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Niko Schvarz: Uma infâmia contra Piedad Córdoba

A Procuradoria-Geral da Colômbia, a cargo de Alejandro Ordóñez, acaba de destituir a senadora Piedad Córdoba e desabilitá-la politicamente por 18 anos do exercício de suas funções públicas. É uma canalhada de marca maior.

Por Niko Schvarz

A senadora, que foi reeleita em março, é uma ativa lutadora pela paz, do diálogo e do intercâmbio humanitária na Colômbia, preside a benemérita organização Colombianas e Colombianos pela Paz e, além disso, acaba de ser nomeada presidente da Comissão da Paz do Congresso Colombiano.

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Desde já será interposto um recurso para deixar em suspenso e, posteriormente, sem efeito a medida que, desde o primeiro dia, despertou uma onda de solidariedade em seu país e na América, com esta figura emblemática.

Com efeito: ao longo destes anos, temos Piedad Córdoba na vanguarda dos processos que acompanharam as liberações unilaterais decididas pelas Farc e em todos os esforços a favor da paz. A tal ponto que, em meados de 2007, o presidente Uribe a designou (juntamente com o presidente venezuelano, Hugo Chávez) para facilitar a troca humanitária de reféns das Farc por guerrilheiros presos. Agora pretendem acusá-la por ter se reunido com Raúl Reyes, o líder guerrilheiro morto em 01 de março de 2008 em território equetoriano.

Já se sabe que, dos computadores de Raúl Reyes – que, milagrosamente, resistiram a um bombardeio concentrado (embora não tão grande quanto o que custou a vida de Mono Jojoy, no qual foram utilizados fósforo branco e toneladas de explosivos) – se pode extrair qualquer elemento, a gosto dos serviços de inteligência. É o que está sendo feito neste caso. E começam a pensar sobre o que introduzir nos computadores do último chefe das Farc ultimado.

Há também um mesquinho propósito de vingança. A senadora acusou o próprio procurador de prevaricação, e este se encontra seriamente questionado por suas atuações contra os direitos das mulheres, pelas operações ilegais dos serviços de espionagem do DAS (das quais a cada dia aparecem mais provas, e que se vinculam diretamente à Presidência) e pela absolvição, que indeferiu provas válidas no caso da "Yidis Política" (compra de votos de parlamentares para a reeleição de Uribe). Por este último caso, o procurador está sendo investigado pela Suprema Corte de Justiça.

Em um comunicado que é exemplo de dignidade, a senadora diz: "a investigação disciplinar conduzida pelo sr. procurador não tem respaldo probatório, mérito jurídico algum e, menos ainda, valor moral e ético. E quem, temerariamente, me acusa e me sanciona se encontra seriamente questionado em suas atuações". E segue uma extensa lista de faltas que o afetam.
Agrega: "esta atuação, contrária ao razoável, é uma mostra a mais da perseguição política que foi conduzida contra mim nos últimos 12 anos, que implicou em grandes lesões a minha integridade pessoal e familiar, como meu sequestro, posterior exílio com meus filhos e filha, atentados contra minha vida, operações ilegais de interceptação e perseguição de público conhecimento (a mando do DAS), as quais deveriam ser a preocupação real da Procuradoria". E conclui que a sanção "não modificará meus princípios éticos, valores e ações em busca da paz e da justiça social"

Em uma das expressões de solidariedade são formuladas estas incisivas perguntas: Quem desabilitará os responsáveis pela fossa da La Macarena? Quem é responsável por esses dois mil mortos? A quem interessa tirar do jogo a senadora? Nestes dias, sete membros do Batalhão La Popa em Valledupar foram responsabilizados por um promotor da Unidade Nacional de Direitos Humanos e DIH pelo assassinato a sangue frio, com premeditação, de um humilde camponês (um caso típico de "falso positivo") e condenados a 34 anos de prisão. Quantos milhares de casos deste tipo, realizados pelo exército e por grupos paramilitares, continuam impunes?

Em uma carta enviada de Manchester, onde participa da conferência anual do Partido Trabalhista, o diretor do periódico Voz, Carlos Lozano, rechaça "a nova infâmia do procurador Alejandro Ordóñez" e afirma que "o grande absolvedor dos corruptos uribistas quer cobrar seu firme compromisso e luta permanente por saídas humanitárias, políticas e pacíficas do conflito colombiano".

Muito significativa é a mensagem do parlamentar indígena, Hernando Hernández Tabasco, que enfatiza que Piedad Córdoba se preocupou com a vida dos soldados, policiais e políticos sequestrados e condenados ao esquecimento pelo governo. E se pergunta qual deveria ser a sanção a Uribe por entregar sete bases militares aos EUA.

Sem dúvida, este caso não pode ficar assim.