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PIB grego vai cair pelo terceiro ano e FMI impõe mais arrocho

O Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia deve encolher em 2010 pelo terceiro ano consecutivo e o desemprego disparou para 11,8% no segundo trimestre. Em tal contexto, os economistas heterodoxos, os sindicatos e as forças progressistas cobram medidas anticíclicas do Estado para reanimar a economia e interromper as demissões. Todavia, sob pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo social-democrata liderado por George Papandreou, promete mais arrocho fiscal.

O governo grego propôs mais austeridade no esboço do orçamento para 2011 enquanto tenta reduzir ainda mais o déficit público para atender às condições estabelecidas pelo FMI e a União Europeia (UE) no “socorro” bilionário bolado com o propósito de livrar a cara e os lucros dos bancos internacionais, sobretudo franceses e alemães, os que mais emprestaram ao país, conforme denunciou o ex-governador do banco central da Alemanha (Bundesbank), Karl Otto Pöhl.

Salvando os bancos

“Pode-se ver realmente do que se trata, nomeadamente de resgatar os bancos credores e os gregos ricos”, observou o economista em entrevista à revista Der Spiegel sobre as medidas impostas à Grécia pelo FMI e UE.

O governo pretende reduzir o déficit público para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim deste ano, ante a meta de 7,6% estabelecida nos termos do pacote de socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a cúpula da União Europeia.

O ministro das Finanças, George Papaconstantinou, comprometeu-se a não impor reduções salariais adicionais aos funcionários públicos no orçamento. Entretanto, novos arrochos devem surgir, já que o governo pretende dar continuidade aos esforços para enxugar o déficit, que chegou perto dos 14% do PIB no ano passado.

Novos cortes

De acordo com o orçamento apresentado ao Parlamento, o governo prevê que terá que reduzir o déficit em suas contas para 7,8% do PIB até o final deste ano, ante meta de 8,1% que fazia parte das condições para a Grécia receber a ajuda internacional.

Papandreou faz o contrário do que fazem os países mais ricos para debelar a recessão e amenizar a crise do desemprego, ou seja, aumento dos gastos públicos e, consequentemente, do déficit e da dívida. Foi também o que o governo Lula fez, com inegável sucesso, no Brasil em 2009 para contornar a crise e estimular a recuperação econômica.

Moratória

A receita do FMI é oposta e não tem o objetivo de criar emprego ou desenvolver o país, pelo contrário, visa economizar dinheiro para garantir o pagamento da dívida externa e impedir o caminho da moratória que, para os gregos, seria mais eficiente e menos doloroso, apesar de contrariar os interesses do capital financeiro. Na época da ditadura e, mais tarde, com o governo FHC, o Brasil passou por constrangimentos semelhantes e sacrificou mais de duas décadas de desenvolvimento.

No segundo semestre deste ano, o PIB grego contraiu 3,7% em relação ao ano passado. Em relação aos três meses anteriores, a queda foi de 1,8%. O consumo privado no segundo trimestre caiu 4,2%, invertendo a tendência observada entre janeiro e março, quando a despesa das famílias cresceu em 1,5%.

Três anos de recessão

O arrocho recai basicamente sobre os assalariados. As receitas dos trabalhadores caíram 3,9% em relação ao primeiro trimestre de 2009. Setores importantes da economia grega, como hotelaria, transporte e comunicações, registraram quedas de 10,8%. A construção civil diminuiu 19% e a indústria se contraiu 6,6%.

Neste ano a expectativa geral é de que o PIB caia mais uma vez. Será a terceira queda consecutiva. O nível de desemprego não para de crescer e a revolta da classe trabalhadora é notável. Cerca de oito greves gerais foram realizadas no país ao longo de 2010, mas Papandreou capitulou ao FMI e continua indiferente às demandas trabalhistas. A classe trabalhadora e o movimento sindical terão de redobrar as pressões para “sensibilizar” o governo social-democrata e barrar o retrocesso.

Da redação, Umberto Martins, com agências