Renato Rabelo: É agora com a democracia que o PCdoB pode crescer

Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, faz uma análise do atual cenário político, um balanço dos projetos eleitorais do PCdoB e aposta no crescimento do partido com as eleições. Confira na íntegra:

Vermelho: Como você avalia o cenário político no contexto dessas eleições? E o PCdoB como se insere nisso?

Renato RabeloNa nova conjuntura política, as forças que surgem com o ciclo aberto por Lula vão se firmando em alguns estados. Você pega o exemplo de Pernambuco com Eduardo Campos, e da Bahia com Jaques Wagner. Na Bahia, ocorreu a derrota de uma oligarquia tradicional e, a partir daí, essa liderança nova vai se consolidando e, ao que tudo indica, Jaques Wagner pode até ganhar a eleição em primeiro turno como em 2006. Em função disso, essa realidade também vai projetando uma série de novas lideranças políticas, que atuam no sentido progressista, democrático, popular e levam a uma situação muita favorável para o nosso partido. O PCdoB não pode crescer nem vicejar em condições de obscurantismo, de ditadura; mas, quando há democracia e a democratização cresce. 

Vermelho: Ao contrário da Bahia, o Maranhão convive com a predominância da oligarquia Sarney, inclusive com Roseana liderando a disputa ao governo. Seria viável um palanque duplo com Dilma no estado, em se confirmando Flávio Dino no 2º turno?

RR: Em toda base política, para o novo surgir e crescer, sempre surge entranhado com o velho. A história política brasileira mostra bem isso. É importante compreender que essa parte que integra o passado, quando ainda persiste, consiste já subalterna ou dominada pelo novo. Na Bahia, há exemplo de gente que fazia parte desse passado e que, de certa forma, ainda está por aí, mas sobre a dominância do novo. No caso do Maranhão, o novo ainda não conseguiu vicejar. Os políticos tradicionais ainda têm um papel muito grande porque, nessa hora, eles sabem como sobreviver e procuram se aliar à força política em ascensão, que é o que faz a família Sarney; se vincula a Lula, a Dilma e, por ter influência no PMDB, fizeram um acordo com o presidente. Hoje, há um apoio explícito à candidatura de Roseana, e essa força, que pretende surgir no estado, tem que enfrentar essa relação desigual. O Jackson Lago, que foi uma tentativa de renovação, também não deu certo e criou-se uma situação inviável com essas duas tendências políticas tendo, necessariamente, que surgir uma terceira alternativa. O Flávio Dino vai ocupando esse lugar; é uma espécie de receptáculo de toda tendência renovadora que cresce no Maranhão. As últimas pesquisas indicam grande possibilidade dele ultrapassar Lago, e essa semana vai ser importante para decidir. 

Vermelho: Justamente por ele ter chances reais de ir ao 2º turno, quais as perspectivas do PCdoB quanto a um apoio de Dilma em palanque duplo?

RREu acho que a participação de Dilma nos dois palanques existiria, porque seriam duas candidaturas importantes apoiando ela. Ela tinha que, exatamente, se pronunciar em torno das duas. Aliás, esse é um acordo feito no Conselho Político, em que nós participamos, e ela já deveria ter apoiado Flávio Dino. Agora, o PCdoB não é um partido que fica atrás de ninguém nem bajulando ninguém. Define a oposição: nós colocamos na mesa a exigência do apoio, agora depende da iniciativa deles.

Vermelho: O PCdoB está com boas chances de eleger Netinho, em São Paulo, Vanessa Grazziotin, no Amazonas, e Edvaldo Magalhães, no Acre. Para um partido que conta com apenas um senador, mas que marca a história do Brasil com sua trajetória, essa possibilidade real de ampliação traz que tipo de repercussão?

RR: O PCdoB só elegeu um senador há mais de 60 anos, que foi Luiz Carlos Prestes e, recentemente, Inácio Arruda. Essa eleição propicia condições para que a gente possa formar uma bancada, que são no mínimo três senadores, mesmo que a gente só eleja dois. Então, isso é um fato inédito na história do partido e uma demonstração importante da sua crescente influência e de lideranças com maior prestígio popular. Imagine uma liderança popular como Netinho de Paula, com origem na periferia, um negro que percorre essa trajetória, eleito vereador, com a ascensão que ele conseguiu também na área artística e cultural, representar São Paulo no Senado Federal?! Isso é um fato inédito. Por isso mesmo, há uma reação muito grande da elite paulista, que se junta com a extrema esquerda contra Netinho; os extremos unidos para barrar a vitória de uma liderança popular. E, para o PCdoB, a eleição dele tem um significado político muito grande, histórico e atual: mostra, exatamente, esse novo Brasil que vai sendo construído, com essas novas lideranças. Isso foi conduzido por Lula, que é a liderança popular típica, e foi o destampar de uma realidade política e social nova para o país que, às vezes, as pessoas não têm dimensão.

Vermelho: Com relação à Câmara Federal,, você já declarou que a meta do partido é eleger em torno de 20 deputados. Os três candidatos da Bahia aparecem bem nas pesquisas. Qual o real peso disso dentro do cenário nacional?

RR: A Bahia, e outros estados com chances de eleger três deputados federais, contribuirá de forma bastante significativa com o nosso objetivo, porque há a possibilidade real de eleger três deputados federais, que é um avanço para um partido que elegia um deputado aqui e acolá. Nós temos possibilidades também de eleger três no Rio e em São Paulo e iríamos a, pelo menos, 16 federais, o que nos leva a outro patamar, com possibilidades de ter um Fundo Partidário maior, ter mais tempo de rádio e televisão, porque na eleição passada elegemos 13 e nunca passamos disso. Mas podemos ir adiante e, se fosse uma campanha mais por igual na disputa, a gente faria bem mais que 20 deputados. Diz-se que as regras e a nova legislação são para coibir o poder econômico, diminuir o custo das campanhas e, pelo contrário, o que tem acontecido é que o poder econômico ainda tem um peso muito grande e as campanhas se tornaram mais caras. Para nós, acaba sendo difícil, o esforço é redobrado, porque o PCdoB é um partido que luta por programas, projetos e idéias; não está atrás de fazer acordo pragmático em função de interesses próprios. O nosso objetivo é ter uma participação política mais ampla em todo o eleitorado nacional, por isso que o partido tem mostrado mais candidatos majoritários.

Vermelho: Na sua opinião quais as iniciativas prioritárias para consolidar o projeto político para o Brasil, defendido pelo PCdoB? 

RR: A responsabilidade do PCdoB cresce muito. Como eu disse, é agora com a democracia que um partido comunista pode crescer. E é uma fase atual que a gente tem que avançar mais para consolidar as conquistas, porque às vezes as pessoas não têm dimensão dessa realidade política que está surgindo no Brasil. Às vezes, surge mesclado ainda com o velho e as pessoas não entendem isso, acham que o novo já surge puro, decantado. A revolução do processo político social não é assim. Então, o importante é a dominância desse novo com as novas idéias, os novos projetos, os novos objetivos que levam em conta o progresso social, a democratização da sociedade, conquistas populares maiores. Tudo isso é um passo importante para a construção de uma grande nação; uma nação moderna, solidária, que é isso que a gente persegue.

De Salvador,
Camila Jasmin