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A guerra contra o Irã: Outono de 2011

Em 7 de Junho de 1981 aviões de Israel bombardearam e destruíram o reator nuclear iraquiano de Osirak. Diz-se que esse fato deteve para sempre o desenvolvimento de um programa de construção de armas nucleares por parte de Bagdá. Em 2007, bombardeou um reator norte-coreano na Síria. E agora essa é a opção que volta a ser considerada por Israel para deter o suposto projeto de Teerã para se dotar da arma nuclear.

Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa

A data? Quase para o trigésimo aniversário do ataque ao reator de Osirak. Para maior segurança, na primavera (outono, no hemisfério sul) de 2011.

Parece uma data longínqua, sobretudo à luz dos urgentes problemas atuais: uma crise que resiste a converter-se em recuperação, secas, incêndios e inundações que parecem gritar mudança climática em cada torvelinho.

No entanto, o tempo passa rápido. Para os falcões em Israel, a carga do reator de Bushehr há uma semana e o ritmo de produção nas centrifugadoras de Natanz são os sinais que contam.

A influente revista The Atlantic publica este setembro um artigo de Jeffrey Goldberg sobre as perspetivas de um ataque israelense contra o Irã [1]. Goldberg é um bem conhecido porta-voz de grupos vinculados com posições intervencionistas no Oriente Médio. Desta vez entrevistou mais de quarenta altos funcionários israelenses e conclui que existe uma alta probabilidade de um ataque contra as instalações nucleares do Irã.

O artigo é parte de uma campanha para levar a cabo dito ataque. A conclusão central é que antes de junho de 2011, Benjamin Netanyahu poderia lançar os seus aviões contra as instalações nucleares do Irã. A ofensiva pode ser levada a cabo com um arsenal variado, incluindo ogivas nucleares para destruir estruturas enterradas a grande profundidade.

A política opaca que o governo de Israel mantém em relação ao seu arsenal nuclear (estimado em 200 ogivas nucleares) não permite assegurar nada sobre esta eventualidade. O ataque incluiria várias dezenas de alvos nucleares. Ocorre-me que outro cenário é o de um ataque seletivo com mísseis a partir de Israel ou com o seu arsenal de mísseis de cruzeiro de alta precisão, disparados a partir dos seus submarinos no Golfo Pérsico.

Obama comprometeu-se na sua campanha a procurar um diálogo direto com Teerã para deter o seu programa nuclear militar. Mas o enfoque diplomático foi inconsistente. Em lugar de enviar a Teerã uma mensagem clara de que os Estados Unidos já não estão obcecados com a velha ideia de uma mudança de regime, Hillary Clinton transmitiu os sinais errados.

A sua bravata mostrou a Teerã que pouco tinha mudado com Obama. Sobre a mesa de negociações permanecia não só a obsessão da mudança de regime, mas a ameaça do emprego da força para o conseguir. Para Teerã, o único caminho é tornar proibitivo o preço de um ataque, seja de Israel ou dos Estados Unidos. O seu plano nuclear é um instrumento para consegui-lo.

Entabular um diálogo com Teerã implicava uma transformação profunda na relação entre os Estados Unidos e Israel. A realidade é que o poder do lóbi judeu em Washington faz pensar desde há anos na síndrome de que a cauda move o cão e não ao contrário.

Em lugar de Israel obedecer a ordens de Washington, esta última é quem acaba por seguir e apoiar as iniciativas de Telavive. De tal modo que se Washington desejasse interromper o apoio do Irã ao Hezbolá, por exemplo, tinha que começar com reformular as suas relações com Israel e deter a sua política de expansão e genocídio em Gaza e na margem ocidental do rio Jordão. Obama nem sequer quis explorar esta via.

Tudo indica que o tempo se esgota. Washington pressiona agora aplicando sanções mais severas sobre Teerã. Servirão de muito pouco, mas o seu cálculo é que, se dobrar Ahmadinejad, o mundo estará a poupar uma nova guerra.

Por sua vez, Teerã acelera o ritmo de produção de urânio enriquecido e abraça o apoio russo para tornar mais difícil um ataque às suas instalações nucleares.

Já tem colocados centenas de mísseis terra-ar proporcionados pela Rússia, de grande alcance e velocidade, pelo que não é seguro que um ataque atinja todos os seus objetivos.

O que é seguro é que dita aventura terá efeitos desastrosos à escala global. As guerras no Afeganistão e no Iraque, para não mencionar o Paquistão (se é que sobrevive às inundações destas semanas), intensificar-se-ão e fundir-se-ão numa grande zona de atividade bélica.

Todo o Oriente Médio será envolvido em chamas. O Irã poderia responder com ataques de mísseis balísticos a Israel, o que provocaria uma enxurrada de mísseis israelenses.

Teerã provavelmente teria sucesso em bloquear o estreito de Ormuz, interrompendo o fluxo de petróleo, sacudindo o mercado mundial e agravando a crise econômica mundial. Sem dúvida o preço a pagar por um ataque ao Irã é muito elevado. Mas para o complexo industrial e militar em Israel (e Washington), esse custo já foi descontado pelo mercado da guerra.

[1] Jeffrey Goldberg, The Point of No Return, The Atlantic, setembro de 2010.