro, defendida por alguns expoentes da direita neoliberal.

Por Umberto Martins

“Defender ajuste fiscal como já foi praticado no Brasil é um crime”, sustentou Dilma durante a entrevista que concedeu na noite de segunda-feira (30) ao hostil Jornal da Globo. Os jornalistas Willian Waack e Christiane Pelajo mais pareciam inquisidores do que repórteres. As perguntas destilaram as críticas e os preconceitos das forças conservadoras e reacionárias contra o governo Lula, passaram ao largo do programa de governo.

Consenso?

Queriam encurralar a candidata, com alusões aos “escândalos petistas”, aos “presos de consciência” de Cuba, que Lula "considerou como presos comuns", às "relações" entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Partido dos Trabalhadores (PT), aos supostos dossiês contra políticos tucanos, ao déficit em conta corrente e aos gastos públicos. Mas o tiro saiu pela culatra.

Willian Waack disse que já se formou um “consenso” entre os economistas brasileiros de que é indispensável promover um “severo ajuste fiscal” para que o Brasil mantenha um crescimento equilibrado e sustentado no futuro e indagou à presidenciável se também comungava com tal “consenso”. Dilma, que é economista, foi didática ao rebater os argumentos de Waack e mostrar que tal receita seria lesiva aos interesses nacionais e equiparável a um “crime”.

“Ajuste fiscal”, explicou a ex-ministra da Casa Civil, “é regime de caixa, que se caracteriza pelo corte dos gastos e aumento dos impostos”. Significa “reduzir o salário mínimo, arrochar salários [principalmente do funcionalismo]” e outras despesas, incluindo investimentos. Teríamos por resultado uma queda do consumo e da taxa de crescimento, o enfraquecimento do mercado interno e a elevação do nível de desemprego.

Receita recessiva

A evolução das contas públicas e a estabilidade monetária indicam que a economia nacional não carece do ajuste que, segundo o âncora da Globo, é “consenso” entre os economistas. Isto, conforme sugere a própria resposta dada por Dilma, não corresponde à verdade. Trata-se, se tanto, de um consenso da direita neoliberal, que se revela, neste e noutros temas, inimiga do desenvolvimento nacional.

“Primeiro”, ponderou a candidata, é preciso considerar que “a inflação está sob controle, visivelmente” e as reservas acumuladas no Banco Central somam 260 bilhões de dólares. “Segundo”, prosseguiu, “a relação dívida/PIB [que ultrapassou 50% durante o governo FHC] está caindo inquestionavelmente, está em 41%, tendo registrado um breve crescimento em 2009 em função da crise mundial”.

A arrecadação cresce, acompanhando o bom desempenho da economia, e as contas públicas são fechadas com superávit primário. “O pessoal que está defendendo ajuste fiscal está errado, temos de defender o crescimento”, destacou Dilma.

O Brasil não precisa disto

A realidade brasileira, neste aspecto, contrasta com a situação dos Estados Unidos, Japão e União Europeia, onde déficits e dívidas públicas explodiram depois que os respectivos Estados, capitalistas, despejaram trilhões de dólares no sistema financeiro para resgatar bancos e banqueiros da falência. Logo depois apresentaram a conta à classe trabalhadora.

O ajuste fiscal defendido pela direita neoliberal é do mesmo tipo que está sendo imposto a países como Grécia, Portugal e Espanha pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a cúpula da União Europeia. A receita, que também já foi aplicada por aqui no passado, consiste em reduzir direitos de aposentados e pensionistas, flexibilizar a legislação trabalhista, suprimir conquistas trabalhistas, demitir e arrochar salários. Os trabalhadores estão em pé de guerra e convocaram uma manifestação classista unitária em toda a Europa para 29 de setembro.

Dilma foi taxativa ao afirmar que “o Brasil não precisa disto mais” e classificar de “crime”, contra os interesses nacionais, o suposto “consenso dos economistas”, referido como verdade global por Willian Waack, por sinal um notório anticomunista. O tema vem sendo requentado na campanha eleitoral com o propósito de atemorizar o eleitorado, sugerindo que o provável governo Dilma prepara um pacote de maldades contra o povo brasileiro, que seria implementado logo após a posse.

Terrorismo global

Estão fazendo o mesmo terrorismo com a Previdência, cuja reforma (com um sentido reacionário, de redução de direitos) também estaria no topo da agenda da presidenciável, que não debate publicamente a proposta porque seria impopular, conforme insinua a manchete de capa o jornal O globo desta 3ª feira (intitulada “Previdência: Planalto teme prejuízo eleitoral com debate”). Jornal??? O impresso diário da família Marinho é um pasquim mal disfarçado da campanha do tucano Serra, que prossegue de vento em popa na direção da derrota.

O homem, que agora se apresenta como Zé, não cairá sozinho. Talvez possa se consolar com a mídia hegemônica, que se arvora em dona da verdade, mas está longe de refletir a vontade popular e (tudo indica) vai amargar uma nova e contundente rejeição em 3 de outunbro. A verdade das urnas é outra.