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Ángel Guerra Cabrera: O Irã e a luta de Fidel pela paz

Os preparativos para o ataque ao Irã continuam sem pausa, a julgar pelo comportamento da matilha midiática – o exército do império para a guerra psicológica. O que ocorre deixa uma inquietante sensação de déjà vu, por sua semelhança com o clima midiático fabricado antes do ataque ao Iraque, com a fábula das armas de destruição em massa.

Por Ángel Guerra Cabrera, em Cuba Debate

Um exemplo disso é que, na semana passada, Israel rejeitou dramaticamente a sugestão da Organização Internacional de Energia Atômica OIEA) de apresentar à inspeção internacional seu programa nuclear e se juntar ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o qual se recusou a assinar durante décadas.

A notícia passou quase despercebida na mídia corporativa, muito menos foi publicada em nenhum deles algum artigo de censura a esta atitude arrogante – em franco desprezo pelo direito internacional -, tampouco (um texto) que expressasse preocupação pela ameaça terrível para a sobrevivência da humanidade que representam as 400 bombas nucleares que se estimam em posse do Estado hebreu.

A gestão com Israel foi conduzida pelo japonês Yukiya Amano, diretor da OIEA, que foi forçado a fazê-la pela encomenda que recebeu da maioria dos Estados-Membros, incluindo os árabes, mas, com certeza, a realizou sem o menor entusiasmo, já que esta não era – algo que Israel sabe muito bem – do interesse dos Estados Unidos e seus aliados.

Em vez disso, o relatório da OIEA sobre o programa nuclear do Irã – este sim um membro muito inspecionado do organismo e signatário do TNPN -, filtrado por algumas agências de notícias, nesta segunda (6), foi amplamente noticiado, com viés belicoso e furiosamente anti-iraniano nos já cidatos meios. E deu origem a muitos comentários que sugerem ou asseguram ter chegado o momento da opção militar contra o país persa, como publicado quarta-feira (8) na edição online do The Wall Street Journal, cujos estreitos laços com o complexo militar-industrial, o capital financeiro e o lobby sionista são bem conhecidos.

Tal como acontece com o Iraque, o relatório afirma que o Irã tem uma quantidade de urânio processado suficiente para produzir duas bombas nucleares, se o depurar. O mesmo, deve-se esclarecer, acontece em qualquer país que processe urânio para fins pacíficos, e o próprio relatório diz que não há provas de que o programa iraniano tenha fins militares.

O vazamento do relatório neste momento não é acidental. A resolução 1929 do Conselho de Segurança (CS) da ONU afirma que, dentro de 90 dias após a sua aprovação (09/06), o diretor-geral da OIEA deve apresentar um relatório sobre o programa nuclear iraniano à Junta de Governadores do organismo (que, segundo seu site, se reúne na próxima semana) e, paralelamente, ao CS, para determinar se Teerã está cumprindo com as quatro resoluções decretadas desde 2006, incluindo a de número 1929.

Se o relatório indicar que o Irã não cumpriu, o CS vai adotar "novas medidas adequadas para persuadir o Irã a respeitar as disposições." Não é necessário ser sábio para perceber o que quer dizer "outras medidas adequadas." Na verdade, todos os que votaram por este instrumento se puseram inconsciente e irresponsavelmente entre a espada e a parede.

Quem percebeu imediatamente e o explicou de forma muito simples foi Fidel Castro, ao afirmar que o Irã não é o Iraque, que a nação persa não vai permitir a inspeção dos seus navios e a rejeitará pela força, assim como resistirá enfurecidamente a um ataque, possibilidade subestimada, assim como sua capacidade de fazer danos nos atacantes.

Esta realidade, que os Estados Unidos e Israel – e as outras potências nucleares que votaram a favor da resolução – não puderam calcular a seu momento é que levará, inevitavelmente, a uma guerra nuclear por cima da vontade dos que tomam as decisões, incluindo Barak Obama, se tentarem implementar a resolução com as armas.

Assim, a batalha de Fidel se concentra em deixar o mundo consciente de que estamos em uma situação inédita, cujo desenvolvimento é necessário frear, pois, caso estoure um guerra, sua dinâmica impedirá que, como em outros conflitos, os líderes possam evitar que se acione o gatilho nuclear, como puderam fazer com muito tino Kennedy e Khrushchev, durante a crise dos mísseis cubanos.

Uma guerra nuclear de magnitude e conseqüências imprevisíveis, em nada menos que às portas da Índia, Paquistão, Rússia e China, todas potências atômicas.